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Escassez e filas aumentam sofrimento de miseráveis na Venezuela

As enormes filas nos supermercados e a escassez de produtos básicos tornaram-se norma na Venezuela no último ano, e os mais necessitados estão cada vez mais acuados por isso.  Os trabalhadores nos refeitórios que oferecem alimentos aos sem-tecto enfrentam uma crescente dificuldade para encontrar arroz, lentilhas, farinha e outros produtos necessários para o fornecimento de uma refeição quente por dia.

“Passo horas por dia na fila porque só dá para conseguir uma coisa um dia, outra no outro”, disse Fernanda Bolívar, de 54 anos, que há 11 trabalha no “sopão” Madre Teresa, mantido pela Igreja Católica num beco do centro de Caracas.

“A situação ficou terrível no ano passado”, disse ela na surrada cozinha da instituição, que homenageia a freira famosa por ajudar os miseráveis da Índia. Bolívar, que decidiu ajudar o próximo depois de ela própria passar fome, há uma década, faz almoço diariamente para cerca de 50 pessoas, que se sentam em mesões de concreto dentro do mal iluminado albergue, que costuma alagar na época das chuvas.

Como muitos outros consumidores venezuelanos, para conseguir os ingredientes ela precisa de acordar às 4h e vai para a fila do supermercado próximo, onde às vezes passa horas na companhia de centenas de outras pessoas. O número que marca o seu lugar na fila é rabiscado na sua mão.

Os adversários do presidente Nicolás Maduro dizem que as filas são um constrangimento nacional e um símbolo do fracasso de uma economia socialista semelhante à da extinta União Soviética. Mas as autoridades dizem que os empresários estão deliberadamente a armazenar produtos como parte de uma “guerra económica” contra o presidente.

Eles citam os populares programas assistenciais e a redução pela metade dos níveis da pobreza nos últimos 15 anos como prova de que os pobres venezuelanos estão a melhorar como nunca desde que o antecessor de Maduro, Hugo Chávez, chegou ao poder. O governo iniciou este mês um sistema de identificação que rastreia as compras feitas por consumidores a preços subsidiados em supermercados estatais.

As autoridades dizem que isso coibirá o acúmulo de armazenamentos e garantirá uma distribuição equitativa de alimentos a preços baixos para os mais necessitados. Os críticos dizem que o novo sistema lembra as cadernetas de racionamento que vigoram em Cuba, e que isso ilustra a chocante situação económica.

O governo mantém uma rede de albergues e refeitórios chamada Missão Negra Hipólita, que funciona junto a instituições católicas como o Centro Madre Teresa, sob uma ponte no bairro San Martín.

Lá, num dia recente, algumas pessoas que comiam sopa de lentilha se queixavam da falta de carne – mas ainda assim deglutiam com gratidão as várias conchas de comida depositadas em cada prato.

“Venho todos os dias há anos, já sou da família aqui”, disse o desempregado Vladimir Garcia, de 56 anos, diante de um grande prato de sopa. García tem ajudado Bolívar a organizar a fila no local.

“Talvez o socialismo tenha feito muito pela Venezuela, mas nunca tivemos essas filas enormes para tudo antes. Nem essa escassez de produtos alimentícios”, afirmou. “É uma loucura para uma nação tão rica.”

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