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Dono da piscina olímpica do Zimpeto conclui que houveram falhas de construção e fiscalização mas não revela como serão indemnizadas às vítimas

Dono da piscina olímpica do Zimpeto conclui que houveram falhas de construção e fiscalização mas não revela como serão indemnizadas às vítimas

Foto de Adérito CaldeiraA comissão de inquérito ao desabamento da parede da entrada principal da piscina olímpica do Zimpeto, liderada pelo dono da obra, o Governo de Moçambique, concluiu que “houveram falhas enormes em termos de toda a maneira e procedimento de como bem construir e como bem fiscalizar, assim como acompanhar aquilo que é uma obra não só sendo do Estado mas cumprindo com as regras” declarou nesta terça-feira(01) Carlos Bonete, o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos. Nenhuma informação foi prestada relativamente as indemnizações às vítimas da tragédia do passado dia 20 de Fevereiro em Maputo.

A comissão – constituída por quadros do Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Ordem dos Engenheiros, Conselho Municipal e Ministério da Juventude e Desportos -constatou que a parede era constituída por três painéis justapostos, um dos quais que adere à fundação, outro intermédio que tem vigamento e um terceiro que tem 46 metros e uma altura de 4,60 metros. Foi justamente este último que acabou desabando e provocado a vítima mortal e os prejuízos materiais. Além disso constatou-se que os blocos que constituem a parede da entrada desta infra-estrutura tinham uma resistência não especificada.

“Como era uma obra chave na mão, também os ante-projectos e projectos desenvolvidos pelo empreiteiro muitos deles não passavam pela aprovação do fiscal e do dono da obra. Constatou-se ainda que houve uma mudança em relação ao que tinha sido projectado nesta parede de que estamos a falar e o que foi executado. O que tinha sido projectado é uma parede que teria vãos abertos para possibilitar a passagem do vento, com varões embutidos para dar maior consistência e que ficariam amarrados a uma estrutura metálica que daria a segurança necessária”, afirmou o ministro Bonete.

O governante acrescentou que ainda haverá investigação que terá de ser aprofundada para saber como as regras de bem construir não foram cumpridas ou ao se fazer a alteração por que é que não houve o cálculo estrutural que conferisse a segurança necessária que evitaria a tragédia.

“Já na altura da construção, verificava-se a fissuração da parede”

“Será preciso entender como é que todo o processo foi executado desde a contratação até à fase final, pois consta que não terá sido observada uma entrega definitiva da obra. Há equipamentos que deveriam ter manuais de operação e manutenção que não existem e inclusive a comissão constatou que há problemas com a garantia de alguns materiais, como parafusos, que deveriam ter uma garantia de corrosão de quinze anos, mas que já apresentam uma deterioração precoce. Vamos fazer um trabalho de profundidade para trazer outros elementos”, prometeu o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos sem esclarecer como é que o Governo da altura recebeu uma obra, ainda por cima desta envergadura, sem avaliar a sua qualidade. “Buscando todos os elementos, pode se constatar que, já na altura da construção, verificava-se a fissuração da parede”, disse Bonete, para quem, mesmo agora, o estado da estrutura ali existente merece uma maior atenção.

Face a estas e outras constatações, o Executivo instruiu para que seja efectuada uma inspecção mais pormenorizada, incluindo às obras adjacentes a piscina, havendo a possibilidade de uma inspecção independente de toda infra-estrutura, construída em 2011 para os Jogos Africanos, que Moçambique se endividou em centenas de milhões de dólares norte-americanos para os organizar.

O ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos declarou que a comissão recomenda a responsabilização do empreiteiro e do fiscal da obra, porque constata-se que houve negligência.

Governo não se pronuncia sobre indemnizações às vítimas

Entretanto o empreiteiro, o consórcio português Mota-Engil e Soares da Costa, tornou público pouco depois da tragédia que cumpriu com todas as formalidades constantes do contrato de execução da piscina olímpica do Zimpeto.

“Quanto às prováveis causas da queda do muro, face ao que nos é possível observar, somos de opinião que o que poderá estar na origem do derrube em causa é uma conjugação extraordinária de dois fenómenos anormais e imprevisíveis: a ocorrência de altas temperaturas e a ocorrência de ventos atípicos de extrema intensidade”, declarou o consórcio em comunicado de imprensa.

A piscina olímpica do Zimpeto foi construída em cerca de dez meses por um consórcio de empresas portuguesas a Mota-Engil e a Soares da Costa, sem concurso público, que na altura se vangloriou de ter conseguindo edificar a obra complexa e com tecnologia avançada reduzindo em três meses o prazo inicial de construção, após Moçambique assumir a realização dos Jogos Africanos de 2011 que a Zâmbia declinou por falta de fundos.

O nosso país endividou-se com Portugal em 150 milhões de dólares norte-americanos para a construção não só deste complexo olímpico de natação mas também da Vila residencial onde em oito meses foram construídos 843 apartamentos (106 edifícios) usando uma tecnologia estrutural em perfis de aço leve e gesso.

O ministro Carlos Bonete, que falava após mais uma sessão do Conselho de Ministros, não revelou que indemnização caberá a cada um dos nove feridos na tragédia nem a família do treinador Frederico do Santos que faleceu em consequência do desabamento, e deixa viúva e sete filhos menores.

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