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Escritor americano J.D. Salinger morre recluso aos 91 anos

O romancista americano J.D. Salinger, que faleceu na quarta-feira aos 91 anos, foi um gigante da literatura americana, e sua obra-prima, “O apanhador no campo de centeio” (“The catcher in the rye”), tornou-se ícone da angústia e do desespero sentidos por gerações de adolescentes deslocados.

Com o sucesso de Holden Caufield, seu lacónico anti-herói do romance de 1951, Salinger se tornou um dos mais admirados e influentes escritores dos Estados Unidos. No entanto, vivia completamente recluso, parou de publicar suas histórias em 1965 e, desde 1980, não concedia uma entrevista sequer. Salinger morreu na casa onde vivia, no estado de New Hampshire, informou na quinta-feira sua agência literária, a Harold Ober Associates. A causa da morte não foi revelada.

A maior parte de sua vida nas últimas cinco décadas é cercada de mistério. Irritado com a fama, Salinger se retirou da vida pública, isolando-se em uma casa afastada de tudo, construída sobre uma colina cercada de bosques na pequena cidade de Cornish, New Hampshire. Livros de memórias escritos recentemente por sua filha, Margaret, e por uma ex-amante, Joyce Maynard, afirmam que Salinger ainda escrevia, embora não desse nenhum sinal de pretender publicar uma só linha. Em uma rara entrevista concedida em 1980 ao jornal Boston Sunday Globe, Salinger disse: “Eu amo escrever, e garanto a você que escrevo regularmente. Mas eu escrevo para mim mesmo, e quero ser deixado absolutamente sozinho para fazê-lo”.

Jerome David Salinger nasceu em 1º de Janeiro de 1919 em Manhattan, Nova York, filho de pai judeu de origem polonesa e mãe irlandesa, convertida ao judaísmo. Começou a escrever histórias ainda adolescente. Em 1940, publicou sua primeira história, “The young ones”, na revista Story. Pouco depois, os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, e o jovem Salinger foi recrutado em 1942.

Ele participou da invasão da Normandia no Dia D, e acredita-se que as experiências vividas na época da guerra o marcaram para sempre. Depois da guerra, Salinger se casou com uma alemã, mas poucos meses depois o casal se separou. Em 1948, publicou o conto “A perfect day for bananafish” na New Yorker, no qual apresentou ao mundo a família Glass e suas sete crianças: Seymour, Buddy, Boo Boo, Walt, Waker, Zooey e Franny, que apareceriam depois em várias histórias. No entanto, foi com “O apanhador no campo de centeio”, seu primeiro romance, publicado três anos depois, que J.D. Salinger selou sua reputação. O livro alcançou sucesso imediato, e até hoje é leitura obrigatória em muitas escolas – vende cerca de 250.000 cópias por ano.

As aventuras e desventuras de Holden Caufield, que aos 16 anos foge do colégio do qual havia sido expulso e passa alguns dias sozinho em Nova York antes de voltar para casa, fascinaram inúmeras gerações de jovens. Na época, o livro foi criticado pelo uso liberal de palavrões e pelas referências abertas à sexualidade. Em alguns países, chegou a ser proibido. Salinger sempre foi uma pessoa reservada, e a fama tornou-se-lhe verdadeiramente opressiva.

Em 1953, deixou a agitada Nova York para se instalar em Cornish, na esperança de ser poupado dos holofotes. Outras coletâneas de contos e romances bem-sucedidos se seguiram ao “Apanhador no campo de centeio”, como “Franny e Zooey”, até 1965, quando “Hapworth 16: 1924” foi puvlicado na revista New Yorker. “Há uma paz maravilhosa quando não se publica. É pacífico”, afirmou Salinger em 1974, quando quebrou mais de 20 anos de silência em uma entrevista dada por telefone ao jornal The New York Times. “Publicar é uma terrível invasão da minha privacidade.

Eu gosto de escrever. Eu amo escrever. Mas eu escrevo apenas para mim e para meu próprio prazer”, decretou. Em 1955, casou-se novamente, desta vez com Claire Douglas, na época uma jovem estudante, com quem teve dois filhos, Margaret e Matt. Em seu livro de memórias “The dream catcher”, a filha descreve o pai como um homem autoritário que mantinha sua mãe “praticamente como uma prisioneira”. O casal se divorciou em 1967, e em 1972 Salinger inciou seu longo relacionamento com Joyce Maynard, então com 18 anos, que conheceu trocando cartas.

Em 1999, algumas das cartas escritas pelo romancista a Maynard foram leiloadas por mais de 150.000 dólares. Salinger permaneceu na casa de Cornish até o último dia de sua vida. Desde os anos 80, era casado com Collen O’Neill. Ele defendia sua privacidade com unhas e dentes, mesmo quando aparecia nos tribunais para processar a eventual publicação de alguma de suas cartas.

Ele recusou todas as ofertas feitas para adaptar “O apanhador no campo de centeio” para o cinema, ou mesmo para escrever uma continuação para a história. “Não há mais nada sobre Holden Caulfield. Leia o livro novamente. Está tudo lá. Holden Caulfield é apenas um momento congelado no tempo”, disse Salinger certa vez ao Boston Globe.

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