Mais de 100 famílias que vivem no povoado de Muthediua, uma das zonas mais afectadas pelas inundações no posto administrativo de Nante, distrito da Maganja da Costa, província da Zambézia, estão a passar fome em consequência das cheias que destruíram as suas culturas alimentares e reservas que se encontravam nos seus celeiros.
As pessoas em causa estavam reassentadas num dos centros de acomodação da vila sede do posto administrativo de Nente; porém, quando a águaque submergia as suas habitações na sequência do transbordo do rio Licungo e seus afluentes desapareceu, elas regressaram às zonas de origem.
Neste momento, encontrar uma lata de farinha de milho à venda é uma sorte bastante grande ou mesmo uma bênção divina. Para sobreviver, a população recorre a tubérculos de mandioca e às respectivas folhas, à batata-doce e a outros alimentos que ainda é possível obter nas machambas, mas em quantidades reduzidas. Com os campos agrícolas submersos, o sofrimento vai prevalecer em Muthediua caso não haja apoios.
Filomena Vasco, uma das vítimas das inundações em Nante, disse que perdeu tudo o que tinha lançado à terra em virtude da cheias. Agora, a alimentação tem sido um bico-de-obra. “A minha casa caiu e toda a comida que eu tinha foi arrastada pela água. Não tenho nada para dar aos meus filhos”, lamentou a senhora, acrescentando que, por vezes, a sua família passa dias sem nenhuma refeição.
A nossa interlocutora, cuja história é apenas um exemplo do sofrimento a que estão sujeitos os outros habitantes, disse que desde que regressou para o seu povoado nunca recebeu apoio. O Instituto Nacional de Gestão e Calamidades (INGC) não dá a mínima importância ao seu calvário e ao de outras pessoas.
“Estamos a lutar para sobreviver. Ninguém aguenta mais com a fome que está a massacrar as nossas crianças, principalmente”, disse Adelaide Celestino, outra afectada.
Entretanto, apurámos que o INGC deixou de fornecer comida àquela população por ter abandonado o centro de acomodação da vila sede do posto administrativo de Nante. Betinho Sair, secretário de Muthediua, considera que o que os habitantes da sua zona passam é dramático. “Não há alimentação para as famílias que regressam para esta zona”. Ele disse ainda que algumas pessoas não dispõem de esteiras e cobertores, o que agrava o seu sofrimento.
Em Muthediua, todas as residências construídas com base em material precário foram reduzidas a escombros e outras arrastadas pela fúria das águas. Quem regressou àquela zona deliberadamente teve de erguer cabanas para não passar as noites ao relento.