Um ex-guerrilheiro marxista e o seu adversário de direita declaram-se vitoriosos na eleição presidencial de El Salvador, após resultados oficiais que apontaram uma estreita vantagem a favor do candidato de esquerda.
Salvador Sánchez Ceren, da governista Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) – que como grupo rebelde combateu uma série de governos pró-EUA na guerra civil de 1980 a 1992 -, recebeu 50,11 dos votos na eleição de domingo, segundo os resultados preliminares.
O desafiante Norman Quijano, de 67 anos, ex-prefeito de San Salvador e candidato pela direitista Aliança Republicana Nacionalista (Arena), ficou com 49,89 por cento. Ele apontou fraude e disse ser o verdadeiro vencedor. Apenas 6.634 votos separaram os dois, o que gera a perspectiva de contestações judiciais ao resultado e um mandato fraco para o vencedor.
“Não vamos permitir a fraude… Estamos 100 por cento convencidos de que vencemos”, disse Quijano. “Não vão nos roubar a vitória. Vamos brigar, se necessário com as nossas vidas.”
A autoridade eleitoral havia dito anteriormente que a vantagem de Sánchez Ceren seria insuperável, mas não o declarou formalmente como vencedor, alegando que era preciso avaliar as impugnações de algumas urnas e aguardar a contagem definitiva.
Sánchez Ceren declarou vitória após os resultados preliminares que apontavam sua vantagem e prometeu governar para trabalhadores e empresários.
“Vamos governar para todos, para aqueles que votaram em nós e para os que não votaram”, disse o atual vice-presidente, de 49 anos, a simpatizantes. Sánchez Ceren havia tido 49 por cento dos votos no primeiro turno, em fevereiro, dez pontos percentuais a mais do que o rival.
Como ficou a apenas um ponto percentual de evitar o segundo turno, era visto como amplo favorito para a votação de domingo. Mas Quijano cresceu no último mês entre os conservadores moderados, ao retratar seu rival como um comunista com sangue nas mãos, disposto a promover uma guinada a esquerda e impor políticas radicais.
Na primeira volta, a principal promessa de campanha do opositor era colocar o Exército nas ruas para combater as quadrilhas conhecidas como “maras”.
Na reta final, ele alterou sua estratégia e passou a alertar para o risco de “venezuelização” de El Salvador. Mas Sánchez Ceren – que é o nono filho de um carpinteiro e foi professor rural antes de aderir à guerrilha – e outros líderes da FMLN moderaram suas políticas desde os acordos de paz de 1992, quando a guerrilha virou partido político.
Se confirmada, a vitória de Sánchez Ceren dá um segundo mandato consecutivo à FMLN. O afável vice-presidente, de 69 anos, promete ampliar os programas sociais do atual presidente, Mauricio Funes, o que inclui a distribuição de um copo de leite por dia a crianças nas escolas, além de uniformes e materiais.
A FMLN diz que suas políticas sociais no governo Funes reduziram a pobreza de 40 para 29 por cento. Mas esses programas contribuíram com uma forte elevação na dívida nacional, e o crescimento económico tem sido fraco.