Cada geração contemporânea de jovens tem sido caracterizada por ter os seus próprios desafios, quer se tratem de problemas comuns, que acabam por se tornar unificadores, ou valores partilhados, que se transformam em bandeiras identificadoras. Tem sido fácil identificar esses traços ao longo das décadas.
Em Moçambique, por exemplo, para falar de uma realidade próxima, vemos como a geração dos meus avós (na casa dos 70/80 anos) foi educada no período colonial e teve que se adaptar ao pós-colonialismo. Assistiram ao transformar do país e criaram os filhos que lutaram pela independência, a geração seguinte, portanto.
Esses, antes (na casa dos 60) anos agora, nasceram no período colonial e lutaram pela independência ou fizeram parte desse período. Depois temos a geração que tem agora 50 anos que cresceu no rescaldo do pós independência que teve o desafio de contribuir para dar um rumo ao país (a geração do 8 de Março está neste grupo). E cá temos a minha geração, na casa dos 30 e as gerações que estão agora na casa dos 20 e a geração que lhes segue.
O que nos caracteriza? Quais são, afinal os nossos desafios colectivos e os valores que nos motivam como geração? A verdade é que nascemos numa época em que não há nada por que lutar. Está tudo conquistado e temos tudo à nossa disposição, pela primeira vez em muitos anos na história da humanidade. Somos a geração que nasceu na paz, que tem as novas tecnologias à sua disposição, que tem “tudo” … e, paradoxalmente, esse parece ser o factor que nos provoca uma estupidificante falta de valores motivacionais por que valham a pena lutar.
A falta de dificuldades provoca preguiça mental. Uma corrida sem obstáculos pode conduzir a um comportamento displicente. Quando temos todas as necessidades básicas satisfeitas estamos em condições a almejar a mais e melhor… a explorar os limites (infinitos) da imaginação e a expandirmos os limites do impossível. Essa é a teoria e é uma teoria verdadeira. Mas a realidade tem sido outra, bem diferente.
Às jovens gerações que vemos chamo Geração Fast Swagg. Esses são os ideais que habitam na mente da nossa juventude. Uma mistura de Fast and Furious com vídeos MTV. Uma geração que tem na internet as ferramentas para, quase todas, as perguntas que possa ter, desperdiça neurónios em busca da ilusão virtual de se sentir um Vin Diesel no Fast and Furious, conduzindo a 130 km/h pelas ruas da cidade às 23h30m de uma 5ª feira em carros modificados, procurando deixar o maior número de alarmes de outros carros a tocar para se sentir realizado.
Uma geração que pode tirar qualquer livro, música, filme, pintura, da internet, investe o seu tempo em busca de cortes de cabelo e combinações de vestuário que viram num clip na televisão. É tanta a confusão entre virtual e real que acabam não sabendo quem são ou quem querem ser. Tudo acaba misturado quando as bases não são sólidas.
Toda essa imaginação podia estar canalizada para quase tudo e acaba numa indumentária para ir à discoteca. São produtivos sim. E criativos também. Mas cada vez menos sem foco. Dá-se valor ao dinheiro mas não se sabe para que serve. Importam-se termos ingleses como swagg que acabam por se tornar termos do portinglês que vai nascendo aos poucos e o português, ou as suas línguas nativas acabam sendo esquecidas ou mal faladas.
É a geração que ama pelo telemóvel e faz do Facebook e Twitter um diário. É a geração que tem tudo para ter tudo e acaba não fazendo nada. É a geração que está perante as portas do Infinito e tem preguiça de descobrir a combinação do cadeado, preferindo brincar com a sua imagem ao espelho, pensando que tem no reflexo dos seus próprios olhos o mundo inteiro.
É a geração que sente um abraço numa sms. É a geração que ainda tem tempo para ter tempo… que pode tudo se quiser acordar e começar a ver. Perde-se o valor de conversar, o carinho de se escrever à mão, o gosto de abrir um livro novo ou de passear. Esquece-se disfrutar de uma paisagem única ou de uma experiência pela pressa em tirar foto ou filmar para colocar nas redes sociais.
Quem vê acaba tendo mais gosto que quem esteve lá. Querem ser testemunhas do mundo e esquecem-se do seu papel de actores. A grande dádiva e maldição da juventude é a mesma: ter a noção infinita do tempo que têm pela frente.