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Edilidade de Nampula vende Feira Dominical

Edilidade de Nampula vende Feira Dominical

Vendidos os espaços abertos reservados à recreação e outro tipo de lazer, tais como jardins e parques, a edilidade de Nampula virou as atenções para as zonas comerciais. A Feira Dominical, que neste momento funciona ao lado da Escola Primária Completa dos Belenenses, vai ser vendida a privados. No seu lugar serão construídos estabelecimentos comerciais, à semelhança do que acontece ao longo da Avenida do Trabalho, onde os armazéns surgem a um ritmo acelerado.

A Feira Dominical, um local reservado pelo município à venda de diversas obras de arte, vestuário, produtos alimentares, dentre outros, vai ser transferida para a zona do Posto Agronómico, no bairro de Muahivire, a cerca de 20 quilómetros da urbe.

Apurámos que, outrora, antes de ser fixada ao lado da Escola Primária Completa dos Belenenses, a feira funcionava defronte do Estádio 25 de Setembro. Foi deslocada daquele sítio alegadamente porque os vendedores desenvolviam as suas actividades de forma desorganizada, em condições precárias de higiene e estavam expostos a acidentes de viação, uma vez que alguns comerciantes “alinhavam” os seus produtos ao longo da Avenida Eduardo Mondlane.

Entretanto, volvidos alguns anos, confirmou-se que a medida tomada pela edilidade não era para proporcionar melhores condições para os cidadãos cujo ganha-pão é a actividade comercial. O objectivo era afastar os negociantes das imediações do Estádio 25 de Setembro para depois vendê-lo, pois a remoção da infra-estrutura e a construção de armazéns por um empresário que adquiriu a infra-estrutura iria perturbar o trabalho dos vendedores. Neste momento, o lugar está vedado.

Aliás, na altura em que a Feira Dominical foi instalada ao lado da Escola Primária Completa dos Belenenses, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula disse que o espaço era o único que oferecia maior segurança, comodidade e higiene aos comerciantes. Houve promessas de se organizar a feira e indicar espaços apropriados para a venda de produtos específicos: utensílios domésticos, vestuário, produtos comestíveis, dentre outras quinquilharias.

Alguns munícipes que sonhavam com um local organizado e com secções para cada tipo de negócio ficaram e continuam à espera da iniciativa. A Associação dos Artesãos de Nampula (ASARUNA) ficou sem espaço para a venda dos seus utensílios artesanais e ainda aguarda impacientemente que a edilidade indique um lugar apropriado para o efeito dentro do local a que nos referimos. Todavia, hoje, o presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, Castro Namuaca, afirma, publicamente, que aquelas condições que foram identificadas como sendo favoráveis para o acolhimento dos negociantes na feira já não existem.

No que toca à criação de condições de higiene e saneamento do meio, a edilidade esqueceu-se da sua obrigação que é construir sanitários públicos e recolher sistematicamente os resíduos sólidos, limitando-se, neste momento, a empreender esforços visando transferir a Feira Dominical para a zona do Posto Agronómico, em Muahivire, onde já decorrem trabalhos de preparação do terreno cujas dimensões são estimadas em mais de oito hectares. Porém, as promessas são as mesmas: criação de melhores condições de comodidade para os comerciantes, higiene e saneamento do meio. Mas existe um aspecto que se deve acautelar, que é a reabilitação da estrada que dá acesso ao local, pois esta encontra-se numa situação de precariedade.

Vendedores agastados com a ganância da edilidade

Alguns munícipes que desenvolvem os seus negócios na cidade de Nampula, entrevistados pela nossa Reportagem, mostraram-se desapontados com a ideia de se transferir a Feira Dominical para a zona do Posto Agronómico, visto que é distante da zona cimento e isso vai acarretar custos elevados no transporte dos seus produtos.

Os cidadãos consideram, igualmente, que se trata de um comportamento ganancioso por parte do edil Castro Namuaca, que apenas está preocupado com a concessão de terrenos destinados a actividades públicas a gestores privados, principalmente, para os cidadãos de nacionalidade estrangeira que pretendem construir infra-estruturas de natureza comercial, nomeadamente armazéns e lojas.

Agostinho Baldez disse que a concessão da Feira Dominical acontece numa altura em que a edilidade vendeu quase todos os espaços localizados ao longo de estradas em Nampula, pois são concorridos pelos agentes económicos para a construção de armazéns e lojas. É caso para afirmar que a cidade de Nampula poderá tornar-se, em breve, uma “capital dos armazéns” dado o ritmo das obras de construção desses estabelecimentos comerciais.

Anastácia Lopes, que comercializa comida na Feira Dominical, queixou-se da distância que separa a sua zona de residência do local onde vai passar a funcionar o referido mercado. A nossa entrevistada recomenda que a edilidade se preocupe, também, com a reabilitação da via de acesso ao novo local como forma de assegurar uma circulação eficiente de pessoas e bens, assim como a atracção de compradores.

A dificuldade de ter acesso ao transporte, segundo avançou a nossa entrevistada, pode dificultar a actividade comercial na futura feira a ser construída no Posto Agronómico, porque muitos negociantes não irão correr o risco de colocar os seus produtos em viaturas de caixa aberta por causa da poeira provocada pela precariedade da estrada. Além disso, os operadores de transporte vão hesitar em realizar os seus trabalhos naquela via devido às condições de transitabilidade em que se encontra. Aliás, Anastácia receia que os proprietários de carros possam agravar as tarifas por causa dos gastos que farão no acto da compra de um novo material para substituir o danificado.

Refira-se que durante o processo de construção de instalações comerciais em Nampula, o grosso das famílias cujas residências se localizavam nas bermas de estradas – sítios amplamente cobiçados pelos empresários – já foi indemnizado. Por conseguinte, a venda de terrenos está a originar um vício no seio dos munícipes, um problema que acontece com a conivência dos técnicos da edilidade.

Por exemplo, o espaço sito ao lado da gasolineira chamada PETRONA, na zona da Memória, bairro de Namutequeliua, foi concessionado a um agente económico que, neste momento, se encontra a erguer um estabelecimento comercial. Nesse negócio, o envolvimento ilícito da alguns funcionários do Conselho Municipal da Cidade de Nampula chegou ao ponto de irritar Castro Namuaca. Este referiu que os seus técnicos foram incompetentes ao comercializar terrenos em colaboração com as comunidades, pois a terra é propriedade do Estado e não deve, para efeitos de ocupação, constituir matéria-prima para o negócio.

Sabe-se, portanto, que o edil ficou chateado não só pela cumplicidade dos seus “homens” na venda de terra, mas, também, porque os promotores dessa ilicitude não repartiram com ele os valores resultantes do negócio.

 

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