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Famílias protegem criminosos em Nampula

A Unidade Comunal Samora Machel é um foco emergente de casos de criminalidade a nível do bairro de Namicopo, na cidade de Nampula. Ao invés de os residentes colaborarem no sentido de se acabar com os assaltos às residências e agressões físicas contra cidadãos na via pública, denunciando os criminosos às autoridades policiais, algumas famílias encobertam as acções dos malfeitores, oferecendo abrigo e guardando os bens roubados.

O bairro de Namicopo já foi, no passado, esconderijo dos gatunos. Aquela zona destacava-se a nível provincial. A Unidade Comunal de Namiepe era considerada o “quartel” dos malfeitores, cujas incursões eram desencadeadas na calada da noite, que molestavam cidadãos indefesos na via pública, arrancando os seus pertences e saqueavam diversos bens nas residências.

Segundo José Gamito, de 56 anos de idade, residente na Unidade Comunal Palmeiras 2, para patrulhar o interior do bairro era necessário ter muita coragem e, acima de tudo, profissionalismo no sentido de encarar os ladrões que aterrorizavam a cidade de Nampula. “Não era qualquer agente da Polícia que ousava encabeçar uma acção de busca e captura”, recordou.

O nosso interlocutor referiu que muitos oficiais que dirigiram as fileiras do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula não conseguiram travar a acção dos delinquentes. José Weng San foi o único oficial da Polícia que eliminou o mal pela raiz. “Os gatunos considerados cadastrados perigosos que tinham o azar de serem detidas na era de Weng San eram executados, sumariamente, facto que desencorajou muitos malfeitores e, em consequência disso, abandonaram o mundo da criminalidade”, disse, afirmando que foi a única estratégia usada para devolver a ordem, tranquilidade e segurança públicas em Namicopo.

Contudo, na Unidade Comunal Samora Machel estão já a surgir novos focos da criminalidade. Nos dias que correm, são reportados, todas as semanas, mais de quatro casos de assaltos a residências e agressões contra cidadãos indefesos na via pública. Na zona do Nasser, onde está instalado o parque da empresa transportadora de passageiros “Nagi Investimentos”, os larápios passaram a actuar no local pelo facto de, nos últimos dias, se registar um maior fluxo de pessoas.

Crimes macabros

Na semana de 22 a 28 de Setembro findo, dois corpos sem vida foram encontrados nas imediações da linha férrea, porém o rosto dos malogrados apresentavam escoriações, o que leva a crer que foram vítimas de espancamentos, tendo sido, posteriormente, arrastados para a ferrovia no sentido de confundir a opinião pública para se supor que foram trucidados pelo comboio.

Na mesma semana e no mesmo local, uma senhora cujo nome não apurámos foi agredida por desconhecidos, que desferiram golpes e causaram-lhe ferimentos graves no braço alegadamente porque vítima não tinha dinheiro nem telefone.

No dia 01 de Outubro corrente, um jovem identificado pelo nome de Fotocópia foi molestado por um grupo de indivíduos, os quais se puseram em fuga depois de se terem apoderado dos seus pertences, com destaque para três telemóveis e 450 meticais em dinheiro.

Os residentes da Unidade Comunal Samora Machel afirmam-se desassossegados em virtude de os níveis de criminalidade estarem a ganhar proporções gigantescas.

Os agentes afectos ao Centro Maior de Segurança naquela zona residencial são, igualmente, acusados de serem inoperantes nas suas acções de patrulha, pelo facto de não se esforçarem com vista a neutralizar os gatunos que convivem com os moradores. O porta-voz da PRM em Nampula, Miguel Bartolomeu, disse que a corporação não pode neutralizar nenhum cidadão acusado de roubo ou qualquer outro tipo de crime sem que, para o efeito, seja emitido um mandado de busca e captura.

Enquanto isso, a comunidade vive agonizada. Os cidadãos que frequentam a escola no período nocturno sentem-se ameaçados, pois as ruas do bairro ficam às moscas logo às 19 horas, porque a maior parte das famílias é obrigada a recolher cedo para os seus aposentos de modo a evitar cair nas mãos dos malfeitores.

Famílias cúmplices

Segundo apurámos, o recrudescimento da criminalidade na Unidade Comunal Samora Machel começou a registar-se desde o ano de 2012, período em que se instalou naquela zona residencial um grupo de bandidos chefiado por Momade, considerado um criminoso perigoso e cadastrado.

No princípio, a quadrilha arrendou uma residência pertencente a um cidadão cujo nome omitimos a seu pedido no quarteirão 7. Na verdade, o proprietário da casa não sabia qual era a ocupação dos cerca de cinco jovens que partilhavam uma habitação de uma sala e um quarto. Volvidas cerca de duas semanas, os inquilinos começaram a apresentar uma conduta duvidosa devido aos movimentos que efectuavam, sobretudo, na calada da noite.

Certo dia, contou o dono da residência, os gatunos entraram no quintal às 6h00, transportando diversos bens roubados num estabelecimento comercial, algures na cidade de Nampula como televisores, DVD’s, congeladores, caixas de detergentes, entre outros. Dias depois, a Polícia teria sido informada sobre o destino dos utensílios furtados, tendo iniciado uma acção de busca e captura o que culminou com a detenção de dois integrantes da quadrilha.

O grupo de gatunos liderado por Momade é ainda acusado de ter invadido, no mês de Abril, a casa de um cidadão estrangeiro naquela zona residencial, onde se apoderou de vários bens, além de espancar, com recurso a instrumentos contundentes, o guarda. Os malfeitores roubaram, também, um carro que, mais tarde, veio a ser recuperado pela corporação.

Perante aquela situação, o proprietário da habitação decidiu expulsar os seus inquilinos para evitar denegrir a sua imagem na zona. Desde então Momade refugiou-se na casa da sua irmã que também reside no mesmo quarteirão.

Os outros comparsas, com medo de serem detidos pelas autoridades policiais como é o caso de Arles, procuraram abrigo nas casas dos seus familiares. Outros viram-se obrigados a abandonar a cidade, estando neste momento em parte incerta. As lideranças comunitárias insistem em afirmar que o terreno baldio pertencente às missionárias do Mosteiro Mater Dei é um dos principais esconderijos dos gatunos que na calada da noite aterrorizam os moradores.

Narcísio Rodrigues Manuel, secretário do quarteirão 7, confirmou as evidências apresentadas pelo @Verdade e referiu que se trata de um problema cuja solução ultrapassa as capacidades dos líderes comunitários. Apesar dessa situação, ele não se cansa de alertar as autoridades policiais para a necessidade de se reforçar os trabalhos de patrulhamento.

Segundo Manuel, vários foram os trabalhos de sensibilização com o objectivo de desencorajar a oferta de abrigo aos gatunos, mesmo sendo seus parentes, pois eles criam um ambiente conturbado no seio dos residentes.

Os residentes da Unidade Comunal Samora Machel acusam, também, as autoridades policiais de colaborarem no recrudescimento da criminalidade na zona. Um jovem, que não quis ser identificado, disse que as pessoas fazem denúncias, fornecendo informações que permitem a identificação dos malfeitores, mas a Polícia mantém-se indiferente.

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