A catedral do futebol moçambicano vai ser palco, no domingo, de um jogo de extremos. Os Mambas, em estado de graça com o público, recebem a poderosa selecção da Nigéria, a terceira melhor posicionada a nível de África no ranking mundial. Mas, Martinus Ignatius Maria já deu a receita para ganhar: atacar! Resta, porém, saber se os seleccionáveis chegam para ‘confeccionar’ a vitória.
O treinador holandês não tem pejo em afirmar que não há motivos para temer a Nigéria, pois, no seu entender, a selecção nacional é constituida por jogadores experientes e que já provaram a sua capacidade perante grandes equipas do futebol africano, nomeadadmente Costa do Marfim e Senegal, destacou.
Para este embate, Mart conta com três regressos: Paíto volta depois de uma ausência prolongada devido a lesão tendo realizado a última partida contra o Madagáscar na terceira jornada da primeira fase. Genito, também por lesão, não jogou na partida amigável contra o Malawi. O guarda-redes Kampango não defrontou o Botswana por lesão e o amigável contra o Malawi por razões que dizem respeito ao clube que representa, o Tersana, do Egipto.
Na conferência de Imprensa de antevisão ao embate, Mart referiu ainda que o forte do combinado nacional é o ataque. Contudo, apontou o sector defensivo como o mais coeso da equipa de todos nós. E salientou que: “na nossa casa não podemos deixar que a Nigéria seja forte. Temos um meio-campo equilibrado que muitas vezes cria desequilíbrios com as investidas de Dominguez e de Genito”.
A uma pergunta sobre os constrangimentos que as condições físicas de Genito podem impor aos Mambas, respondeu com prontidão: “O mais importante é o controlo emocional”.
Equipa técnica fez o trabalho de casa
A equipa técnica está suficientemente informada do poderio actual da Nigéria, uma vez possuir todas as informações que julga ser relevantes do adversário. A FMF enviou para Londres, Inglaterra, o secretário técnico, Abdul Abdulá, visando acompanhar a partida amigável que Obi Mikel e companhia disputaram com a selecção da terra de Bob Marley, a Jamaica.
Para além disso, a direcção da FMF já disponibilizou ao quadro técnico todas asvideocassetes dos últimos jogos das selecções da Nigéria, Tunísia e Quénia.
Como joga o
adversário
Uma equipa que joga um futebol táctica e tecnicamente adulto, embora defensivamente menos rigoroso, pois concede muitos espaços. É, assim, no ataque, com força atlética e imaginação que o onze cresce no jogo, esquematizado num 4x3x3 que, na fase final ofensiva, se transforma num claro 4x2x4.
Principais intérpretes: Obinna, avançado rápido e habilidoso, do Inter de Milão; Taiwo, lateral esquerdo ofensivo, sabe ir á linha e cruzar com precisão; Mikel, médio centro que joga de área a área, entrando de trás, com sentido de oportunidade, nas costas dos avançados. Para além deles, a experiência de Nwankwo Kanu.
Como travar Mikel e companhia
Para bater esta Nigéria é preciso deixar um atleta cerebral como Genito jogar. O meiocampista, ex-maxaquene, lê o jogo sempre alguns segundos antes dos demais jogadores em campo. Quando os demais jogadores se sentem dominados, mais do que jogar, Genito tem a preocupação de ordenar o jogo. Aparece quando o jogo se parte e os avançados não recuam para pegar no jogo. Grita com eles. Pede para se aproximarem. De cada vez que sobe, defende-se do desgaste físico e mantém controlado o esforço de recuperação. Aliado ao rigor táctico de Genito um jogador pode marcar a diferença: Dominguez, obviamente, se puder jogar livre de tarefas defensivas, com total liberdade para desequilibrar, procurar espaços, puxar adversários e, desse modo, deixar espaços de perfuração para Dário e Tico-tico.
Os adeptos
Os moçambicanos, regra geral, depositam fé numa vitória dos Mambas. Numa pequena sondagem que fizemos na cidade de Maputo e arredores, a maior parte das pessoas aponta para uma vitória dos Mambas por duas bolas sem resposta e apelam para que os moçambicanos afluam em massa ao estádio visando apoiar a equipa de todos nós.
É possível
Para nos inteirarmos da possibilidade de os Mambas baterem a Nigéria e, quiçá, qualificarem-se para as duas competições, CAN e Mundial, procurámos ouvir dois técnicos conceituados do futebol moçambicano, designadamente Artur Semedo e Mussá Osman.
Mussá começou por recordar que desde que o actual técnico dos Mambas está no comando desta selecção, Moçambique só perdeu um jogo. “Perdemos com uma selecção pequena no contexto do futebol africano”, disse numa alusão ao Botswana que bateu o combinado nacional por três bolas a uma, naquilo que foi considerado, na altura, uma vergonha nacional.
O técnico do HCB acredita que é possível bater a Nigéria, pois a selecção revela indíces de confiança muito elevados, “fruto do trabalho desenvolvido pelo novo técnico”. E, para consubstanciar a hipótese por si aventada, Mussá recordou que grandes selecções não passaram no estádio da Machava.