Que a FRELIMO e o seu candidato seriam os grandes vencedores deste escrutínio, não tinha quaisquer dúvidas, apenas as tive quanto às percentagens.
Aliás, pelo menos o partido no poder, para mim, venceu as eleições ainda na CNE, quando este órgão varreu de forma descarada, logo à primeira, alguns dos concorrentes. Foi aí que a FRELIMO venceu as eleições, e só bastava uma legitimação pelo incansável e paciente povo moçambicano. Mas a paciência tem limites, pelo menos tem-se dito isso, vezes sem conta.
Em minha opinião, as eleições deste ano foram históricas por vários factores. Primeiro, pela derrota: é a quarta vez consecutiva que o dito pai da democracia perde. Segundo, pela proeza cometida por Daviz Simango, o jovem do Chiveve que em pouco menos de um ano conseguiu formar um movimento em que muito poucos acreditavam, sobretudo nas suas capacidades de liderança.
Terceiro, pela esmagadora maioria de votos conquistados pelo partido no poder, fruto do seu esforço, mas também devido à exclusão de alguns partidos à corrida eleitoral (aqui, de certeza imperou indirectamente o “maquiavelismo político”).
Com a abstenção verificada em 2004, pensei que o voto já não seduzisse mais o povo moçambicano. Enganei-me redondamente. A táctica dos sete milhões para os distritos, e o marketing político do partido no poder, caracterizado por despesismos exacerbados, fizeram com que se assistisse a uma vitória retumbante da Frelimo. Algumas lições se podem tirar deste escrutínio.
A primeira é a de que nenhum homem pode ser medido aos palmos. O tradicional derrotado, que merece entrar no Guinness, tentou subestimar o “mufana” caloiro nas lides “eleitoralísticas”, e deu no que deu, chegando ao extremo de entoar, uma vez mais, o coro de pretender queimar o país, como se ele vivesse fora de Moçambique! Quando o país arder, afinal de contas onde estará o pai da democracia? Será que abandonará a Arca de Noé e se refugiará nas ilhas das Comores ou Fiji?
Nampula, onde fixou o seu domicílio, ainda é um pedaço desta Pátria Amada. Só o mais desatento dos moçambicanos pensará, erradamente, que esta é a primeira vez que o líder “perdedor-mor” faz estas declarações. A outra grande lição a tirar é a de que em política tudo vale, se o fim for o de alcançar o poder, não importa como, desde que se entretenha bem o povo com umas camisetes e capulanas de baixo custo.
É ridículo ter eleições com vencedores previamente anunciados, como aconteceu desta vez pela voz de um ilustre general, que alto e bom som veio dizer que com ou sem eleições a sua tribo não largaria o poder. Perante este cenário, o melhor é não haver eleições.
Poupa-se no recenseamento, na formação de membros das mesas de voto, no dinheiro alocado aos partidos para a sua campanha, que seria investido noutras áreas vitais para o crescimento económico deste país. As eleições deste ano foram um descalabro total. Foram eleições em que os camaradas venceram tudo e todos, à moda do MPLA na terra dos kambas.
Se com a sua retumbante vitória convenceram ou não, cabe a cada um de nós dizê-lo. Não quero pôr em causa a estrondosa vitória do partido Frelimo, apenas suscitar opiniões no seio dos meus compatriotas, se uma vitória nestes moldes é ou não bom sinal para a nossa jovem democracia. Um bem-haja a todo o povo moçambicano!