Reeleita neste domingo com o eleitorado mais dividido desde a redemocratização do Brasil, a presidente Dilma Rousseff (PT) procurou no seu pronunciamento logo após o resultado das urnas fazer um gesto ao lado derrotado dizendo que o primeiro compromisso do seu novo mandato será o diálogo. Num curto e elegante discurso de reconhecimento da derrota, Aécio Neves (PSDB) foi na mesma linha. Mas considerando o grau de radicalização da campanha da segunda volta, o cenário político à frente vai precisar mais do que gestos e acenos para se evitar uma turbulência normalmente não vista em inícios de mandatos.
“As minhas primeiras palavras são, portanto, de chamamento de base e união”, disse Dilma num hotel em Brasília. “Nas democracias maduras, união não significa necessariamente unidade de ideias nem ação monolítica conjunta, pressupõe, em primeiro lugar, abertura e disposição para o diálogo.”
“Esta presidente aqui está disposta ao diálogo, é esse meu primeiro compromisso do segundo mandato: diálogo”, acrescentou.
Falando um pouco antes num hotel de Belo Horizonte, Aécio disse que unir o país deve ser a prioridade. “Cumprimentei agora há pouco por telefone a presidente reeleita e desejei a ela sucesso na condução do seu próximo governo, e ressaltei: considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projecto honrado e que dignifique a todos”, disse o tucano.
Até a véspera Aécio falava em “libertar” o país do PT, acusava a presidente de ter fracassado em todas as áreas, especialmente na economia, e dizia que a única forma de acabar com a corrupção do governo era tirar os petistas dele.
Dilma, por sua vez, dizia que o senador mineiro representava uma forma de governar que trazia desemprego e arrocho salarial e que, se eleito, os programas e as conquistas sociais dos 12 anos de governos petistas poderiam ser perdidos pela população. Os ataques mútuos dos dois candidatos se espalharam, especialmente nas redes sociais, muitas vezes alimentados pelo noticiário sobre as denúncias de corrupção na Petrobras.
O ápice das denúncias sobre um suposto esquema de sobrepreços de contratos da estatal para alimentar partidos e políticos governistas foi reportagem da revista Veja desta semana, que trouxe o que seria uma declaração do “doleiro” Alberto Youssef de que tanto Dilma como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saberiam de tudo, o que foi rebatido com veemência.
No final, Dilma venceu com 51,6 por cento dos votos válidos, contra 48,4 por cento de Aécio. O placar foi mais apertado até do que o da eleição de 1989, quando Fernando Collor de Mello (PRN) derrotou Lula por 53,03 a 46,97 por cento. Em milhões de voto, os 54,5 milhões de votos obtidos por Dilma foram um pouco menos do que os obtidos por ela no segundo turno da eleição de 2010.
Mas, além do triunfo geral, ainda que apertado, a presidente também conseguiu uma vitória simbólica importante: derrotou o tucano em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, Estado natal de ambos, mas base política dele, onde foi governador entre 2003 e 2010. Ela já tinha sido vitoriosa no Estado na primeira volta e fez disso uma de suas principais peças de artilharia contra o adversário, com a campanha petista batendo na tecla de que quem conhecia Aécio, não votava nele. O placar do segundo turno lá foi 52,4 a 47,6 por cento dos votos válidos. Mas o tucano massacrou a presidente em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, por 64,3 a 35,7 por cento, uma diferença de 6,8 milhões de votos. Em termos percentuais, o Estado onde Aécio conseguiu a sua maior vitória foi Santa Catarina (65,6 a 35,4 por cento), enquanto para Dilma isso se deu no Maranhão (78,8 a 21,2 por cento). Mas Dilma ganhou também no terceiro maior colégio eleitoral, Rio de Janeiro, por 54,9 a 45,1 por cento.