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Ganhar a vida nos semáforos da cidade

Ganhar a vida nos semáforos da cidade

Fama de vaidosas à parte, ao longo das artérias da cidade de Nampula várias mulheres, em busca de sustento, sobressaem, desmitificando a concepção segundo a qual o seu papel se circunscreve às tarefas domésticas. Elas figuram nas estatísticas oficiais de forma expressa como um dos extractos da população economicamente mais activos.

Todos os dias, de segunda a domingo, mulheres de diferentes idades, oriundos da periferia da cidade de Nampula, ocupam alguns das principais artérias da urbe, sobretudo nas proximidades dos semáforos para ganhar a vida através de venda de comida e outros produtos.São elas que fomentam a economia da cidade, ainda que informalmente.

Na sua maioria, a faixa etária anda acima de 18 anos e com baixo (ou sem) grau de escolaridade. Este é o perfil de grande parte das mulheres que exercem o comércio informal como uma forma alternativa de subsistência. Ganham apenas o suficiente para sustentar a família e não estão preocupadas em obter uma formação ou informação para o crescimento dos seus negócios.

Margarida Chitima, de 34 anos de idade, é um exemplo de mulher que há cinco anos busca no informal o sustento da suafamília. “É a forma que encontrei para ajudar o meu marido nas despesas de casa”, diz.

Mãe de quatro filhos, Margarida vive no bairro de Karrupeia.Sai de casa, todos os dias, às 6h00 da manhã, para vender comida nos semáforos ao longo da Avenida Paulo Samuel Kankhomba. Mas tem de acordar muito cedo para preparar o alimento, além de fazer as tarefas domésticas.

Garante que é bastante difícil conciliar o papel de mãe e dona de casa com a sua actividade comercial, mas a necessidade de contribuir na renda mensal familiar tem sido a sua motivação. “Os meus filhos precisam de alimentos, cadernos para ir à escola, precisamos de pagar água, energia e o que meu marido ganha não chega para isso tudo”, explica e também afirma que a falta de clientes é o principal problema do seu negócio.

O seu dia começa cedo e termina por volta das 18h00. Em média, por dia, amealha 500 meticais, valor com o qual ajuda nas despesas de casa, até porque “a vida não está fácil”.

Florinda Jossias, de 39 anos de idade, oito dos quais dedicando-se à venda de refeições e amendoim nos semáforos da cidade de Nampula, é também o rosto visível de uma mulher que viu naquela actividade económica uma fonte de rendimento familiar, o que lhe permite, simultaneamente, a inserção no sistema do mercado informal.

Vivendo maritalmente, Florinda conta que começou a praticar este negócio como forma de reforçar o salário mensal do seu esposo que, segundo as suas próprias palavras, não chegava para o suprimento das necessidades da família, como a aquisição de bens alimentares e o pagamento de serviços, designadamente saúde e educação dos seis filhos.

Vender naquele local nunca foi fácil. “Temos de sair de casa muito cedo e passamos aquio dia inteiro para ganhar a vida”, diz. Por mês, em média, tem um rendimento de três mil meticais, mas Florinda afi rma que é difícil juntar dinheiro com o negócio. Mora no bairro de Namutequeliwa e, todos os dias, tem de andar pelo menos três quilómetros para exercer a sua actividade.

Ao contrário doutras mulheres, Júlia Américo, de 25 anos de idade, e residente no bairro de Karrupeia, decidiu pela comercialização de comida ao longo da Avenida Paulo Samuel Kankhomba logo após a morte do seu marido, que era a única pessoa que garantia o sustento da família. Graças ao negócio, os seus três filhos continuam a ir à escola.

Para Júlia, a sua maior tristeza é ser vista pelas autoridades municipais e a sociedade como poluidora da cidade e não uma pessoa que procura o sustento. Diariamente amealha pelo menos 600 meticais. Mas nem sempre foi assim. “Antigamente, era difícil obter esse dinheiro, pois não havia muitos clientes. Hoje as coisas mudaram”, afirma.

O preço de um prato de comida nos semáforos de Nampula varia de acordo com ementa do dia. A título de exemplo, um prato de arroz com feijão custa entre 25 e 30 meticais.

Delfina Abdul, de 20 anos de idade, tem uma história diferente, segundo nos dá conta: “Comecei a fazer negócio muito cedo. Tinha apenas sete anos de idade, altura em que os meus pais perderam a vida, desde então nunca mais parei”, conta.

Começou por vender bolinhos e presentemente, perto de completar21 anos de idade, vende refeições e emprega duassobrinhas. “Estou feliz com o meu trabalho porque é com ele que sustento a minha família e também ajudo familiares”, afirma.

Diz não ter ideia do seu rendimento mensal, mas garante rondar entre dois e três mil meticais. Vive maritalmente em Napipine, e tem dois filhos menores de idade. Neste negócio de rua, a preocupação com a higiene da comida é (quase) inexistente.

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