Há anos os cientistas vêm se perguntando por que algumas pessoas sobrevivem ao Ébola enquanto outras perecem. Um novo estudo oferece provas contundentes de que as diferenças genéticas individuais podem ter um papel crucial nas variações na mortandade da doença.
Os pesquisadores da Universidade de Washington, no Estado norte-americano de Seattle, relataram as suas descobertas, esta quinta-feira, na revista científica Science. Eles compararam ratos de laboratório convencionais, que só costumam morrer com a versão do Ébola para a sua espécie, com ratos geneticamente diferentes que desenvolveram uma ampla variedade de sintomas de maneira muito semelhante àquela vista em pessoas infectadas com o vírus.
Os ratos usados no estudo foram gerados de oito cepas diferentes do animal e criados de modo a representar a diversidade genética humana. Os sintomas nestes roedores modificados variaram da ligeira perda de peso à febre hemorrágica plena, incluindo hemorragias, baços inchados e mudanças na cor e na textura do fígado.
“Infectamos estes ratos com uma cepa do vírus do Ébola para ratos”, disse Angela Rasmussen, microbióloga da Universidade de Washington que ajudou a conduzir o estudo. “Em ratos de laboratório tradicionais, esta cepa do Ébola mata os animais, mas não produz nenhuma doença hemorrágica”, explicou.
Os pesquisadores acreditam que os resultados podem auxiliar a esclarecer algumas dúvidas sobre o surto da doença que assola Libéria, Serra Leoa e Guiné e que já matou cerca de 5 mil pessoas.
Um grande ponto de interrogação é se os sobreviventes do Ébola tiveram alguma exposição viral anterior que permite aos seus sistemas imunológicos combater a infecção ou se existe algo geneticamente único nestes sobreviventes que os torna resistentes.
O estudo com os ratos não consegue elucidar a questão da imunidade prévia, mas reforça a ideia de que o código genético dos indivíduos desempenha um papel na sobrevivência ao Ébola. “Com certeza existe um componente genético”, afirmou Rasmussen.
A pesquisa mostra que os genes dominantes influenciam como as células se tornam infectadas e quanto o vírus se divide, disse o professor Andrew Easton, virologista da Universidade de Warwick, que não participou do estudo.
“A maioria destes genes está envolvida nos estágios primordiais da nossa resposta imunológica a infecções”, algo que também foi visto com outros vírus, declarou ele num comunicado.
O coautor do estudo e também da Universidade de Washington, Michael Katze, disse esperar que a pesquisa acalme o debate sobre o papel da genética no progresso da doença.
“Estes ratos foram infectados exactamente com a mesma dose, exactamente pelo mesmo método e exactamente pelo mesmo investigador. A única coisa diferente foi o histórico genético”, afirmou.
Um factor que dificultou a pesquisa com o Ébola foi a falta de um rato que sirva de modelo para estudar a doença. Rasmussen espera que daqui por diante o seu trabalho torne mais fácil para os cientistas estudarem medicamentos e vacinas que combatam o Ébola. A maioria desses estudos é feita em macacos, mas eles podem ser difíceis de se trabalhar.