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Em Nampula, o problema da falta de água deriva de má gestão

Em Nampula

Foto Leonardo GasolinaO acesso a àgua potável, por parte da população, continua a ser, até aos dias de hoje, uma incógnita em Moçambique, e são apontadas como principais razões da falta do precioso líquido questões de clima e escassez de fontes que possam garantir o seu abastecimento em todas as épocas do ano. A população, na cidade de Nampula, defende que não há falta de água, pelo contrário, o problema está na gestão que considerada desastrosa, uma vez que em quase todos os bairros daquela parcela de país registam-se fugas que chegam a durar mais de 45 dias sob o olhar impávido do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG).

Segundo cidadãos entrevistados pelo @Verdade, o problema de água é resultado da falta de vontade de quem de direito. Não se justifica que numa cidade como Nampula não haja água para os citadinos, dado que naquela circunscrição nasce um rio com uma capacidade de conservá-la durante 365 dias.

As fábricas que estão instaladas na cidade de Nampula nunca sofrem tal restrição, pese embora as torneiras de ligações domésticas fiquem durante semanas sem jorrar sequer uma gota do precioso líquido. No entender dos nossos entrevistados, a entidade responsável pelo abastecimento de água privilegia mais a colecta de dinheiro em detrimento do povo.

Para fazer face a esta problemática, a população em Nampula recorre a fontes dispersas como poços artesianos e fontanários construídos por intermédio dos fundos próprios. Contudo, as poucas torneiras públicas existentes na terceira maior cidade do país encontram-se secas há muito tempo, o que faz com que haja luta nos locais onde escorre um pouco de água própria ou imprópria para o consumo.

Com bidões e baldes, vêem-se, todos os dias, citadinos com particular destaque as mulheres e crianças, a deambular nas diferentes artérias da cidade à procura de água para consumo diário. Não importa se a esta é limpa ou não, pois a população na cidade de Nampula apoia-se no ditado “na falta do melhor, o pior serve”.

Esta movimentação de pessoas é notória em todos os cantos da urbe e em alguns casos, a procura de água ofusca as agendas das visadas. As longas filas que se registam nas fontes, onde a água é tirada, não permitem que as mulheres e crianças consigam cumprir todas as actividades por si planificadas. Há, em Nampula, raparigas que abdicam das aulas para garantirem a água nas suas casas.

Foto Leonardo GasolinaSandra Albino, cidadã de 33 anos e mãe de quatro filhos, é residente do bairro suburbano de Natikiri, onde o acesso a água potável é raro – diga-se de passagem, um luxo. E, por conta disso, Sandra é obrigada a abandonar a cama às 04h00 para ir procurar água. Ela percorre sete quilómetros para obter o precioso líquido.

Com a sua filha de apenas 10 anos, Sandra caminha até à lagoa localizada na zona do Vieira, bairro de Natikiri, onde deve permanecer cerca de três horas por causa do contigente de pessoas que aquele local acolhe. De regresso a casa, a nossa entrevista carrega 35 litros de água em dois bidões, um ( de 15 litros) nos braços e outro (de 20 litros) na cabeça.

A sua filha de nome Atija viu-se forçada, muito cedo, a carregar um peso fora das suas capacidades físicas. A petiz transporta 20 litros de água numa distância de mais ou menos sete quilómetros e as suas características físicas, medidas pela sua robustez, já denunciam tal actividade a que é sujeita no seu dia-a-dia.

O @Verdade conversou com a menor que, os com lábios trémulos e pernas cansadas de tanto suportar o peso de 20 litros de água, disse que não tem outra alternativa.

“Eu sou mulher, amanhã estarei na minha casa com os meus filhos, por isso só posso fazer o que a minha mãe me ensina. É a partir daqui que posso aprender”, disse a pequena Atija.

Uma outra fonte, encontrada pela nossa Reportagem na zona de Mutava Rex, referiu que a problemática da falta de água é solúvel, bastando a vontade dos governantes, pois há dinheiro suficiente, no país, para garantir o acesso à água para todos. A nossa interlocutora disse que sabe que há doações feitas para inverter este cenário, mas o dinheiro tem sido mal aplicado.

Para aquela cidadã, que responde pelo nome de Mariamo Amisse, as atenções do Executivo moçambicano não estão centradas no povo, porque, se fosse o caso, muitos problemas seriam solucionados a curto prazo.

Mariamo justifica a sua opinião com o exemplo de que nas Cervejas de Moçambique (CDN), onde trabalha o seu marido, dificilmente há interrupção de água, mas nas torneiras domésticas fica-se durante muito tempo sem jorrar o líquido precioso, embora as facturas cheguem sempre.

Em Mutava-Rex, num local bastante concorrido por mulheres e crianças para a obtenção de água, pode-se notar uma interminável fila de pessoas que pretendem encher os seus recipientes. Naquele local, toma-se banho e até outras senhoras escalam-no para lavar os seus artigos de vestuário. É de referir que naquela zona habitacional não há cobertura de água potável.

Foto Leonardo GasolinaNo bairro de Mutaunha, o @Verdade falou com uma dona de casa que responde pelo nome de Ana Isabel Moura que lamentou o facto de as torneiras, em quase todos os bairros de Nampula, não jorrarem água por muito tempo, mas registam-se sempre fugas, problema que tem sido ignorado pelo FIPAG.

Ana afirmou que na sua zona nasce um curso de água que os residentes designam por “rio FIPAG”, por conta de um tubo que se rompeu há mais de três meses. A nossa entrevistada disse que ela e outros vizinhos dirigiram-se ao FIPAG por várias vezes para apresentar o caso, mas nada foi feito e a via está danificada por causa daquela fuga.

Sector da Saúde diz que a eclosão de doenças diarréicas deve-se ao consumo da água imprópria

Firmino Anastácio, da Repartição de Saúde Pública no distrito de Nampula, revelou que a população está sujeita a diversas doenças, particularmente, as diarreias e cólera devido ao consumo de água imprópria aliadas ao mau saneamento com que aquela urbe se debate.

“As pessoas não conseguem ter água potável porque não há eficiência no abastecimento”, foi assim que iniciou a sua intervenção no dia 24 de Setembro último, aquando da participação do Terraço Aberto organizado pela Plataforma Provincial da Sociedade Civil de Nampula em parceria com a Helvetas Swiss Intercooperation.

“O sector da Saúde em Nampula tem desencadeado uma actividade de sensibilização, no sentido de a população pautar pela higiene individual e colectiva, mas por causa do abastecimento deficiente de água que registamos, as pessoas são obrigadas a recorrer a águas dos rios e valas para o seu consumo. E o preço disso são as doenças”, rematou Anastácio para em seguida revelar que há zonas em que não sai água há mais de três meses.

Por seu turno, Ermelindo Bonifácio, gestor do FIPAG em Nampula, disse que o problema se agravou, quando o número de fontanários públicos baixou por causa das avarias. Aquele responsável, que admitiu as dificuldades por que a FIPAG passa, apontou Piloto, Namicopo, Cossore como as áreas mais críticas.

Bonifácio, que interveio no Terraço Aberto a que nos referimos, disse que as fugas de água devem-se à construção de casas e a deposição de resíduos sólidos por cima das condutas. Em relação ao deficiente abastecimento de água, o gestor do FIPAG afirmou que o problema é causado pela má qualidade e pelos frequentes cortes de energia eléctrica.

Para minimizar o problema, Bonifácio garantiu que a FIPAG está, neste momento, a canalizar água em algumas zonas de expansão, tendo mencionado a do Waresta, cujo tubo parte da Estação de bombagem número dois.

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