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Guebuza e Pacheco “gazetam” encontro com camponeses em Maputo

Num país onde mais a maioria da população depende da agricultura, o Chefe de Estado e o seu Ministro da Agricultura, que depois de apregoarem a revolução que ainda não ficou verde e numa altura em que se preparam para vender as terras aráveis moçambicanas a estrangeiros, “gazetaram” nesta terça-feira a Conferência Internacional sobre Terra e Semente juntou, em Maputo, camponeses e camponesas de todas as províncias de Moçambique, membros da sociedade civil, convidados e parceiros de países como Angola, África do Sul, Zimbabwe, Brasil, Suécia e Suíça.

O Presidente da República, Armando Guebuza, convidado para efectuar a abertura oficial da conferência da conferência internacional de dois, e o ministro da Agricultura, José Pacheco, que deveria apresentar “O Vectores de Política Agrária Moçambicana para o Desenvolvimento da Agricultura Camponesa” e áreas afins, mas não se dignaram a comparecer.

O director nacional da Economia Agrária, Raimundo Matule, foi o mais alto representante do Governo moçambicano a comparecer em parte na Conferência que entretanto abandonou, após realizar a sua apresentação nem sequer permaneceu para o debate, no qual deveria responder a algumas inquietações dos camponeses, alegadamente por motivos de agenda.

O presidente da União Nacional dos Camponeses (UNAC), Augusto Mafigo, considera que a falta de comparência do Governo ao mais alto nível revela que este não está interessado em debater os problemas dos camponeses. “Deviam participar de modo a ouvir, discutir connosco as nossas inquietações e tentar apaziguar a situação dos camponeses. A preocupação do Governo devia ser a busca de soluções dos problemas e se não aparece mostra que não representa os nossos interesses”,  disse.

O agro-negócio não é solução

O Governo ainda não está a ser capaz de demonstrar e convencer os diferentes quadrantes da sociedade das vantagens do seu plano sobre o agro-negócio e as críticas às suas pretensões vêm de todos os lados.

Os representantes de Angola, Brasil e Zâmbia sustentam que o Governo moçambicano devia repensar no modelo que pretende implementar porque o agro-negócio não é solução para o subdesenvolvimento. “Se fores ao Brasil ou aos países da Europa a maior parte das culturas alimentares é asseguradas pelo agricultores familiares”, argumentou o presidente do conselho directivo da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) de Angola, Guilherme Santos, em conversa com o @Verdade.

Este defende que os países não devem prescindir da agricultura empresarial, mas devem ter em conta que a base de produção de alimentos é a familiar e ao apostar-se neste tipo estar-se-ia a evitar que milhões de pessoas fiquem no desemprego. A mesma posição é defendida pelo representante brasileiro Augusto Juncal.

Santos defende ainda que há necessidade de se ter em conta a dimensão social e cultural, ao pensar-se no agro-negócio. “O que está a acontecer em Moçambique é que por acusa dos rumos dos acontecimentos há aqui uma consciência emergente na temática da terra em que a regra é ganhar dinheiro sem se olhar para a dimensão social ou cultural”.

Por sua vez, Juncal entende que Moçambique está em larga vantagem em relação ao Brasil no tocante aos assuntos ligados à terra. “Moçambique tem uma lei que diz que a terra é do Estado, está na Constituição, e no Brasil ela é propriedade privada. Portanto, se nasces pobre no Brasil o risco de seres um sem terra é enorme”, explica, e acrescenta que “mesmo assim, a nossa luta é permanente porque existe na Constituição uma pequena linha que nos defende. Nós pegamos nessa linha e usámo-la como arma contra o opressor, que é o Estado e os senhores da terra”.

“A luta pela terra deve ser permanente porque se vocês param, os empresários avançam. Moçambique tem a possibilidade de olhar para a realidade do Brasil e dizer ‘isto não quero’. Devem organizar-se para que aquelas situações não aconteçam, porque é difícil reconquistar a terra depois de perdê-la”.

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