O presidente do Parlamento russo, Boris Gryzlov, um dos principais dirigentes do partido governista Rússia Unida, anunciou esta quarta-feira que não assumirá o mandato de deputado para o qual foi reeleito na semana passada. A decisão, aparentemente, visa a esfriar os ânimos da opinião pública russa, em meio a suspeitas de manipulação das eleições em favor do Rússia Unida.
Protestos da oposição contra o resultado têm abalado a autoridade do primeiro-ministro Vladimir Putin, que pretende disputar a presidência em março. “Decidi hoje rejeitar meu mandato como deputado”, disse Gryzlov no site do partido, acrescentando que “não seria correto manter o posto de presidente da Câmara por mais de dois mandatos consecutivos”.
Presidente da Duma (Câmara dos Deputados) desde 2003, Gryzlov chefia também o Conselho Supremo do Rússia Unida, o que faz dele um poderoso símbolo de um sistema político dominado há mais de uma década por Putin e seu grupo.
A eleição parlamentar de 4 de dezembro deu novamente maioria parlamentar ao Rússia Unida, mas a bancada do partido caiu de 315 para 238 deputados. O partido teve 49,3 por cento dos votos e adversários dizem que o resultado foi inflacionado por fraudes. As denúncias se espalharam pela internet e no sábado dezenas de milhares de pessoas participaram de protestos em várias cidades, exigindo a repetição das eleições e pedindo uma “Rússia sem Putin”.
O atual primeiro ministro já foi presidente do país entre 2000 e 2008, quando transferiu o cargo a seu afilhado político Dmitry Medvedev, mas continuou sendo o político mais influente do país. A renúncia de Gryzlov será vista como uma vitória para os manifestantes, mas talvez não os satisfaça.
Alguns observadores já esperavam que Putin articularia o seu afastamento e tentaria se distanciar do partido – que sempre foi menos popular que ele próprio. Putin é o presidente do Rússia Unida, embora não seja oficialmente filiado.
Gryzlov, que completa 61 anos na quinta-feira, tinha direito a uma vaga de deputado por causa da sua posição na lista partidária. Qualquer candidato com direito a vaga pode abdicar e passar a vez para o próximo na lista. O ex-ministro do Interior é sempre lembrado por críticos por ter declarado certa vez que a Duma “não é lugar de discussões”, o que para a oposição é uma frase que resume o estilo legislativo do Rússia Unida.