Criada em 2009, a Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Sociedade (ADDESSO) ressente-se da falta de parceiros financeiros para a concretização dos seus projectos. A agremiação, que actua nas áreas de educação, empreendedorismo, meio ambiente e saúde pública, entende que essa situação se deve ao facto de algumas organizações financiadoras de projectos sociais não levarem a sério os planos de pedido de financiamento, contrariamente ao que acontecia há poucos anos. De acordo com o coordenador geral desta agremiação, Deedar Guerra, a ADDESSO, depois de oficializada em 2009, começou a desenvolver um projecto de formação de jovens empreendedores, sendo que neste momento estão a beneficiar desta formação cerca de 20 pessoas no bairro de Khongolote.
@Verdade (@V): Quando e com que objectivo surge a Associação para a Defesa e Desenvolvimento da Sociedade (ADDESSO)?
ADDESSO (ADD): A Associação surge de uma ideia entre amigos que decidiram juntar esforços e desenvolver actividades de apoio à comunidade. Foi legalizada pelo Ministério da Justiça em 2009.
@V: Em que áreas a associação actua?
ADD: Tendo em conta a experiência que adquirimos ao longo dos anos, acabámos por nos concentrar em quatro áreas principais, nomeadamente a educação, a saúde pública e VIH/SIDA, meio ambiente e turismo.
@V: Contam com alguns parceiros nas vossas actividades?
ADD: Desde o nosso surgimento, conseguimos realizar alguns projectos em parceria com algumas entidades, nomeadamente a ADIPSSA, uma organização que financia projectos de geração de renda para a área de agricultura, a britânica Volunteers Services Overseas (VSO), bem como o apoio do Ministério da Juventude e Desporto, na publicação da organização, em 2012. Com o apoio destas organizações surgiram projectos como “Hortas no Quintal”, que se destina a apoiar mulheres chefes de família, algumas a padecerem de VIH/SIDA. Em 2011 formamos nossos próprios membros para se tornarem formadores em matéria de identificação e gestão de negócios.
@V: Que projectos estão em curso neste momento?
ADD: Neste momento, temos projectos em curso com quatro entidades, nomeadamente o Núcleo Provincial de Combate ao VIH/ SIDA, para a mitigação de impactos em famílias vivendo com o VIH/SIDA, em Matutuine, com o PNUD, para capacitar camponeses na Zambézia em técnicas de produção orgânica, com o Fundo de Desenvolvimento Agrário, para projectos que vão beneficiar a organização.
Importa realçar que, apesar de termos muitas iniciativas em vista, estamos à espera de fundos das organizações que nos apoiam. Para a área de educação, temos um projecto em curso no bairro da Polana Caniço, em Maputo, numa creche comunitária. É uma iniciativa que está em fase embrionária do ponto de vista de pujança em termos de recursos, mas mostra-se que tem pés para andar. Estamos a atender, neste momento, uma média de trinta crianças.
@V: O que é que tem feito nas áreas de ambiente e empreendidorismo?
ADD: Primeiro, há que destacar que, apesar de termos áreas tecnicamente isoladas, a verdade é que a sua implementação não é isolada. Muitas das vezes nós olhamos para o projecto e de seguida, em função da sua realidade, identificamos as suas áreas. É claro que existe um denominador comum, um aspecto que é mais dominante. As áreas estão interligadas de modo a formarem um conjunto que vai culminar com uma boa saúde e bem-estar, um nível de instrução ou formação, etc.
O que pretendemos é que com a renda que provém de projectos de empreendedorismo, essas famílias tenham capacidade para comprar comida saudável e ter uma vida condigna o que, consequentemente, vai ter um impacto na sua saúde, saúde esta que vai ser alcançada por via da agricultura e da pecuária. Também temos feito capacitações em termos de saúde pública e saúde sexual reprodutiva.
@V: Fale-nos do projecto “Horta no Quintal”
ADD: No projecto “Horta no Quintal” capacitamos senhoras para plantarem e explorarem as hortas nos seus quintais, de modo a conseguirem, por via disso, garantir uma boa dieta alimentar para as suas famílias, como também para venderem alguma coisa para comprarem material escolar para os seus filhos. É, na verdade, um projecto que parte de uma pequena actividade agrícola mas que culmina com o melhoramento da saúde e da educação das crianças.
Deixa-me explicar, também, em matéria de meio ambiente, que as actividades que ensinamos têm enfoque nas questões de boas práticas: o adubo que nós vamos usar com o projecto Núcleo Nacional de Combate ao VIH/SIDA não será um adubo químico, será um adubo orgânico. É um projecto ambiental mas que depois tem impacto na própria renda das famílias.
@V: A associação está representada em todo o país?
ADD: Infelizmente não. Esse é um dos nossos grandes desafios. A ADDESSO existe apenas na província e cidade de Maputo. A representação noutras partes do país é algo que vai acontecendo gradualmente.
@V: Quantas pessoas já beneficiaram dos projectos da ADDESSO?
ADD: Bem, existem os beneficiários directos e os indirectos e ainda outros que acabam por ser beneficiados a longo prazo, em termos de impactos. Daquilo que já foi a concepção do projecto “Hortas no Quintal”, 10 senhoras e os seus agregados familiares beneficiaram de apoio. No projecto de formação da Matola, formámos 19 empreendedores, em 2011. No ano passado, em Khongolote, formámos 20 empreendedores. Actualmente, em Dlabula, esperamos beneficiar cerca de 30 famílias. No projecto da creche, temos pelo menos 45 crianças que já conseguimos atender do ano passado a esta parte.
@V: Quais têm sido as vossas dificuldades?
ADD: São várias as dificuldades que temos. A primeira e grande dificuldade da ADDESSO é a retenção dos membros. De nove membros fundadores, apenas dois continuam agarrados à associação. Se hoje temos pessoas e amanhã essas mesmas pessoas saem, temos que de novo recuar para a estaca zero, com novas pessoas. O segundo aspecto é que fora da retenção temos a problemática do envolvimento dos próprios membros, a sua gestão e a base de recursos.
Em algumas pesquisas feitas por nós constata-se que as organizações tinham acesso aos fundos, mas hoje em dia quando tu chegas com uma proposta a primeira coisa que o organizador pensa é que quem vem fazer o pedido não é sério. E isso é um grande constrangimento, porque limita até certo ponto o nosso nível de envolvimento com as comunidades com vista a fazermos aquilo que queremos.
Às vezes são membros da organização que devem fazer um esforço adicional para a organização ter que se manter. Por outro lado, tem havido dificuldades mesmo com recursos nas mãos para começar um projecto. As autoridades, nomeadamente os líderes comunitários, não facilitam Alguns doadores não estão dispostos a financiar uma organização tendo como objectivo elaborar um projecto.
Tem que ser a organização a criar formas internas de conseguir dados e do que precisa para conceber o projecto. Algumas organizações que normalmente são as financiadoras anunciam concursos para o financiamento de projectos, mas continuam com os mesmos parceiros. Isso limita as novas organizações no tocante a oportunidades de financiamento.