O planeta esquenta, perde seus recursos naturais e – dizem alguns – está com os dias contados, mas inovações técnicas e a economia verde podem salvá-lo, garantem especialistas reunidos na passada semana, na Universidade Columbia, em Nova York.
Reunidos em teleconferência através de monitores conectados de Mônaco, Cidade do México, Pequim, Londres, Nairóbi e Nova Délhi, vários especialistas apresentaram um panorama alarmante da pobreza global e da degradação ecológica. Pediram aos Estados Unidos e a outros países ricos que demonstrem liderança, por exemplo, investindo em tecnologia de captação de carbono e outros métodos de longo prazo para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa.
No entanto, os países desenvolvidos, onde a poluição cresce rapidamente, também podem desempenhar um papel importante e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida da população, tirando-a da pobreza, defendem. “Desta forma, podemos alcançar a prosperidade, combatendo as mudanças climáticas – uma prosperidade que vai durar muito mais”, defendeu o presidente mexicano, Felipe Calderón, que falou da Cidade do México via teleconferência.
Calderón contou que o México tem planos ambiciosos para reduzir as emissões de carbono, reflorestar e gerar um quarto da demanda energética com fontes renováveis até 2012. “Estou mais convencido do que nunca de que os primeiros países a mudar ganharão vantagens competitivas consideráveis”, disse o presidente mexicano. Nitin Desai, do Energy and Resources Institute de Nova Délhi, afirmou que Índia e China, dois dos países com maiores índices de emissões de gases-estufa, são muito “pró-ativos” no desenvolvimento de tecnologias verdes.
Segundo Desai, que falou da capital indiana, as empresas começam a desenvolver um “enorme mercado” para a energia solar e outras fontes renováveis. Os especialistas citaram inovações simples, como geradores de eletricidade à base de tração animal na Índia rural, ou a difusão em massa de telefones celulares na África como formas de se levar mais oportunidades para comunidades isoladas, ao mesmo tempo em que ajudam a tornar estas economias mais verdes.
Em maior escala, Achim Steiner, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), disse que a África deveria deixar de ser considerada uma “mina” pelos países ricos e, ao contrário, voltar seus recursos para indústrias sustentáveis. “Agricultura, turismo, recursos naturais, silvicultura: estes são os motores da economia hoje. Portanto, vamos mudar ao invés de deixar que outros tirem de nós”, disse Steiner, falando de Nairóbi, capital do Quênia. “A economia verde também significa que não podemos continuar contaminando como estamos fazendo”, acrescentou. “A metade dos leitos hospitalares do mundo está ocupada por gente doente por causa de água suja ou sem potabilidade”, reforçou.
Glenn Denning, professor na Universidade Columbia, de Nova York, deu como exemplo o renascimento agrícola do Malauí como modelo de uma economia verde que ajuda a reduzir a pobreza e melhorar o nível de vida da população. “O que vimos no Malauí é que quando se estimula a agricultura e se promove a produtividade agrícola, as pessoas começam a fazer suas economias”, afirmou. “Uma das primeiras coisas que fazem é comprar um celular”, acrescentou.
Segundo os especialistas, a alternativa a se transformar a economia mundial é mergulhar em uma crise climática ainda mais profunda. Eles alertaram que a confiança pública nos cientistas que denunciam o aquecimento do planeta diminuiu no ano passado, quando os líderes mundiais fracassaram, na COP15, celebrada em dezembro em Copenhague, a formalizar um acordo sobre uma resposta comum às emissões de gases-estufa e os argumentos científicos que sustentam a tese da elevação da temperatura na Terra foram questionados.
“Enfrentamos uma crise de confiança, começando pela confiança na ciência”, comentou Desai. Mark Cane, professor de Ciências Climáticas da Universidade de Columbia, disse que tanto os governos quanto os cidadãos não estão dispostos a adotar medidas que evitem o que chamou de desastre iminente. “Infelizmente, é preciso que haja algum tipo de crise ou de ameaça que sintam de forma realmente visceral”, destacou o professor, que falou de Nova York. “Não acho que nada aconteça até que a natureza comece a se manifestar, até que comecemos a ver os efeitos e que as pessoas comecem a se preocupar”, emendou Wallace Broecker, professor de Ecologia na mesma universidade. “Se o gelo do Ártico desaparecer em 20 anos, isto será um sinal muito forte de que as coisas estão mudando”, exemplificou Broecker.