O hino de Moçambique voltou a ser entoado nos Jogos Africanos, desta vez no Congo, oito anos depois da Argélia, e não foi graças a vitórias no futebol, basquetebol, na natação, no taekwondo, ciclismo, ténis, e nem mesmo ao atletismo. A medalha de ouro que nos colocou no pódio foi conquistada por Edmilsa Governo na prova dos 200 metros do atletismo paraolímpico. Porém, e apesar das vitórias regionais e mundiais continuarem a vir das modalidades que têm merecido pouco apoio do Governo, este não pretende mudar as prioridades. “(…) O desporto não é só medalhas, nós também temos que olhar para as massas e para o movimento que cada modalidade de facto faz, qual é a movimentação que o futebol faz”, afirmou o ministro da Juventude e Desporto, Alberto Nkutumula.
“Apoiem mais o atletismo paraolímpico. Hoje ganhei três medalhas sem condições nenhumas e com uma preparação, diga-se, selvagem. Mas se houver mais atenção, como acontece no futebol e no basquetebol, por exemplo, podemos ser campeões mundiais”, apelava a jovem Edmilsa após conquistar as suas primeiras medalhas de ouro. Foram três nas provas dos 100, 200 e 400 metros categoria T12 dos Jogos da CPLP em 2014.
“Imploro a quem de direito que me leve para fora”, reiterou a nossa nova menina de ouro após conquistar o título mundial nos 400 metros T12, este ano na Coreia do Sul, novamente depois de muitos sacrifícios fora das pistas e a pedir uma bolsa para treinar no centro de alto rendimento: “Aqui eu tenho treino, mas não tenho uma alimentação devida. Teria um ginásio completo, algo que não tenho aqui, teria pelo menos uma água depois do treino, algo que aqui não tenho também, teria spikes, as sapatilhas de corrida (…)”, afirmou a jovem de 17 anos que em Seul já garantiu os mínimos para estar entre a elite do atletismo paraolímpico.
No Congo, Edmilsa correu os 200 metros, na categoria T12 (para deficientes visuais), em 25,62 segundos, estabelecendo uma nova marca no continente.
Trazendo no pescoço a única medalha de ouro, entre os mais de uma centena de atletas moçambicanos que estiveram em Brazzaville, a jovem corredora continua a precisar de apoios para do Rio em 2016 trazer-nos mais uma medalha reluzente. “Vou continuar a dizer que preciso de uma bolsa (olímpica). Estamos a pedir ainda ajuda. Treinamos no Zimpeto mas, por exemplo, temos de pagar para usar o ginásio que lá existe”.
Em Outubro os paraolímpicos moçambicanos têm agendado participar noutro “Mundial”, desta vez no Qatar, que serviria para abrir mais vagas para outros atletas paraolímpicos moçambicanos nos Jogos do próximo ano.
“Neste campeonato que se vai realizar em Doha se nos classificarmos em primeiro e segundo lugares abrimos quotas para o país levar mais atletas”, explicou o seleccionador nacional, Narciso Faquir, que referiu ainda não estarem criadas as condições para a participação dos atletas nacionais mas que “Moçambique tem potencial para levar mais cinco ou seis atletas” para o Rio de Janeiro, por isso é fundamental participar neste evento que acontece entre 21 e 31 de Outubro próximos.
Os paraolímpicos trouxeram do Congo outras reluzentes medalhas, Maria Muchavo trouxe prata, conquistada na prova em que Edmilsa venceu o ouro, e Denise das Dívidas na prova dos 400 metros, na categoria T13, também arrebatou a medalha de prata.
“Não vamos permanecer alheios”, ministro Nkutumula sobre o apoio aos paraolímpicos
@Verdade questionou ao ministro da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula, se não seria altura de o Governo rever as modalidades consideradas prioritárias na hora de repartir os apoios financeiros.
“(…)Esta discussão é uma discussão praticamente sem fim, mas é preciso que nós olhemos para uma coisa: desporto não é só medalhas, nós também temos que olhar para as massas e para o movimento que cada modalidade de facto faz, qual é a movimentação que o futebol faz. Creio que terá havido um critério para esta norma. Nós não podemos decidir assim de ânimo leve partir aquilo que foi feito anteriormente, temos é que estudar com os próprios desportistas e que haja consenso entre os próprios desportistas sobre quais é que serão as prioridades no desporto. Não sou muito adepto de decisões sem um estudo prévio”, afirmou o Nkutumula.
Relativamente ao apoio que os paraolímpicos necessitam para estarem no “Mundial” do Qatar, o ministro começou por ser evasivo. “O Estado financia o desporto mediante normas, regras, existem contratos programas que são assinados e esses programas devem ser respeitados. E o Estado dá tudo o que tem”, mas deixou no ar a promessa de que “ninguém fica em terra. Não vamos permanecer alheios nem que tenhamos que sacrificar uma outra federação para apoiar isso”, concluiu Alberto Nkutumula.
A dupla Dércio Soares e Carlos Acácio, de voleibol de praia, também conseguiu a medalha de prata ao perder na final com Angola.
As outras medalhas, trazidas pela maior delegação moçambicana de sempre em Jogos Africanos, são de bronze e foram ganhas por Edson Madeira no judo e pela pugilista Rady Gramane.
Egipto grande vencedor dos Jogos de Brazzaville
O Egipto liderou a classificação dos XI Jogos Africanos com 193 medalhas, incluindo 76 de ouro, 56 de prata e 61 de bronze.
No quadro das medalhas, os egípcios foram seguidos pela África do Sul que obteve 114, das quais 41 de ouro, 39 de prata e 34 de bronze.
A Argélia classificou-se no terceiro lugar com 114 medalhas, sendo 41 de ouro, 39 de prata e 34 de bronze, seguida pela Nigéria, com 83 medalhas: 23 de ouro, 33 de prata e 27 de bronze.
A Tunísia conseguiu 74 medalhas 22 de ouro, 20 de prata e 32 de bronze e segue o Congo, país organizador, que apenas obteve mais de 30 medalhas, das quais nove de ouro.