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Egipto não quer o FMI na sua casa

O Egipto rechaçou as condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional para lhe conceder o empréstimo solicitado de 3 biliões de dólares, por entender que violam a soberania nacional e atendendo à pressão exercida por manifestações populares.

O general Sameh Sadeq, integrante do conselho militar governante, afirmou que foram suspensos outros pacotes que estavam a ser negociados com o Banco Mundial devido a “cinco condições que atentavam contra os princípios de soberania nacional”, informaram vários jornais locais. Mas, não foram dados mais detalhes sobre o assunto.

Se houvesse aceitado, o Egipto séria o primeiro país a receber dinheiro do FMI no Médio Oriente após a Primavera Árabe, levantamento popular contra os regimes autoritários apoiados pelo Ocidente iniciado no ano passado.

O FMI anunciou em Maio, durante a cúpula do Grupo dos Oito países mais ricos do mundo, que poderia emprestar 35 biliões de dólares aos Estados do Médio Oriente nos próximos anos.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, anunciou nesse mesmo mês que poderia conceder 6 biliões de dólares em dois anos ao Egipto e à Tunísia para contribuir na modernização das suas economias.

Cairo teria recebido 4,5 biliões de dólares desse pacote. Os movimentos revolucionários começaram nesses dois países antes de se espalharem pela região.

A declaração feita no dia 28 pelo general Sadeq contradiz as do primeiro-ministro, Essam Sharaf, e do ministro das Fianças, Samir Radwan, sobre os empréstimos não estarem acompanhados de condições.

Os funcionários ocupam os cargos interinamente desde a queda do presidente Hosni Mubarak em 11 de Fevereiro deste ano. Ambos defenderam publicamente a necessidade de empréstimos para espantar o fantasma do défi ce, principal argumento de muitos países que solicitam ajuda das duas instituições multilaterais de crédito.

A decisão foi anunciada pelos governantes militares que assumiram o poder após a queda de Mubarak. Algumas das condições impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial incluíam a privatização de bancos e uma maciça redução dos subsídios para energia e alimentos e já haviam desagradado a população.

O ministro das Finanças teve de voltar atrás e escreveu no seu site que a decisão de rejeitar os empréstimos ocorreu após “debate público e consultas ao Conselho Supremo das Forças Armadas” (CSFA), à frente do governo interino. Também informou que após modificar o défice orçamentário, este ficou em 2,4 biliões de dólares, em relação aos 28,4 bilhões previstos antes de aceitar o empréstimo do FMI.

O CSFA, que cumpre funções presidenciais até ser eleito o novo parlamento em Setembro, disse que os fundos locais e regionais permitem não recorrer às instituições multilaterais de crédito. “Pode-se cobrir o défi ce com o mercado local e com empréstimos e assistência de nações amigas e outras instituições internacionais”, diz a declaração do Ministério das Finanças.

Nas últimas semanas, Arábia Saudita, Estados Unidos e Qatar, entre outros, prometeram grandes somas de dinheiro ao Egipto. Os bancos locais podem cobrir facilmente o défice, afirmou Moustapha Abdelsalam, especialista do jornal de negócios Al Alam Alyoum.

O governo conseguiu 20 biliões de dólares internamente. A decisão do CSFA acompanhou os protestos populares. Vários activistas alertaram que, com os novos empréstimos, o Egipto poderia ficar sujeito às condições do Banco Mundial e do FMI, bem como à pressão externa, o que muitas pessoas esperam que tenha acabado com a revolução.

“Os empréstimos do exterior contradizem os princípios da revolução que reclamavam ser livres de toda a pressão, local e estrangeira”, diz uma declaração do Conselho de Administração Revolucionária, uma organização não governamental formada após a queda de Mubarak por defensores da democracia que enfrentaram as forças de segurança do regime.

“O povo egípcio, que está a começar uma nova era, não quer fazê-lo com novos empréstimos. Preferimos passar fome a mendigar a essas instituições”, afirma o comunicado.

Surpreendeu a solicitude do governo de Sharaf por ser interino e não ter sufi ciente autoridade. Foi criticado por tomar essa decisão carecendo de representação popular.

O Banco Mundial, o FMI e outros bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram a “Associação Deauville para o Médio Oriente” para conceder empréstimos a outros países da região, no contexto da cúpula do G-8 realizada em Maio naquela cidade francesa.

O Banco Mundial prometeu 4,5 biliões de dólares ao Egipto nos próximos dois anos para compensar a queda das reservas e o orçamento, e financiar as mudanças económicas a fim de fortalecer os seus projectos de investimento e créditos. Agora é esperar para ver se desta vez os países da região seguirão o exemplo do Egipto.

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