A maior jazida de carvão do mundo, em Tete, parece uma miragem quando vista da capital de Moçambique, a mais de 1500 quilómetros, e por isso não são de estranhar as opiniões divergentes sobre os megaprojectos naquela região.
As exportações do mineral deverão iniciar-se em Outubro e, nos próximos 30 anos, a extracção de carvão poderá atingir mais de 100 milhões de toneladas anuais, que renderão ao Estado moçambicano cerca de 20 mil milhões de dólares.
Na província operam 36 mineiras, entre as quais as maiores do mundo, que já geraram mais de 10 mil empregos. Cidadãos da capital moçambicana acreditam que a descoberta de carvão mineral em Tete é um passo para se ultrapassar as várias dificuldades no país, principalmente o problema de transporte, nos bairros periféricos do Maputo.
Outros acham que nada vai mudar. “Em Moçambique não há pobreza, mas sim falta de seriedade dos governantes. Foi descoberto carvão mineral, acredito que em vez de usarem-no dignamente, os nossos dirigentes apanharam um passo para resolver os seus problemas”, observa Francisca Matandalasse, 23 anos, estudante, quando aguardava por um “chapa” da carreira T3-Cidade da Matola.
“É difícil chegar à cidade a tempo, não há transportes públicos suficientes, não acredito que o carvão possa melhorar alguma coisa, pois o país já teve tantas descobertas e nada mudou”, acrescentou.
Já para Rosa, 29 anos, trabalhadora-estudante, que viajava num “chapa” T3-Museu, os benefícios do carvão de Tete poderão estender-se ao Maputo.
“O problema do ‘chapa’ vai acabar brevemente, já temos a fonte de combustível, quero acreditar que o nosso Governo saberá lidar com esse assunto. Gostaria que mudasse a situação de transporte, é um caos, eu que trabalho e vou à escola sofro muito. Melhorem os transportes, por favor”, apelou.
Para Tomás Muai, 35 anos, trabalhador, que viajava num chapa Laulane-Museu, os benefícios do carvão mineral de Tete são enormes.
“O país vai desenvolver bastante, acabou o sofrimento de transporte, fiquei na paragem à espera de chapa durante duas horas, só agora consegui transporte, superlotado e ainda por cima hei-de chegar tarde no serviço”, lamentou. “Esta é a minha rotina diária, por isso acredito que essa descoberta vai ajudar a todos os moçambicanos”, afirmou.
Manuel Bodjo, trabalhador de 58 anos do bairro Triunfo, acredita que a descoberta do carvão mineral de Tete não vai alterar nada. “Nada vai mudar, o carvão mineral não trará solução para os nossos problemas, não devemos criar expectativas”, referiu.
Entretanto, a capital moçambicana acolhe a partir de hoje a segunda conferência internacional sobre a exploração de carvão em Moçambique, que juntará aproximadamente 250 investidores, produtores, fornecedores de carvão e membros do Governo moçambicano.