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Em 2015 as cheias foram a desculpa pelo ano “atípico”, agora o Governo de Nyusi quer justificar mau ano de 2016 com a seca

Em 2015 as cheias foram a desculpa pelo ano “atípico”

Na semana finda o Governo de Filipe Jacinto Nyusi regressou de férias e começou já a ensaiar a desculpa pelo mau ano que tudo indica que será 2016, a falta de chuva. A verdade é que a estiagem que afecta as províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Manica e Tete teve início há mais de um ano e, apesar das previsões atempadas deste cenário, quase nada foi feito para minimizar o impacto deste fenómeno natural. Dramático é constatar que medidas pró activas e antecipadas para mitigar o impacto desta seca não constam no Plano Quinquenal, no Plano Económico e Social e nem mesmo na planificação de quem gere a nossa economia.

O Governador do Banco de Moçambique(BM) revelou que não inclui no seu plano de estabilidade da economia as secas, cheias e ciclones que todos os anos fustigam o nosso país. “(…)Os choques exógenos que nos últimos tempos têm marcado o início de cada ano demandam das autoridades de gestão macroeconómica incorporar no nosso modelo de planificação esta variável, para assim estarmos todos devidamente preparados para responder a estas intempéries, tornando a nossa economia mais resiliente a choques de toda a natureza”, afirmou Ernesto Gove, no conselho consultivo do BM que decorreu semana passada na cidade de Tete.

É que a estiagem que se vive no Sul e Centro foi prevista pelo Instituto Nacional de Meteorologia, “(…)a maioria dos modelos (Estatísticos e Dinâmicos) até apontam em média cerca de 99% de chances de prevalência do El Niño até ao final da época chuvosa” refere a previsão climática sazonal para a época 2015/2016 apresentada em Setembro do ano passado.

“(…)Vamos continuar com o El Nino forte até os meses de Junho e Julho, significa que vamos continuar com problemas de escassez de chuva para as regiões Centro e Sul do país até esse período. As projecções indicam que a partir de Setembro e Outubro, início da próxima época chuvosa, vamos ter algum sinal de aparecimento de um La Nina fraco mas já será um indicativos de ocorrência de chuvas regulares” acrescentou o meteorologista Acácio Tembe, em conferência de imprensa na passada sexta-feira(29), após mais uma reunião do Conselho Técnico de Gestão de Calamidades(CTGC).

Também o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA) prognosticou na altura os impactos da esperada seca na produção alimentar afinal todo o país apresentava “índice baixo até 70% de satisfação das necessidades hídricas das culturas, o que poderá originar stress hídrico e influenciar negativamente”, de acordo com a interpretação do MASA para a estação chuvosa actual.

Ademais, a estratégia nacional de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, que existe desde 2012, antecipou que as mudanças climáticas iriam manifestar-se através do “comportamento irregular das chuvas em termos de momento de início e término, fenómenos de precipitação intensa num curto espaço de tempo” o que poderia desfigurar “as noções de início oficial e real da campanha agrícola, podendo resultar em algumas regiões na diminuição dos rendimentos potenciais”.

Mitigação da seca não está prevista no Plano Quinquenal nem no PES

Apesar destas previsões antecipadas os Planos Quinquenal e Económico e Social do Executivo de Nyusi apenas prevê monitorias, sensibilizações e fortalecimento da coordenação multissectorial no que diz respeito à mitigação do impacto da seca. O resultado é todos os dias mais evidente: milhares de animais a morrerem, campanha agrícola comprometida em milhares de hectares e insegurança alimentar aguda afectando 176.139 pessoas.

Para o Governo de Filipe Nyusi – o Chefe de Estado ainda não esteve nos distritos mais afectados pela seca – a solução é fazer feiras agrárias, divulgação de medidas para uso racional de água, transporte de insumos, produção de feno para alimentar o gado, movimentação do gado para zonas mais baixas e assistência humanitária.

Porém o Estado que esbanja biliões de meticais em equipamento militar, na construção de uma ponte de duvidosa viabilidade para a Ka Tembe, em carros de luxo e de alta cilindrada e noutras mordomias para alguns dos seus servidores não tem capacidade de sequer pôr a funcionar todos os furos de água existentes nas regiões que enfrentam a seca e nem construir mais fontes de abastecimento do precioso líquido para as populações carentes.

É que 153 furos de água vão ser reparados e/ou abertos nas províncias de Gaza e de Inhambane com fundos do Governo Britânico numa iniciativa não do Executivo mais das Organizações Não Governamentais(ONG´s) Concern WorldWide, Oxfam, CARE e Save the Children.

Para minimizar a falta de alimentos estas ONG´s, e o Programa Mundial da Alimentação, vão ainda distribuir durante pelo menos três meses cestas básicas (projectadas para agregados familiar de cinco membros) com 50 quilos de cereais, quatro litros de óleo vegetal, seis quilos de leguminosas, no valor de 1.800 meticais cada, para 155.650 pessoas nas províncias de Gaza, Inhambane, Sofala e Tete.

Aumentam vítimas de raios atmosféricos

Entretanto a chuva, normal para esta época do ano, que continua a cair na região Norte e em algumas províncias do Centro do país, mantém em alerta as autoridades de emergência principalmente devido à destruição de habitações construídas em adobe e capim, mais 340 casas ficaram parcialmente danificadas na semana passada e outras 20 ficaram completamente destruídas, afectando mais 1090 moçambicanos só na última semana.

Mais cinco óbitos foram registados, elevando para 38 as pessoas que morreram em consequência directa das chuvas, ventos e trovoadas desde 1 de Outubro de 2015. As vítimas que residiam na província de Manica não resistiram aos ferimentos causados por descargas atmosféricas, que no período mataram 28 moçambicanos.

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