Numa terra de velhos mitos, os gregos modernos criaram mais alguns, acreditando que a Europa jamais os abandonará à própria sorte.
Os solenes alertas do exterior sobre a impossibilidade de a Grécia continuar como parte do euro se o país rejeitar os termos da ajuda financeira internacional são amplamente ignorados.
A despeito da má situação, muitos gregos acham que, assim como aconteceu no passado, o país continuará a encontrar dinheiro para sobreviver, mesmo que os políticos digam o contrário.
E tampouco os gregos acreditam que a Europa irá simplesmente abandonar a República Helênica, apesar dos crescentes sinais de que o país irá deixar a zona do euro e mergulhar numa catástrofe social e económica.
“Há muito dinheiro neste país, eles só precisam de taxar os ricos e isso iria resolver muitos problemas”, disse a costureira Argiro Maniati, de 55 anos.
Ela trabalhava intensamente sobre a sua máquina de costura, cercada por roupas já remendadas, cujo conserto a sua clientela não tem como pagar.
Como muitos eleitores que puniram os partidos tradicionais gregos nas inconclusivas eleições de 6 de Maio, ela acha que os políticos exageraram a ameaça de exclusão do euro, para assustar os eleitores e fazê-los aceitar o pacote internacional.
“Os grandes partidos nos trouxeram até aqui, para a pobreza e o suicídio, e estão a aterrorizar-nos para nos fazer aceitar medidas duras”, disse ela, referindo-se aos cortes de salários e pensões e a outras medidas de austeridade impostas pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
Segundo as pesquisas, 75 por cento dos gregos querem manter o euro como moeda, mas dois terços são contra o pacote internacional de resgate, o que muitos parceiros internacionais consideram ser um paradoxo.
A Grécia voltará às urnas a 17 de Junho, e o líder radical de esquerda Alexis Tsipras, contrário ao pacote, desponta com grandes chances de ser o vencedor.
A UE, o FMI e o Banco Central Europeu, que precisam de dar dinheiro a Atenas nas próximas semanas para garantir o pagamento de pensões e salários, dizem que vão cortar a ajuda se o próximo governo grego não der aval às medidas do pacote.
Sem esse dinheiro, a Grécia não tem como permanecer na moeda única, segundo os credores internacionais. “Ameaças vazias!”, vociferou Nikos Sokos, 29 anos, que trabalha num bar no centro de Atenas.
“Não há forma de nos expulsarem. Não haverá zona do euro se fizerem isso.” Os observadores da política grega dizem que o país poderá enfrentar uma tragédia se o eleitorado levar esses mitos às urnas. “É uma grande ilusão”, disse Theodore Couloumbis, da entidade de pesquisas Eliamep.
“Os partidos devem colocar uma questão básica: dentro ou fora do euro? Será trágico se formos atirados para fora do autocarro europeu porque os nossos políticos não conseguem passar a mensagem correcta.”