Os trabalhadores do Recheio – Cash & Carry, um supermercado localizado na cidade de Nampula, queixam-se de maus-tratos protagonizados pelos gestores daquele estabelecimento comercial, mormente, o gerente, que é acusado de agredir, fisicamente, os seus funcionários em pleno trabalho. Segundo os denunciantes, além de espancamentos, os responsáveis proferem palavras injuriosas contra as trabalhadoras. Além disso, os funcionários não têm direito ao pagamento de horas extras e quem ousa protestar contra estas e outras situações coloca em risco o seu emprego.
As denúncias apresentadas por trabalhadores daquele supermercado ao @Verdade referem que os gestores daquele estabelecimento comercial impõem regras que, efectivamente, violam a legislação moçambicana. Segundo os nossos interlocutores, os proprietários da referida loja estão apenas interessados em obter lucros e não se preocupam com o bem-estar dos seus funcionários.
“Nós estamos a trabalhar para melhorar as nossas condições de vida, mas o comportamento dos gestores do ‘Recheio’ não é dos melhores”, disseram os trabalhadores. Uma das funcionárias, que trabalha no supermercado há algum tempo, disse que testemunhou o despedimento de, pelo menos, 10 colegas porque pretendiam dar continuidade aos estudos.
Segundo a fonte, aqueles empregadores aproveitam-se da situação da falta de emprego no nosso país para maltratarem os funcionários. As queixas apresentadas às entidades competentes nunca resultaram. De acordo com a interlocutora que temos vindo a citar, o estabelecimento comercial encerra às 19h00, porém, os funcionários permanecem no interior do estabelecimento até, sensivelmente, às 21h00.
O responsável pelos Serviços dos Recursos Humanos, Chaquil Amede, disse que isso é normal naquela instituição. Segundo o responsável, o supermercado abre às 9h00. Porém, os trabalhadores devem estar nos seus postos uma hora antes para, entre outras actividades, organizar as prateleiras e arrumar os produtos. “Encerramos as portas às 19h00 e os trabalhadores ficam para arrumar as prateleiras e preparar alguns produtos para o dia seguinte”, explicou Amede, realçando que quem não se identifica com as políticas de trabalho do Recheio – Cash & Carry se pode demitir.
Contratos precários
Segundo as fontes do @Verdade que não quiseram ser identificadas por razões óbvias, os gestores do “Recheio” não aceitam que os seus empregados trabalhem e no período nocturno estudem. “Quem ousa desafiar os patrões coloca em risco o seu emprego”, disseram. Chaquil Amede confirmou este facto, mesmo sem entrar em detalhes.
A sua instituição tem celebrado contratos precários com os seus funcionários, pois que as pessoas são recrutadas e, volvidos cerca de três meses, são colocadas no olho da rua, porque os trabalhadores tentam procurar outras ocupações nos seus tempos livres. Amede disse que o que acontece é que, depois da admissão dos trabalhadores, faz-se uma avaliação sobre o seu desempenho e, quando o funcionário não satisfaz as expectativas da empresa, há rescisão de contrato. Todavia, ele disse que não se trata de manobras visando não indemnizar os funcionários.
O que mais inquieta a massa aboral é o facto de os gestores daquele supermercado não prestarem assistência médica em casos de sofrerem agressões físicas no regresso à casa, pois tem sido a altas horas. Uma outra funcionária contou que teve uma experiência muito triste no princípio deste ano. Ela foi vítima de um assalto, tendo apresentado a ocorrência ao serviço, mas não houve nenhuma ajuda de modo a beneficiar de assistência médica.
O gerente chama-nos “prostitutas do semáforo”
Pelo menos três funcionárias confirmaram ao @Verdade que já foram várias vezes vítimas de insultos proferidos pelo gerente daquele supermercado, o qual chega ao ponto de chamá-las “prostitutas do semáforo”, na presença dos clientes. Chaquil Amede, dos Serviços de Recursos Humanos, confirmou o facto e disse que “isso acontece quando as pessoas, sobretudo as mulheres, se apresentam preguiçosas e vagarosas nas actividades que lhes são confiadas. O gerente não tolera essas situações”.
Trata-se, segundo os denunciantes, de um comportamento que é recorrente naquela empresa. “Ficamos preocupados quando o gerente entra e sai sem ofender ninguém”, disseram. Os funcionários queixam-se de trabalhar sob pressão e do excesso de carga horária. “O que é mais grave é que não recebemos o valor referente às horas extras para compensar o trabalho realizado fora do horário normal”, reclamaram.
Segundo alegam os responsáveis pelos Recursos Humanos, as reclamações nesse sentido são infundadas, uma vez que todos os meses faz-se o pagamento de horas extras. Segundo os trabalhadores, o estabelecimento comercial no qual labutam não dispõe de casas de banho, tendo estes de recorrer às acácias localizadas nos passeios da Avenida 25 de Setembro e a alguns esconderijos para satisfazerem as suas necessidades biológicas.