
Acomodada em sofás, uma dúzia de casais ilegais espera pela oportunidade de entrar nos cerca de 20 quartos que, às 18 horas de uma terça-feira, estavam superlotados desde às 10 horas que cá estamos. Há casais de todas as idades e classes sociais. No meio está um par de quinquagenários envolto em beijos e carícias. À esquerda uma ‘quatorzinha’ meio envergonhada na companhia de um homem barrigudo e com idade para ser seu avô, dono de um BMW e barba farta. Também aguardam, pacientemente, pela sua vez. À direita estão dois, quatro, talvez mais pares de jovens que passam o tempo com mais um duplo de uísque ou de amarula.
Ninguém olha para ninguém. 11, 13, 16, 20, 22 Horas: pares, exaustos, vão saindo, cúmplices, um a um ou abraçados e entram, cabisbaixos, nas viaturas. Há aventureiros que vão como vieram: pelas suas próprias pernas. Aqui o jogo é este: em função da hora de chegada, os ‘amantes’ são convidados a ocupar os quartos por uma, duas, três horas ou mais, consoante o bolso e tempo de cada um.
Inimigo íntimo
Dinheiro. Comida. Carro. Diversão. Liberdade. Extravagância. É o que esperam da vida essas pessoas que fornicam com ‘maridos’ e ‘esposas’ alheios em quartos de hotéis, motéis e pensões. Ou em casas familiares, esplanadas e barracas que aprovisionam quartos para tal fim.
Antes encarado como um prémio da relação amorosa, o prazer sexual há muito que passou a ser direito dos maputenses que se iniciam mais cedo, têm mais parceiros e se casam mais tarde.
Tó Sam, 35 anos, casado há 10 e frequentador assíduo desses locais, aceitou contar ao @Verdade os passos da sua infidelidade: “Comecei a trair a minha mulher ainda na fase de namoro, com colegas da escola ou vizinhas.” Apanhou o vício, daí que, mesmo depois de passarem a viver juntos e terem um filho, ele continua a trair a sua cônjuge que, conformada, até já coloca preservativos nos bolsos do marido. “Não há como: de repente você recebe uma chamada, um “e-mail” ou um “sms” a convidarem-te para uma conversa e, quando chegas ao local, abrem-te as portas de um carro que te leva para um hotel onde te pagam tudo…ah, então diga: como não cair na ratoeira assim?!!!”
O mapa erótico…
O século XXI, com o advento da internet e dos telemóveis, reduziu as distâncias. É com base na internet e telefone celular que as pessoas agendam encontros eróticos. Só na cidade de Maputo, exemplos são aos milhares. Muitos funcionam escudados por detrás de restaurantes, pensões, esplanadas e barracas. Um dos mais procurados está em plena Avenida Eduardo Mondlane, defronte do “Covo”, onde os casais recebem chaves de quartos do andar superior. Preço: 200 meticais/hora. É um desafio à imaginação andar quinhentos metros de uma avenida de Maputo sem que se encontrem lugares idênticos.
Há na Sommerschield, na Polana-Cimento e “Caniço”. Na baixa da cidade há dezenas de pensões que exploram esses prazeres alheios para ganharem muito dinheiro. Idem no Alto-Maé, Malhangalene, Benfica, Catembe e Triunfo. Na Matola também.
Naquilo que se classifica como nova tendência, os aventureiros sexuais fogem da zona urbana para a periferia, uma tentativa de se distanciarem do “faro” e do olho dos parceiros – legais – familiares, ou da sociedade. Quem descobriu a façanha e investiu em quintas disfarçadas em casas de pasto está a ganhar muito dinheiro. Lá, os preços variam em função da qualidade dos serviços prestados: quarto com ar condicionado, cama casal redonda, TV ‘multichoice’, água canalizada e quente oscila entre 300 e 500 meticais/hora. Geralmente, são locais concebidos com parques de estacionamento, bar e restaurante com churrascos onde, no caso de superlotação, servem de perfeitas salas de espera.
… Perigoso
Fornicar ilegalmente pode parecer bom mas também pode ser o começo do fim de um longo sonho que começa(ria) com aquele cenário clássico em que, com uma gravata apertada e um belo vestido branco com véu e grinalda, o padre abençoa a união e exige das partes envolvidas uma declaração pública, com testemunhas, segundo a qual se deve “ser fiel, amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, seguindo amando e respeitando, até que a morte os separe”.
