O dólar continuam imbatível face o metical e as medida até aqui tomadas pelo Governo não têm sido eficazes para evitar a sua ascensão. A Confederação das Associações Económicas (CTA) já avisou que, face a este cenário, os preços de produtos de primeira necessidade vão aumentar. Aliás, o pão, a energia e a água potável são mais caros e a subida da taxa do transporte está à espreita. Por conta disto, o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, instou, na quarta-feira (25), as três bancadas parlamentares a não politizarem a desvalorização do metical. Pediu para que os moçambicanos evitem o “pessimismo, o pânico e o desespero”, pois, no seu entender, esta não é a única moeda no mundo a derrapar face à moeda norte-americana e Moçambique não é igualmente o único a ser afectado pela situação.
Encabeçando o Governo, que se fez ao Parlamento, pela quarta vez, este ano, para responder a perguntas colocadas pela Frelimo, Renamo e MDM, Carlos Agostinho disse que o metical derrapa em consequência da correlação de uma série de factores internos e externos, mas, acima de tudo, porque o país importa e consome mais do que produz.
O Chefe de Estado, Filipe Nyusi, foi o primeiro a admitir, em Outubro, esta “ociosidade” do país que tem, à luz da Constituição da República, a agricultura como a base do desenvolvimento mas na prática pouco disso acontece.
As receitas provenientes das exportações de produtos como a energia, o gás natural, o alumínio e o açúcar são insignificantes devido à tendência do dólar. “Os preços de alumínio no mercado internacional registaram uma queda de 20%”, igual percentagem para o gás natural e “o carvão 22%”, disse Carlos Agostinho do Rosário.
Todavia, face a este problema, no que tange à energia da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), o que o governante não disse é que, pese embora Moçambique detenha um potencial energético que o coloca em condições de satisfazer não só o consumo interno, mas também as necessidades da região da África Austral, e o país seja o segundo maior produtor de energia nesta região, “HCB é nossa” há sete anos mas continuamos a importar cada vez mais corrente eléctrica, sem qualidade e a um custo elevado.
Como que a responder às declarações do representante do FMI, Alex Segura, segundo as quais “pensamos que a depreciação do metical e de outras moedas da África Subsariana era necessária como instrumento para gerir este choque externo, mas no caso moçambicano já atingiu níveis excessivamente elevados”, e previa-se que o câmbio se estabilizasse nos 45 meticais/dólar, Carlos Agostinho do Rosário considerou que a depreciação do metical é um reflexo da “recuperação da economia dos Estados Unidos da América dos efeitos da crise mundial de 2008”.
Entre Janeiro e Outubro deste ano, “o metical perdeu 43% do seu valor” relativamente ao dólar. As outras moedas, tais como o euro, o rand (África do Sul), o yane (Japão), o kwacha (Zâmbia), o rublo (Rússia), o real (Brasil), o kwanza (Angola), o shelling (Tanzânia) também não escapam ao poderio da moeda norte-americana, afirmou o Primeiro-Ministro, indicando que uma das soluções para este problema é a “consolidação da paz, o aumento da produção e da produtividade, a atracção de investimentos e a diminuição das importações”. Porém, nada deve colocar os moçambicanos em aflição.
No que à inflação diz respeito, a média foi de 2,5% em Outubro, “contra a meta de 5,6%. As nossas reservas internacionais líquidas permitem a cobertura de importações de bens e serviços não factoriais por um período de 3,7 meses”.
Enquanto isso, há dias, o Fundo Monetário Internacional (FMI) concedeu a Moçambique um “apoio de emergência” de cerca de 286 milhões de dólares em virtude de o Governo de Filipe Nyusi ter encontrado os cofres do Estado com “poucas divisas”, o que, aliado à desvalorização do metical em relação à moeda americana, deixou o Executivo sem grandes manobras.
Paralelamente a isso, o FMI considerou que “a depreciação do metical está excessivamente alta”. Enquanto o Banco Central tomava medidas que para determinados economistas são paliativas para atenuar o problema, João Mosca emitiu a opinião de que “não há nenhuma surpresa em relação à actual situação económica do país. O Banco de Moçambique é que estava e está desfasado da realidade e dos sinais dos mercados, e faz uma gestão monetária rígida e provavelmente politizada”.
A dívida pública externa aumentou de 4.8 biliões de dólares, em 2012, para sete biliões, em 2014. Deste montante, 2.2 milhões de empréstimo foram contraídos no Governo de Armando Guebuza para financiar projectos como a Estrada Circular, a ponte Maputo/KaTembe, a Ematum, e as obras de protecção costeira na Marginal.