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Escritor explica porque é que o matrimónio vacila

Escritor explica porque é que o matrimónio vacila

Se os seus planos não se frustrarem e, consequentemente, a sua primeira obra literária – Coração Refugiado – for publicada, finalmente, os seus fãs e leitores saberão porque é que, nos nossos tempos, o matrimónio vacila. O seu nome é Juvenal Pilica. Contraiu o vírus da literatura, na sua mocidade, e não pára de escrever.

É Dezembro de 2013. Estamos na cidade de Nampula, onde uma série de acontecimentos – bons e maus – animam as gentes locais. O dinamismo artístico-cultural é um dos eventos sobre o qual temos a tarefa de escrever. Para reportarmos os feitos que se registam. Mas, infelizmente, ainda que os artistas locais sejam – por natureza – pepitas humanas, diamantes por lapidar, ou simplesmente, talentos que acrescem valor às nossas artes, eles têm o seu desenvolvimento condicionado.

É impossível ignorar esse quadro. Enfrentemo-lo. É que, apesar de nos tempos actuais, os jovens dessa terra das “muthiana orera” não terem paixão nenhuma pela literatura – enquanto uma forma de expressão artística – aqui se encontra o multifacetado artista moçambicano Juvenal Pilica. Ele pratica teatro, dança, declama e escreve poesia. Fá-los desde a sua infância.

Pessoas existem que relacionam o seu grande envolvimento com as artes com o contexto em que nasceu. A maior parte dos seus familiares cultua as artes, realizando inúmeras manifestações culturais. Em 2004, aos 14 anos, altura em que frequentava a 8ª classe do ensino secundário geral, Pilica participou num concurso literário organizado pelo Grupo de Dança dos Montes Namúli. O escriba conquistou a terceira posição – o que o estimulou a tornar-se membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, AEMO, a nível da cidade de Quelimane, província da Zambézia. Acredita- -se que é por lá onde consolida, continuamente, a sua maturidade artística como escritor.

É, portanto, em 2006, altura em que o jovem frequenta a 10ª classe que a sua relação com a escrita se torna mais intimista. Aliás, na altura, decorriam os preparativos do Quinto Festival Nacional da Cultura. Juvenal queria participar no evento. Por isso, concorreu com o poema Aquelas Engravidadas Ruas que lhe valeu um passaporte para lá estar. A crítica favorável que recebeu nesse âmbito foi outro estímulo que assegurou que continuasse a sua jornada como escritor. Além do mais, Juvenal Pilica começou a perceber a possibilidade de editar livros.

“A literatura é uma entrada e saída para outras formas de arte. Se uma pessoa tem a capacidade de escrever sobre uma determinada realidade, significa que ela pode ter a habilidade de fotografá-la, encenar uma peça de teatro ou musicá-la. Nesse sentido, gosto de fazer a literatura”, refere o escritor cuja meta é publicar um livro a fim de ter o ‘feedback’ das pessoas sobre o seu trabalho.

De uma ou de outra forma, apesar de praticar continuamente a literatura, Juvenal Pilica não abandonou o teatro e a dança tradicional. Essa é uma forma de valorizar a cultura moçambicana. “Quero manter a cultura dos meus antepassados e mostrar aos jovens que só praticando as nossas artes – o teatro e a dança tradicional – é que se pode superar os mitos e os preconceitos que existem em torno dos mesmos”, diz.

A sobrevalorização que Pilica concede à literatura quando comparada com as outras formas de arte deve-se a uma simples razão: “É um privilégio fazer a literatura na medida em que quando se pretende apresentar uma determinada peça teatral recorre- -se, antes de mais, a algo que está escrito. Isso significa que tudo, nas artes, depende da literatura”.

Em 2011, Juvenal Pilica viaja para a cidade de Nampula a fim de dar continuidade aos seus estudos. Lá, mais uma vez, integrou-se na AEMO bem como na Associação Anamupuela, ou, simplesmente, Os Pensadores, que é composta por actores, escritores, fotógrafos, artistas plásticos e músicos. Foi através dessa agremiação que, em 2012, Pilica teve a oportunidade de participar no concurso de poesia promovido pelo Instituto Camões em homenagem ao poeta português Luís Vaz de Camões. Juvenal apresentou um tema a partir do qual fez o retrato da vida e obra camoniana o que, no seio de 26 concorrentes, lhe valeu a melhor classificação.

Desamparo descontinua a arte

No seio de quase todos os artistas, em Nampula, já é voz comum que o desapoio generalizado à produção artística – por parte das entidades de direito – é um factor que concorre para a descontinuidade da produção das artes. Sobre o assunto, Juvenal é categórico: “Não há incentivo à literatura em Nampula”. O desamparo é maior para a nova geração de artistas, muitos dos quais tentam sobrepor-se ao anonimato. “Nós, os artistas mais novos, que ainda não temos nome na praça, apesar de termos uma produção com qualidade acentuada, acabamos por arquivar as nossas obras, porque ninguém nos conhece e ninguém nos quer apoiar”.

É por essa razão que Juvenal Pilica refere que em Nampula a literatura – e os seus fazedores – carece de agressividade nas suas acções, para transpor as barreiras que se lhe impõem. Trata-se de um cenário que está a minar o desenvolvimento desse sector artístico, em Nampula, contribuindo igualmente para o desaparecimento de novos talentos que querem apostar na literatura. De uma ou de outra forma, “apesar destes constrangimentos, não vou deixar de me dedicar à literatura”.

Os livros

Neste momento, Juvenal Pilica possui três livros escritos – dois romances (a serem editados pela Ndjira, uma editora do grupo Leya) e uma obra poética. Meus Sentimentos Vovô Bianice – A Minha Origem, Coração Refugiado e Os Dias de Quem Viveu são os seus títulos. Na primeira obra, o autor discute temas vários sobre os quais realiza a sua crítica social.

Percebe-se como uma voz do povo a partir da qual, respeitando a sua ancestralidade, procura expressar o seu amor ao próximo, muito em particular em relação à pessoa a quem devemos a vida. “Temos de respeitar os nossos progenitores porque é a eles que se deve a nossa existência. Nesse sentido, condeno as pessoas que agridem e maltratam os seus pais”.

Em Coração Refugiado – o segundo livro – está-se diante de uma entidade em busca da felicidade, expressando um amor não retribuído. A realidade deve-se ao facto de, nos últimos tempos, se assistir na nossa sociedade a relações amorosas mais motivadas por bens materiais do que pelo próprio amor. É isso o que faz com que as pessoas não encontrem a felicidade, acabando por deixar os seus corações refugiarem-se em alguém, o que, quando descoberto, é frustrante.

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