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Guia supremo reafirma linha dura ante protestos

O guia supremo do Irão, o aiatolá Ali Khamenei, declarou nesta quarta-feira que o governo não cederá às manifestações contra a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad, em um momento de crescente tensão com os países ocidentais que condenaram a repressão dos protestos.

“Nos recentes incidentes que envolvem a eleição, eu venho insistindo na aplicação da lei e continuarei insistindo. Nem o sistema, nem o povo vão ceder pela força”, declarou o aiatolá Khamenei. Desde a reeleição do presidente Ahmadinejad em 12 de junho, o Irão é cenário de uma onda de manifestações de protesto sem precedentes desde a revolução de 1979, que deixaram pelo menos 17 mortos, de 100 feridos e centenas de presos.

Khamenei, maior autoridade da República Islâmica, já havia defendido semana passada a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad e exigido o fim dos protestos, liderados pelo candidato reformista e ex-primeiro-ministro Mir Hossein Moussavi.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Manuchehr Mottaki, declarou que Teerão cogita reduzir o nível das relações com a Grã-Bretanha, acusada de interferência na crise política. O governo britânico anunciou na terça-feira a expulsão de dois diplomatas iranianos, em represália por uma medida similar contra dois membros da representação de Londres em Teerão.

O ministro iraniano do Interior, Sadegh Masuli, acusou nesta quarta-feira os Estados Unidos de interferir nos assuntos internos do país e afirmou que os “agitadores” que protestam contra a reeleição de Ahmadinejad receberam dinheiro da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos e da oposição no exílio.

“Vários agitadores têm vínculos com os Estados Unidos, a CIA e os Monafeghin (como são chamados os Mujahedines do Povo, principal grupo da oposição armada iraniana) e receberam ajuda financeira destes”, declarou Mahsuli.

O presidente americano, Barack Obama, condenou na terça-feira a violenta repressão dos protestos e afirmou que a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad levanta sérias dúvidas. No plano interno, as autoridades mantêm uma forte pressão.

Vinte e cinco jornalistas e funcionários do jornal Kalemeh Sabz, criado por Moussavi para sua campanha e proibido um dia depois da eleição, foram presos no início da semana. “Há cinco ou seis funcionários administrativos e os demais são jornalistas. Foram detidos na segunda-feira”, afirmou Alireza Beheshti, que trabalha na redação do jornal. “Os agentes que vieram ao jornal não apresentaram nenhuma ordem”, completou. Beheshti informou ainda que entre os detentos estavam cinco mulheres, que foram colocadas em liberdade na terça-feira à noite.

A polícia informou uma operação na sede de campanha de um dos candidatos, que segundo as autoridades servia para “organizar as recentes manifestações e distúrbios (…), assim como ações contra a segurança nacional”. Zahra Rahnavard, esposa de Moussavi, pediu a libertação das pessoas detidas nos últimos dias.

“Lamento que uma grande quantidade de membros da elite política e de pessoas tenham sido detidas e peço sua libertação”, declarou Rahnavard. “Não fui detida. Continuo meu trabalho na universidade, mas ao mesmo tempo, ao lado do povo, protesto contra os resultados oficiais da eleição”. “O nacionalismo e o sangue dos mártires exige que esteja presente, sem deixar de protestar contra o resultado das eleições, e que defenda dentro da lei o direito do povo”, completou.

Os últimos protestos no país aconteceram na segunda-feira. Outro candidato à presidência, o conservador Mohsen Rezaie, ex-chefe da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do regime, decidiu retirar sua denúncia por irregularidades, em um duro golpe para a estratégia da oposição. Rezai justifica, em uma carta ao Conselho dos Guardiães, a decisão pelo fato da “situação política, de segurança e social do país ter entrado em uma fase sensível e determinante, que é mais importante que as eleições”.

O candidato criticou ainda o pouco tempo para análise das queixas, apesar de na terça-feira o Conselho dos Guardiães da Constituição ter anunciado que havia conseguido com o guia supremo do país um prazo adicional de cinco dias, que termina na próxima segunda-feira, apara anunciar sua decisão.

Além disso, o governo do Irão decidiu não participar na reunião de chanceleres do G8 que começa quinta-feira em Trieste (Itália) para discutir a estabilização do Afeganistão, mas que sem dúvidas abordará a situação na República Islâmica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou na terça-feira considerar difícil a existência de fraude no Irã, pela diferença de votos (63% para Ahmadinejad e 34% para Moussavi), mas se mostrou preocupado com o fato que “inocentes estão morrendo, o que é lamentável e inaceitável para qualquer democrata do mundo”.

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