A greve de fome de estudantes opositores ao governo de Hugo Chávez subiu de tom esta semana. Cinco jovens anti-Chávez estão acampados há quatro dias em frente à Embaixada do Brasil em Caracas.
Os universitários querem que a presidente Dilma Rousseff intervenha para que o governo venezuelano receba uma comissão da OEA (Organização dos Estados Americanos) para investigar supostas violações de direitos humanos no país.
De acordo com organizações estudantis de oposição, 83 estudantes participam do protesto que ocorre em oito Estados do país. O principal foco de concentração dos grevistas em Caracas é a sede da OEA, onde universitários afirmam estar há 21 dias sem comer.
“Vamos estar aqui até cumprir o nosso objectivo”, afirmou à BBC Brasil o estudante Gabriel Bastidas, de 20 anos. “Queremos fazer pressão porque sabemos da importância que o Brasil tem na região”, acrescentou.
Os estudantes exigem que o governo permita a entrada no país da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e a libertação de 27 pessoas, consideradas “prisioneiros políticos” pela oposição.
‘Solução interna’
O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, disse que os problemas do país devem ser resolvidos internamente, rejeitando a intervenção da OEA.
“O governo conta com todas as ferramentas para dar respostas a estas situações (…) com diálogo e entendimento”, afirmou Maduro. “O que não se pode pretender é que se liberte pessoas que cometeram crimes”, acrescentou.
Entre os grupo dos chamados “presos políticos” pelos estudantes estão policiais acusados pelo Ministério Público de serem autores de assassinatos que ocorreram durante o golpe de Estado de abril de 2002.
Também aparecem três deputados opositores, entre eles um que é acusado de assassinato e de manter vínculos com paramilitares. A greve estudantil gerou novo mal-estar entre Washington e Caracas. O porta-voz do Departamento de Estado americano Mark C.
Toner afirmou que os Estados Unidos estão preocupados com a saúde dos jovens e pediu que o governo aceite a visita da OEA. Maduro voltou a acusar o governo norte-americano de ingerência e de pretender criar um “Egito virtual” na Venezuela.
Apoio político
Os universitários já enviaram uma carta à Brasília, por meio da Embaixada do Brasil, e aguardam resposta. “Confiamos na presidente Dilma (Rousseff), compartilhamos os mesmos valores democráticos”, afirmou à BBC Brasil Roderick Navarro, de 23 anos.
Para o embaixador da Venezuela em Brasília, Maximilien Arvelaiz, a greve de fome universitária está sendo manipulada por partidos políticos, que na sua opinião, não veem a via institucional como caminho para actuação política.
“Como na Assembleia Nacional eles (a oposição) têm mostrado que não são capazes de promover seus interesses políticos, utilizam esses jovens para promover focos de desestabilização”, afirmou Arvelaiz à BBC Brasil.
Os estudantes passam o dia conectados à internet sem fio para actualizar páginas dedicadas ao protesto em redes sociais.
“Alguém sabe onde podemos conseguir um megafone para o protesto de amanhã? “, pergunta Bastidas no Twitter, anunciando uma manifestação em frente a embaixada do Canadá, para a quarta-feira.
Enquanto conversavam com a reportagem da BBC Brasil, os grevistas se revezavam para receber massagens.
“A massagista é voluntária”, explicam. Os manifestantes afirmam que as macas, cobertores, água e soro, as únicas coisas que dizem ingerir, são doados por vizinhos da Embaixada. A
s prefeituras dos municípios de Chacao e Baruta, redutos da oposição, prestam assistência médica e segurança aos manifestantes, 24 horas por dia.