“A comunidade internacional deve apoiar a juventude iraniana que luta por seus direitos fundamentais”, estima em entrevista à AFP o cineasta iraniano Bahman Ghobadi, autor do filme “Gatos Persas” sobre o cenário musical underground de Teerão, premiado em Cannes.
“Neste filme eu grito, representando toda a juventude que grita no Irão por direitos fundamentais suprimidos, pelo que há uma tal revolta na rua”, afirmou o cineasta iraniano de origem curda de 40 anos, ao passar por Paris. “Merecemos mais. É por isto que, uma vez na rua, esta juventude não recuará. É preciso que a comunidade internacional apóie este movimento”, acrescentou.
Ghobadi acompanha diariamente, através da internet, a onda de protesto sem precedentes desde a revolução de 1979, depois da vitória contestada de Mahmoud Ahmadinejad nas eleições presidenciais de 12 de junho. “Não prego a queda da República Islâmica, mas esta juventude deve assumir as rédeas do país, precisamos de sangue novo. É preciso ajudar a juventude iraniana para que ela faça alguma coisa pelo país”, disse.
O poder iraniano excluiu nesta terça-feira a possibilidade de anular o pleito, anunciando que o novo presidente e seu governo tomariam posse entre 26 de julho e 19 de agosto. Nos últimos dez dias, a anulação estava sendo exigida pela oposição liderada por Mir Hossein Moussavi, através de manifestações que tiveram pelo menos 17 mortos, uma centena de feridos e centenas de detenções.
“Há um fosso entre duas gerações, a que fez a Revolução e os jovens de 20 a 30 anos que não têm liberdade e tomam consciência de que devem lutar para obtê-la”, estima o cineasta. No seu último filme, matizado de documentário, e que foi um dos premiados da sessão “Un Certain Regard”, concedido na Croisette, em maio, Ghobadi denuncia a repressão que golpeia os jovens músicos de seu país.
“No Irão, a música, o sexo são proibidos, assim como ir a bistrôs; as mulheres não têm direito de cantar, tudo deve ser islamizado, então, hoje a juventude iraniana sofre de um verdadeiro complexo”, estima Ghobadi. “Não acho que exista outro país no mundo onde a juventude seja tão deprimida, tão pessimista. Há muitos suicídios entre os jovens no Irão”, acrescentou.
“Mas o lado positivo desta situação, é que as pessoas não têm medo, e ousam sair às ruas”, considerou. No início de junho, Bahman Ghobadi foi detido e preso durante uma semana por ter ultrapassado a fronteira entre o Irã e o Curdistão iraquiano. “Critiquei o governo e entrei ilegalmente no Irão”, disse.
“Às vésperas das eleições, não podiam manter preso por mais tempo um cineasta curdo conhecido no exterior. Mas precisei pagar uma gorda fiança para sair”, prosseguiu Bahman Ghobadi, que vive entre “os Estados Unidos, a Europa e o Curdistão iraquiano para se manter ligado à sua cultura”.