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Eleições legislativas abrem “nova época” em Hong Kong

As eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong, o Parlamento deste território devolvido pelo Reino Unido em 1997 à China, ficaram marcadas por uma afluência recorde de eleitores (58% num universo de 3,8 milhões) e pelo bom resultado conseguido pelos partidos pró-democracia, que reforçaram a sua representação, e pela entrada de novas formações políticas e de representantes das novas gerações. Um sector significativo destas é resolutamente contrário às interferências de Pequim na vida do território, advogando-se nalguns meios a sua independência, o que irrita particularmente as autoridades chinesas.

Numa primeira reacção aos resultados das eleições, que decorreram domingo, a Agência para os Assuntos de Hong Kong e Macau, responsável pelas relações com o território, divulgou uma nota em que destaca precisamente a impossibilidade de independência, por violar a Constituição chinesa.

A principal novidade foi a entrada no Conselho Legislativo (LegCo, como é conhecido na sigla em inglês) de representantes do movimento de protesto anti-Pequim que se viveu no território entre Setembro e Dezembro de 2014, quando foi aprovada no Parlamento chinês legislação vista como restritiva à escolha do chefe do Executivo local, a chamada “Revolução dos Chapéus de Chuva”. O nome do movimento resultou do facto dos chapéus de chuva serem usados como protecção contra os canhões de água e as granadas de gás lacrimogéneo lançadas pela polícia. As manifestações decorreram praticamente todos os dias e representaram o mais importante desafio à autoridade de Pequim no território.

A legislação em causa abria caminho à escolha direta do detentor daquele cargo, mas fazia depender a apresentação de candidatos de uma aprovação prévia de Pequim. A lei que tinha também de ser votada na LegCo, acabou ali por ser chumbada.

O partido que resultou daquele movimento, o Jovem Aspiração, elegeu dois deputados, um deles, Nathan Law, de 23 anos, uma das principais protagonistas das manifestações de 2014. Por diferentes formações, entraram ainda no Conselho Legislativo outros seis representantes dos círculos pró-democracia e pró-independência, estes últimos conhecidos em Hong Kong como “localistas”.

Num comentário ao resultado das eleições, o influente The South China Morning Post escrevia ontem que “surgiu uma nova geração” em condições de “criar problemas” ao Executivo local e a Pequim, adotando uma postura mais assertiva nas suas reivindicações.

Outro dado a reter destas eleições é que vários candidatos pró-democracia veteranos, como Lee Cheuk-yan, há mais de duas décadas no LegCo, terem perdido os seus lugares. Em declarações à Reuters, aquele ex-deputado afirmou ter-se iniciado uma “nova época” no território. “As pessoas querem mudanças, a começar pelo rosto dos eleitos” e não afastou a ideia de que muitos dos que foram às urnas “considerarem a independência” como algo possível ou desejável.

O resultado da votação vem confirmar, ainda que de forma indireta, a impopularidade crescente do atual chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, conhecido como CY Leung, cujo mandato termina no próximo ano. Era ontem dada como altamente possível o cenário de Pequim não reconduzir CY Leung, que nunca foi popular desde a sua eleição em 2012. Eleito por um colégio eleitoral de 1200 elementos (entre os quais os 70 membros do LegCo), só recolheu 689 votos, o que lhe valeu a alcunha de “689”.

A hipótese de CY Leung não ser reconduzido poderia significar a tentativa do governo chinês de reduzir a contestação em Hong Kong, afastando alguém que, numa recente sondagem, registava apenas 19% de aprovação.

Finalmente, o caso dos cinco livreiros desaparecidos no final de 2015 não terá deixado de pesar no resultado. Veio a saber-se mais tarde que tinham sido detidos pelas autoridades chinesas. O modo como estas geriram o caso originou profunda irritação em Hong Kong.

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