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Falar de tseke é dizer aos moçambicanos desenrasquem-se porque não há solução, João Mosca

Falar de tseke é dizer aos moçambicanos desenrasquem-se porque não há solução

Foto de Adérito CaldeiraO Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) apresentou ao Conselho de Ministros, no início do mês, uma proposta de massificação da produção da planta alimentar “Amaranthus”. “Falar de tseke neste momento é dizer as pessoas que não há maneira de resolver o problema e desenrasquem-se como quiserem, com plantas naturais, porque não há solução. Mais, está a dizer coisas as pessoas que elas já sabem e não precisam que ninguém lhe diga isso, é uma indignidade total do Governo vir com esse discurso, porque não pensa no milho” disse ao @Verdade o professor João Mosca que recordou que a produção de milho produzido no País é insuficiente para a nossa dieta alimentar.

De acordo com o Governo esta planta, vulgarmente conhecida em Moçambique pelo nome de tseke, mboa, bonongwe, dhimbwe ou nheua, “tem potencial para melhorar a nutrição, aumentar a segurança alimentar, promover o desenvolvimento rural e apoiar o cuidado sustentável da terra. No campo nutricional as folhas de “amaranthus” apresentam um conteúdo elevado de proteína, ferro, cálcio, fenóis, antioxidantes e vitaminas (A e C) e superam as beterrabas e espinafre”.

Inclusivamente, e na sequência de estudos realizados pelo Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, foram produzidas sementes para sua a comercialização.

Instado a comentar sobre esta ideia do Executivo de Filipe Nyusi, o director do Observatório do Meio Rural(OMR), João Mosca, questiona se “fazer investigação do tseke é prioridade deste País?”.

“Do que é que a população se alimenta: milho, feijão, mandioca, amendoim, tomate, cebola , repolho, isso é o que a população come. E falar do tseke é até algo de indigno, não digo que a gente não deva aproveitar os recursos locais que até podem ser muito boas mas em economia há os chamados bens superior bens inferiores”, declarou Mosca que é doutorado em economia agrária e sociologia rural.

Gráfico do Observatório do Meio RuralO académico moçambicano aclarou que “os bens superiores são aqueles que você come quanto tem um certo nível de rendimento, se você come carne de frango e o seu rendimento aumentou há a tendência de substituir gradualmente pela carne de vaca, depois pela carne de vaca de primeira, você vai melhorando a sua dieta alimentar. Você falar de tseke neste momento é dizer as pessoas que não há maneira de resolver o problema e desenrasquem-se como quiserem, com plantas naturais, porque não há solução”.

“Mais, está a dizer coisas as pessoas que elas já sabem e não precisam que ninguém lhe diga isso, é uma indignidade total do Governo vir com esse discurso, porque não pensa no milho? Hoje você pensa que há milho suficiente em Moçambique, mas é falso isso. Em termos de dieta alimentar não produzimos nem 50% do que precisamos para ter a dieta recomendada pelo Ministério da Saúde, e estamos a falar só para alimentação de consumo sem entrar nas necessidades para rações e outros tipo de processamento”, acrescentou João Mosca.

Do tempo colonial para hoje não existiu qualquer transformação estrutural na agricultura

Foto de Adérito CaldeiraO mais recente documento de trabalho publicado pelo OMR reitera uma constatação, desde a independência em 1975 “a produção alimentar por habitante não se alterou significativamente. Os aumentos de produção verificam-se, sobretudo no milho e na mandioca, como resultado da expansão da área trabalhada por efeito do aumento demográfico”.

João Mosca, que assina o documento intitulado “Agricultura, diversificação e transformação estrutural da economia, explicou em entrevista ao @Verdade que “(…)o que se passa agora é que houve aumento de produção em algumas culturas, derivado do aumento da superfície(cultivada), pelo aumento da população. Esse aumento do número de produtores e da superfície foi também em pequena exploração, não foi do aumento da escala já existente, há mais machambas de meio hectares”, não foram as anteriores machambas de meio hectare que cresceram.

Comparativamente ao tempo colonial o documento refere que “Grande parte dos alimentos consumidos no país era de produção nacional seja através de uma crescente monetarização/ mercantilização da agricultura de pequena escala, por via da produção de excedentes comercializáveis, como pela agricultura em colonatos com imigrantes portugueses e incorporação de moçambicanos, para a produção de bens alimentares não tradicionalmente produzidos pelos produtores moçambicanos. Hoje importam-se cada vez mais alimentos, seja de bens não-diferenciados (bens de consumo de massa), como de bens de qualidade para as elites urbanas”.

O que nos levou a dependência alimentar actual, “Importa-se todo o trigo (como sempre), grande parte do arroz, batata e cebola, de vegetais e de fruta consumida nos centros urbanos. Anteriormente existiam indústrias de alfaias e reboques que estão encerradas. Produziam-se fertilizantes e misturavam-se pesticidas, agora totalmente importados. Persiste a indústria da cerveja (com o fabrico a partir da mandioca). Pouco se produz de leite, carne e respectivos produtos transformados”.

O Observatório do Meio Rural defende que é possível aumentar “significativamente a produção na mesma superfície com a introdução de alguns insumos, com alguma assistência técnica, com a introdução da semente melhorada, com a garantia de preços e da comercialização, com transporte para o escoamento, com pequenos sistemas familiares de conservação dos produtos para que não haja perda pós-colheita”.

“Naturalmente que este aumento da produtividade vai chegar ao ponto é que não aumenta mais e aí é necessário aumentar a superfície, mas neste momento na superfície que cada família produz há margem para grande expansão da produção e da produtividade”, concluiu João Mosca.

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