Naquilo que poderá constituir uma das primeiras “nódoas” da diplomacia moçambicana e da presidência de Moçambique da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) assumida a 20 do mês em curso, Julho, em Maputo, um grupo cultural moçambicano entoou canções em changane (uma das línguas mais faladas no Sul do país), uma delas contra a dominação colonial portuguesa sobre Moçambique.
“Ouvem-se gemidos, gemidos dos colonos, gemidos dos portugueses, relutantes em entregar a soberania (de Moçambique) aos seus legítimos filhos” (tradução livre do refrão da canção entoada pelo grupo cultural moçambicano convidado a saudar os participantes à cerimónia oficial da inauguração da IX cimeira da CPLP.
A canção foi ouvida pelo Presidente da República, Primeiro-Ministro e Ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, Pedro Passos Coelhos e Paulo Portas, respectivamente, entre outros dignitários.
Algum desconforto foi visível nos semblantes de Coelho e Portas, quando alguém lhes sussurrou o conteúdo da canção que, aparentemente, enfatizou uma máxima revolucionária moçambicana e amiúde entoada segundo a qual “não vamos esquecer o tempo que passou”.
Também escutou a canção o português e presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que, em Maputo, assinou um acordo de financiamento a programas de desenvolvimento socioeconómico de Moçambique no valor global de 1,3 bilião de meticais e visitou o estratégico porto da Beira, oficialmente ainda considerada a segunda cidade mais importante de Moçambique.
Os receios de David Abílio
O grupo cultural fora convidado pelo Governo moçambicano para abrilhantar o evento e depois da sua actuação o assessor do ministro da Cultura, David Abílio, ouvido pelo Correio da manhã sobre este incidente, reconheceu ter havido falhas “que me levam a temer pelo meu futuro no cargo”.
Aceita que a canção “embaraçou muitos dos presentes por incorporar um conteúdo que nada tinha a ver com o evento”.
Refira-se, entretanto, que a cimeira da CPLP contou com a presença dos presidentes de Moçambique, Armando Guebuza; Portugal, Aníbal Cavaco Silva; Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca; São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa; do deposto presidente da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira; e também com a presença do presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak; para além do Primeiro-Ministro português, Pedro Passos Coelho, dos vice-presidentes de Angola, Fernando da Piedade “Nandó”, e do Brasil, Michel Temer, entre outros dignitários daquela comunidade 2013 em Moçambique, resultante da aposta do novo Governo do Presidente Mohamed Morsi”, eleito durante as eleições presidenciais de 16 e 17 de Junho de 2012.
“Esta é uma nova era que se abre, pois, para além de Moçambique, queremos estabelecer relações diplomáticas, comerciais e económicas com a maior parte dos países africanos, particularmente, aqueles que não tinham nenhum relacionamento com o anterior governo”, indicou aquele diplomata.
Para já, o Egipto vai arrancar com acções de financiamento do ensino do árabe pela Universidade Eduardo Mondlane e pelo Centro de Formação Islâmica da Matola, estando já destacados para Maputo 11 docentes egípcios que estarão à frente do curso.
Existe ainda desenhado um plano de construção de um centro de formação profissional nas áreas de electricidade, carpintaria e tubos de aço, “áreas em que o Egipto tem muita experiência”, enfatizou El Ashmawy, falando ainda em entrevista ao jornal.
Falta apenas a realização de um estudo de viabilidade e indicação do local das obras do referido centro pelo Governo moçambicano.