Numa manhã de segunda-feira, pestanejava mil vezes por segundo, não tinha lavado a cara ainda. De tshirt furada no umbigo e calções enfadadas pela esteira em que dormia, fiz-me descalço a rua e, passou me à face um grupo de rapazes em que alguns traziam pastas de costas e a maioria trazia nas mãos uns cadernos velhos quase a desfolharem.
Os miúdos, todos com glória vozeavam enquanto passavam como se estivessem em festa. Pareciam criaturas angêlicas em via duma missão divina. De tanto apreciar inserir-me, segui aquele grupo até que fomos entrar numa vasta sala. Repentinamente entrou um senhor com uma pasta espécie maleta na mão esquerda e na mão direita três paus de giz. Todos os meninos ficaram de pé e ecoaram a voz de trompeta. Imitei. – bom dia senhor professor. – bom dia obrigado – correspondeu olhando atentamente para mim. – como está de saúde? – replicaram os meninos enquanto eu baloiçava em imitações terminando sozinho as últimas palavras. – estou bem, e vocês? – avançou. – estamos bem obrigado. – sentem-se. Sentamo-nos todos.
Aquele senhor olhava-me meio preocupado e, fez-me perguntas que dificilmente respondi devido a língua portuguesa que não me era fácil. – como te chamas? – Chiquito – respondi de olhar posto no chão. – onde está o caderno? – não tenho. O senhor mostrou-se interessado em continuar a conversa mas, o tempo não permitia. – arranja uma folha mas, amanha traga caderno – disse ele. Um braço alongou-se vindo de traz. Trazia-me uma folha de caderno e um bico de lápis de carvão sem pau, ou seja sem pega.
Enquanto aquele senhor esbranquiçava com giz o quadro escuro da vasta sala sem carteiras, eu a letras gigantes escrevia: “A, E, I, O, U”. só sabia isso em termos alfabéticos, hoje estou certo de que o professor não mandou fazer aquilo mas, para me agradar traçou na minha folha um sinal de certo a tinta vermelha, eu nem o significado daquilo sabia. Tocou para intervalo, só hoje sei que aquilo era intervalo pois sai logo para casa. Minha mãe estava preocupada, percebi quando entrei. – onde estavas Chiquito? – na escola – respondi exibindo o meu papel de vogais e sinal de certo. – escola!?
Comecei a coçar a barriga que a esse ritmo estrondeava, a mama colocou num prato raso de plástico um monte de xiguinha e me entregou amorosamente. Dilacerei aquilo em breves segundos e me limitei olhando por vezes ao prato e por outra a minha mãe que me entendeu a preocupação e abanou negativamente a cabeça. – acabou xiquento – disse ela. Desanimado, estendi a esteira na sala única da casa ou casinha do tipo-1. com um olhar sereno a mama lançou uma pergunta de curiosidade. – amanhã irás a escola? – se conseguir caderno.