O Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos, cancelou uma viagem à África do Sul prevista para esta semana por não ter recebido o visto das autoridades. “O nosso governo é pior do que o governo do apartheid (…) porque só se espera uma coisa assim do governo do apartheid”, disse o Bispo Tutu, que havia convidado o dalai-lama para fazer um discurso em seu aniversário de 80 anos na sexta-feira.
Dalai-lama iria fazer a conferência inaugural do evento “Desmond Tutu pela paz” no sábado na Cidade do Cabo, que celebrará o aniversário do arcebispo emérito, um dos heróis da luta contra o apartheid.
“Esperávamos que o nosso governo fosse sensíveis aos sentimentos da nossa Constituição”, disse Tutu, citado pelo jornal local “Times Live”. “O problema é que ele pensa que a liberdade que temos hoje veio graças a ele. Eles pensam que qualquer outra pessoa é apenas secundária”.
Tutu fez as declarações contra Zuma gritando e balançando as mãos e disse que o presidente sul-africano não o representa. “Hey Zuma, você e seu governo não me representam. Vocês representam seus próprios interesses”.
Nomfundo Walaza, directora executiva do Centro da Paz Desmond Tutu na cidade do Cabo, disse que o governo deixou de informar a sua administração sobre o processo de visto de Dalai Lama, afirmando que se trata de um problema entre o requerente e o executivo. Walaza diz que o atraso e silêncio do governo demonstram a falta de respeito tanto para com o arcebispo como para com o seu visitante. “Penso que é muito triste nesta altura para a nossa democracia. É um Estado constitucional, soberano e não estamos a espera que os nossos dirigentes tratar alguém como o arcebispo e Dalai Lama com tanto desrespeito. Estamos envergonhados com o que está a acontecer.”
Dalai Lama visitou a Africa do Sul três vezes entre 1996 e 2004 e foi bem acolhido pelos antigos presidentes Nelson Mandela e Thabo Mbeki. Mas há alguns anos depois da subida ao poder do presidente Jacob Zuma, o seu quarto pedido de visto foi rejeitado.
O comité local de organização da Copa do Mundo da FIFA 2010 tinha convidado o comité do Nobel da Paz e os laureados do prémio a participarem numa conferência sobre o papel positivo do futebol no combate ao racismo e xenofobia. Quando na ocasião o pedido de visto de Dalai Lama foi rejeitado o comité de Nobel e os laureados retiraram-se imediatamente em protesto, forçando assim ao cancelamento da conferencia.
Em 2009 era largamente sabido que as estreitas relações entre o presidente Zuma e o seu partido ANC com o Partido Comunista Chinês jogou um papel importante na rejeição do visto de Dalai Lama. O pedido de visto foi negado por ambas partes, tanto o governo chinês como o sul-africano. Perante uma tal situação muitos sul-africanos estão preocupados em saber se o governo chinês terá exercido pressões ou influenciado a decisão do governo da África do Sul.
Clayson Monyela porta-voz do Departamento Internacional e Cooperação do governo sul-africano disse não haver pressões do governo chinês na matéria.
A África do Sul representa 20 por cento do volume do comércio chinês em África, e no ano passado o governo sul-africano assinou com Pequim em acordo de parceria estratégica. Há duas semanas os dois governos assinaram um memorando de entendimento sobre a geologia e minas e cooperação financeira durante a visita do vice-presidente sul-africano Kgalema Motlanthe à China.