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Editorial – Nunca tão poucos decidiram a vida de tantos

Hoje, dia 26 de Fevereiro, quando esta edição d@ VERDADE sair à rua, assinalam-se 125 anos de uma das datas mais ignominiosas da História: o final dos trabalhos da Conferência de Berlim (Alemanha), quando 14 países europeus decidiram a sorte de todo um continente, retalhando-o à medida dos seus interesses.

Esses três meses, tempo que demoraram os trabalhos, marcaram a África para sempre e prova disso é que no Gana fala-se inglês, na Costa do Marfim francês, em Moçambique português, na Guiné Equatorial castelhano. As excepções são poucas e prendem-se, sobretudo, com a derrota dos alemães e dos italianos na Primeira Guerra Mundial.

Em tudo o mais, as fronteiras arbitrárias traçadas na capital alemã mantêm-se intactas. A regra e o esquadro de Berlim não contemplaram os povos, as línguas, as culturas de quem habitava o continente e por isso há uma composição genial de Yanka Shonibare, um artista inglês de origem nigeriana. Intitulado “Scramble for Africa”, o trabalho pretende retratar os líderes europeus – representados sem cabeça mas trajando indumentárias tradicionais africanas – à mesa dos trabalhos repartindo o continente negro com o à vontade característico dos senhores da terra da Idade Média.

Os principais interessados, os africanos, permaneceram tão longe das negociações como os quilómetros que separavam os extremos dos dois continentes. Em Berlim lutou-se pelas terras mais férteis, pelas grandes saídas para o mar, pelos climas menos agrestes para aqueles homens que seguravam um ponteiro diante de um mapa ainda prenhe de zonas brancas e…por sonhos, por muitos sonhos de riqueza fácil à custa de mão-de-obra escrava.

No dia 26 de Fevereiro de 1985, apesar da profunda ignorância de quem o traçou, o mapa do terceiro maior continente ficou bem definido: para a Grã-Bretanha ficava a África Austral – excepto Angola, Moçambique e o Sudoeste Africano – para a França a zona noroeste e parte do centro; para Portugal Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e pequenas ilhas no Atlântico; para a Espanha a Guiné-Equatorial e o Sara Ocidental; para o império de Bismark o Tanganica, Namíbia, Togo, Burundi e Ruanda; para a Itália a Somália e parte do Sudão e para a Bélgica o grande Congo (hoje RDC).

O Congo era das regiões mais disputadas – aliás a importância do Congo era tão grande que os alemães chamaram ao encontro Kongoconferenze -, ocupava uma área 80 vezes maior do que a metrópole e, de acordo com o seu estatuto, era propriedade da Companhia Internacional do Congo que tinha como principal accionista o rei Leopoldo II. Havia, imagine-se, um dono de um território que distava milhares quilómetros de Bruxelas e que decidia a seu belprazer o destino de milhões de pessoas! Berlim marca, indubitavelmente, o começo da era moderna para África.

Uma era de lutas, sangue, tragédia e desolação que ainda hoje perdura. Por isso se diz que há uma África antes e outra depois de Berlim.

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