Mas está difícil. O fácil, porém, é chegar a esses “escondidinhos” e “comer a fruta proibida”, tal como Adão e Eva o fizeram contra a vontade divina, não obstante ter-lhes advertido de que “ (…) tudo comereis, mas da árvore da vida não comereis”.
O perigoso – e curioso, infelizmente – é que essas pessoas nasceram e/ou cresceram diante da propagação do SIDA. Mas a doença não travou a multiplicidade de parceiros, como se imaginava. Como Tó Sam, muitos dos que praticam relações extra-conjugais raras vezes usam (correctamente) os preservativos. Elias Mubai, 40 anos de idade e um dos gerentes desses “escondidinhos” conta o que lhe atormenta há anos: “ Já acudi a casais que lutam ou saem dos quartos zangados por causa do ‘usas-ou-não-usas preservativo!” Como ele, muitos dizem que os preservativos permanecem longo tempo nas gavetas das cabeceiras porque não são usados. Isso faz-lhes pressupor que muitos casais devem estar a manter relações sexuais ocasionais desprotegidos. E a contribuírem para o elevado índice de seroprevalência. “ Não sei porquê!”, remata o nosso interlocutor.
Porque me trais, já não tens coração, amor?
Ninguém duvida de que a traição sexual acontece quando há algum tipo de insatisfação, seja ela amorosa, física ou material. Como seres humanos, homens e mulheres são movidos pela busca incansável do prazer e vão em sua busca.
Fora a questão material, a explicação que os académicos tentam encontrar é, como diz, no estudo que está a conduzir, Tânia, de 28 anos, psicóloga e professora universitária: “Estamos mais livres, aprendemos o caminho do prazer e já não queremos sair da cama sem o nosso orgasmo”. Para tal, basta “levarmos camisinhas na bolsa, tomarmos a iniciativa na hora da ‘paquera’ e trairmos quando estamos insatisfeitas. Por outras palavras: “ Vamos à luta sem medo!”
Para Tom, de que falamos anteriormente, trair é uma coisa naturalíssima no ser humano: “O desejo que não está ligado ao amor, isso acho que todo mundo já deve ter sentido na pele e a vontade de viver com emoção”. Estas duas coisas são indiscutivelmente humanas. E é por isso que a traição ocorre. Os homens traem e as mulheres também.
É a liberdade sexual que cresce de forma avassaladora? A psicóloga e professora universitária refere que sim. E justifica: “Embalada nessa busca, que muitas vezes é incentivada pela pobreza – material, moral e espiritual – a modernidade que a sociedade conquistou contribui para a actual tendência de relações extra-conjugais”. Tânia explica que “isso deriva do facto de, mal veiculada, a mensagem sobre o SIDA ter sido, por consequência, mal apreendida”. É como se, enquanto se apela ao ‘NÃO TRANSE SEM CAMISINHA’, e a Bíblia diz “ NÃO ADULTERARÁS”, a sociedade entendesse justamente o contrário: “USE O PRESERVATIVO E FORNIQUE ”. Uma vez confrontados com o facto, religiosos como Dom Diniz Sengulane já disseram que “vivemos numa época em que já ninguém tem coração.”
Sinais de traição frequentes
Segundo a revista “Nossa Vida”, um destes sinais pode revelar traição. Contudo, recomenda para se ter sempre presente de que existem hipóteses de o seu cônjuge não a estar a trair e que a desconfiança seja feita sempre de forma a não destruir a relação para o caso de as suas suspeitas serem infundadas.
Masculina: 8
Não deixa que ninguém toque no seu temóvel ou computador
Chega a casa com um cheiro diferente
Nada mais o chateia
Começa a produzir-se mais
Começa a ser mais desconfiado
Começa a dar respostas rebuscadas demais
Gasta mais dinheiro e não é capaz de o justificar credivelmente
Já não está tão interessado no sexo
Feminina: 6
Passa mais horas fora de casa
Maior preocupação com a aparência
Pode não fazer sexo com o marido pois fica mais “fiel” ao amante
Aumento da conta do telefone
Não menciona o nome do amante mesmo com as amigas
Contacto frequente com o “colega” de trabalho