Na mesma semana em que manifestações agressivas explodiram em Londres incitadas por trocas de mensagens entre usuários de BlackBerry Messenger, aplicativo de mensagens instantâneas dos smartphones da Research In Montion (RIM), a rede social de Mark Zuckerberg anunciou o Facebook Messenger. Tanta força de um app e tanto investimento em programas similares, que permitem ao usuário conversar mais rapidamente através de seus dispositivos móveis, não são por acaso. Não apenas os fabricantes de smartphones como a RIM, mas também as redes sociais descobriram o lucrativo mercado da troca de mensagens que vai para além do SMS (do inglês, Short Message Service).
No comunicado sobre a novidade, o engenheiro do Facebook Lucy Zhang explica: “o Messenger é um aplicativo distinto: basta um clique para receber ou enviar as suas mensagens, que são entregues por meio de notificações e textos, o que aumenta a probabilidade dos seus amigos receberem-nas imediatamente. Você pode usar o Messenger para falar com todos os seus amigos – estejam eles na sua lista do Facebook ou nos contatos do seu celular. Basta digitar o nome da pessoa.
O aplicativo Messenger é uma extensão das mensagens do Facebook, o que significa que todas as suas conversas ficam agrupadas num único local, incluindo os seus textos, bate-papos, e-mails e mensagens. Assim sendo, não importa se você está a usar o seu celular ou navegando na web, o histórico completo de todas as suas mensagens está sempre disponível”. Lançado para iPhone e para smartphones com Android, o Facebook Messenger está inicialmente restrito aos Estados Unidos, mas já causou furor em todo o mundo e despertou o interesse da mídia internacional.
Ao contrário da BlackBerry e da Apple, que possuem programas de mensagens instantâneas gratuitos, mas que também têm contrato com operadoras de telecomunicações móveis, o Facebook não é, pelo menos por enquanto, do mesmo ramo. Através do aplicativo original do Facebook, como explica um artigo da CNN, o usuário do Facebook já consegue falar com seus amigos por mensagens, mas da mesma forma que no site, mas só. O Facebook Messenger torna-se, então, o primeiro aplicativo autônomo da rede social de Zuckerberg e a sua primeira incursão no mundo das telecomunicações de fato.
O Facebook Messenger é o resultado direto da compra da Beluga em março deste ano. O Beluga é um programa que permite ao usuário incluir fotos e coordenadas de localização com as mensagens e também o envio de mensagens de texto para números de telefones, muito do que faz hoje o app do Facebook. De acordo com a CNN, no início do ano, quando engenheiros da Beluga foram para a sede do Facebook em Palo Alto, na Califórnia, Adrew Bosworth, diretor de produto da rede social, disse que “um clique na tela inicial é uma característica valiosa”, dando a entender que um novo app é melhor do que o usuário ter a necessidade de abrir o aplicativo original do Facebook para procurar novas mensagens. Segundo ele, em entrevista dada antes do anúncio desta semana, o programa foi construído para uma convergência entre dispositivos móveis e web e e-mail e um monte de coisas.
Naquela época, antes do nascimento do Facebook Messenger, Bosworth já apontava para o óbvio: as operadoras de telefonia celular em nada gostariam de um aplicativo desses. Afinal, elas obtêm algum lucro com planos de mensagens de texto (SMS) e de taxas em cima de mensagens enviadas para número de outras operadoras. “SMS para SMS: esses são controlados pelas operadoras. É um circuito fechado”, disse ele em março.
Redes sociais versus operadoras
Perigo para as operadoras de telefonia móvel, o Facebook chega para ser uma pulga atrás da orelha também dos fabricantes de smartphones, especialmente da RIM, responsável pelo BlackBerry Messenger, e da Apple e seu iMessage, que permite que usuários de iPhone, iPod Touch e iPad mandem mensagens de graça para outros usuários desses mesmos produtos da Apple. Já anunciando por Steve Jobs, fundador da Apple, o iMessage deve ser lançado em breve como parte da versão 5 do iOS, sistema operacional para dispositivos móveis, e funcionará em redes Wi-FI e 3G inicialmente.
O BlackBerry Messenger funciona de forma similar ao Facebook Messenger, só que através do número do PIN dos smartphones, com a vantagem de que além da troca de mensagens e fotos, o usuário recebe por ele suas notificações nas redes sociais, inclusive a de Mark Zuckerbeg, Twitter e de e-mails. O BBM já é amplamente utilizado em grandes corporações e, como se viu recentemente, entre jovens revoltados do Reino Unido que enviaram pelo serviço dos smartphones BlackBerry a mensagem: “Todo mundo, de todas as partes de Londres, vá para o coração de (o centro de) Londres, OXFORD CIRCUS!! Lojas abertas serão destruídas, então venham pegar alguma coisa. Se você vir um irmão… SAÚDE! Se você vir um cana…. ATIRE!”. A RIM disse em julho que o seu BBM conta com mais de 45 milhões de usuários em todo o mundo, de acordo com o jornal The Guardian.
O BlackBerry Messenger e impressiona como um aplicativo que aparentemente parece similar ao SMS e pode ser muito mais instantâneo. Talvez pelo fato de não ser taxado, do aviso vermelho que pisca, ou mesmo da rapidez como outra pessoa pode responder a sua mensagem, a verdade que com através do BBM troca-se muito mais do que mensagens de texto.
Obviamente, o Google também está na mira do Facebook com seu Messenger: há poucos meses, o gigante das buscas lançou seu Google+ e com ele o Huddle, serviço de trocas de mensagens individuais ou em grupo entre usuários da rede social via smartphone. O Huddle também possibilita que o usuário envie mensagens em grupo e para Android (2.1 ou superior) apenas. E isso tudo além do Google Voice, de 2009, serviço que providencia um número de telefone para o usuário, que o usa (e paga) tal como um telefone comum, porém, pela internet, ao modo Skype.
Bosworth, segundo a CNN, afirmou que esse tipo de aplicativo como o Facebook Messenger está tomando o espaço dos SMS e movendo-o para longe daquele circuito fechado e colocando-o em outro espaço. A respeito do assunto, Marni Walden, chefe de Marketing da Verizon Wireless, uma importante operadora dos Estados Unidos, disse à CNN que a empresa pretende, eventualmente, passar todos os seus serviços para a rede 4G LTE e que ainda não sabe como ficaria o preço dos SMS. Walden disse também que as telecons estão em uma posição da qual sempre precisam evoluir para gerar receita para seu negócio e que a Verizon não vai fugir do que está acontecendo lá fora, que eles vão inovar mais ou integrar as novidades aos seus dispositivos melhor do que ninguém, ao invés de bloqueá-los.
Neste sentido, vale lembrar que para além do mercado de redes sociais e de fabricantes de smartphones, outras empresas do setor de tecnologia já descobriram este “filão”. O WhatsApp Messenger já é utilizado por 800 mil pessoas só no Reino Unido, enquanto os canadenses se inscrevem no Messenger Kik. Os dois são aplicativos para smartphones que aproveitam a conexão à internet, seja via Wi-Fi ou 3G, para conectar os usuários gratuitamente.