Actualmente com 30 anos de idade, Gil Alexandre Samate, ou simplesmente Gil Viola, músico, pintor e artista plástico, carrega consigo histórias de aventuras marcadas pelo consumo desenfreado de bebidas alcoólicas, drogas e muito sucesso. Porém, décadas após ter vencido o vício dos entorpecentes, ele decidiu dar a volta ao passado, desenvolvendo o amor pelas artes. Presentemente, é através delas que garante o sustento da sua família. Conheça a sua história…
A descoberta do seu amor pelas artes ocorreu durante a sua infância. Gil Viola, quando criança, usava um pouco de tudo o que encontrava à sua frente para criar objectos: “Quando era a hora do pequeno-almoço, eu levava o pão e fazia carros, entre outros objectos”, disse. Notava-se, naquela época, que o pequeno Samate se tornaria, no futuro, um grande artista. Um verdadeiro artesão.
Além do pão, Samate recorria a penas de galinha, a garrafas plásticas, entre outros objectos, para reciclar e, posteriormente, criar objectos de ornamentação, tal como vasos de flores e telas interligadas por cola de contacto.
Volvido algum tempo, Gil descobriu uma fotografia dentro da casa onde residia, no bairro de Napipine, arredores da cidade de Nampula. A imagem fez com que ele descobrisse o seu outro lado, o de artista gráfico e plástico.
Já na sua adolescência, depois de os seus pais se terem divorciado, Viola decidiu ir viver para a cidade Beira, na província de Sofala.
Foi, naquele ponto do país, onde, ainda sua adolescência, concretamente aos 15 anos de idade, se entregou ao alcoolismo por causa dos hábitos do seu pai que, quando quisesse beber vinho, mandava o jovem comprá-lo. Depois de o progenitor ficar totalmente dominado pela embriaguez, o rapaz sorvia o que restava no vasilhame. Viola pretendia, com aquela acção, provar o sabor e a essência das bebidas alcoólicas, mas ficou acabou por ficar viciado.
Gil perdeu o controlo sobre si. Nada mais lhe interessava senão beber, beber e beber! Tornou-se alcoólatra. Mais tarde, o seu pai, que fazia parte das fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), foi transferido para o distrito de Cuamba, província nortenha de Lichinga, onde continuou a exercer as suas funções.
Apesar da mudança de residência, Samate não parou de consumir bebidas alcoólicas. Além do mais, ganhou outro vício: o de consumo de estupefacientes.
“Embora drogado, apaixonei-me pela viola”
O amor pela guitarra nasceu mercê da paixão que possui pela música, uma das actividades a que se dedicava anteriormente. Porém, numa manhã fria, típica da província de Niassa, Gil conheceu um jovem que possuía uma viola. O artista apaixonou-se por aquele instrumento musical e nunca mais se separou dele.
Nos seus tempos livres, após o consumo de bebidas alcoólicas, Samate recorria à viola para expressar os seus sentimentos, ilusões e emoções. O jovem decidiu levar a sério o seu afecto pela guitarra, e, como forma de ganhar alguns trocados para poder comprar bebidas e estupefacientes, o artista em alusão optou por tocar e cantar em kangalas e barracas.
Aquela opção surgiu da necessidade de alimentar os seus vícios, pois logo ao final de cada actuação, era recompensado com algum valor monetário e/ou vinho e cerveja. Foi a partir daí que nasceu o nome Gil Viola.
Posteriormente, o seu pai faleceu e o jovem ficou perturbado, tendo passado a viver na cidade de Nampula, com a sua mãe. Na considerada capital do norte, o nosso interlocutor começou a ingerir excessivamente bebidas alcoólicas. Ele enlouqueceu e teve de ser internado no hospital psiquiátrico.
Passados alguns meses após o internamento, Viola voltou ao convívio familiar, mas, tempos depois, teve uma recaída. Ele tornou-se um bêbado incorrigível. Vendo que a sua vida estava arruinada, o jovem decidiu regressar à cidade de Cuamba supostamente para morrer e ser sepultado no mesmo local onde foi enterrado o seu pai.
Nasce o amor pela pintura
O distrito de Cuamba é, de certa forma, um celeiro onde Gil teve a oportunidade de desenvolver e conhecer outras particularidades da sua personagem. Segundo o jovem, movido pela necessidade de garantir o seu sustento diário, começou a pintar e a vender quadros.
Além disso, passou a fazer desenhos publicitários nas barracas e lojas de Cuamba. Gil tornou-se um artista bastante conhecido. Porém, devido à fama e ao dinheiro, ele meteu-se novamente no consumo de bebidas alcoólicas, e teve mais uma recaída, por sinal a mais terrível de todas.
Embora com a carreira manchada por situções negativas, devido ao consumo de álcool, o seu trabalho não deixou de ser reconhecido pelos cidadãos daquele ponto do país. Gil era convidado a pintar infra-estruturas quase todos os dias e o dinheiro tinha somente um único destino: o álcool.
O artista redivivo: “Agora sou Gil Samate”
Após anos de luta, ele foi convidado a fazer parte de uma comunidade cristã, tendo deixado, no ano de 2012, o fascínio pelo consumo de bebidas alcoólicas. Samate afirma que foi curado pela força divina e diz-se grato.
Actualmente, os préstimos de Gil estão patentes um pouco por toda a parte. Em barbearias, igrejas, residências, lojas e supermercados, as suas assinaturas fazem a publicidade do seu trabalho.
O artista multifacetado decidiu mudar o seu nome, deixando, desse modo, passando a chamar-se Gil Samate, pois pretendia com essa mudança enterrar o seu passado para viver uma nova realidade.
Pai de uma filha, ele disse ao @Verdade que quer ser um exemplo no seio da sociedade, porque, na sua opinião, é possível deixar os vícios do passado.
Gil Samate já não é o mesmo que vagueava pelas suas de Carrupeia sob o efeito de bebidas alcoólicas. Actualmente, ele decidiu entregar-se às artes e pretende voltar a desenvolver os seus talentos.
Gil, o oleiro
Passados alguns meses, ainda no distrito de Cuamba, Gil decidiu trabalhar como oleiro. Nesse âmbito, ele fazia objectos utilizando o barro e vendia os objectos aos nativos daquela circunscrição geográfica.
Mas, devido à inveja por parte de certas pessoas que davam conta de que jovem estava a ganhar espaço no mercado, Samate foi ameaçado e obrigado a interromper as suas actividades.
No entanto, foi a partir daquele momento que ele decidiu regressar à cidade de Nampula onde, actualmente, para além de se dedicar à pintura e ao desenho artístico, ele dá aulas de guitarra na sua residência, onde possui uma galeria de artes e também uma verdadeira escola de música.