O diabo está a punir o México com a violência criminal, disse o papa Francisco, poucas semanas depois de o governo mexicano ter se queixado de que o pontífice estigmatizou o país classificando-o como terreno fértil para o caos dos cartéis de droga.
“Acho que o diabo está a punir o México com grande fúria”, disse Francisco, de 78 anos, à televisão mexicana numa entrevista transmitida na noite de quinta-feira, quando discutia o desaparecimento e aparente massacre de 43 estudantes mexicanos no ano passado.
Argumentando que o diabo está com raiva do México pela sua fé cristã, Francisco disse que “todos têm que contribuir para resolver” os males da criminalidade que aflige o país.
O México, nação de forte tradição católica, vem sendo assolado pela violência do narcotráfico na última década. Mais de 100 mil pessoas morreram em confrontos entre os cartéis e as forças de segurança nos oito últimos anos. No mês passado, causou comoção a publicação de um e-mail particular do papa no qual ele expressou preocupação com a “mexicanização” da Argentina em razão da violência relacionada às drogas.
Rapidamente o México enviou uma carta de protesto ao Vaticano, que afirmou não ter pretendido ofender o país.
“Está claro que é um termo técnico. Não tem nada a ver com a dignidade do México. Como quando falamos de balcanização, nem os sérvios, nem os macedônios, nem os croatas ficam bravos”, disse Francisco, referindo-se ao uso da palavra mexicanização.
O desaparecimento de 43 alunos na cidade de Iguala, no sudoeste mexicano, em Setembro passado motivou críticas internacionais à questão da segurança no México. O país afirmou que os jovens foram sequestrados por polícias corruptos, entregues a um cartel de drogas local e depois carbonizados, desencadeando a pior crise política do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto.
Francisco também declarou na entrevista que acredita que terá um pontificado curto e que está disposto a renunciar, como seu antecessor, ao invés de permanecer no cargo pelo resto da vida.