Dezenas de iraquianos foram mortos, esta terça-feira (17), durante uma batalha pelo controle de uma capital provincial, no meio de um levante de insurgentes islâmicos sunitas que ameaça a sobrevivência do Iraque como um Estado.
Os confrontos levaram ao fecho da principal refinaria de petróleo, provocando o desabastecimento de combustível e energia em partes do país. As forças do governo disseram ter reprimido uma tentativa por parte dos insurgentes de tomar o controle de Baquba, capital da província de Diyala, ao norte de Bagdad, com combates pesados ??durante a noite.
Alguns moradores e autoridades disseram que entre os mortos estão dezenas de prisioneiros da cadeia local, embora os relatos sobre a morte deles sejam conflitantes.
Os combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) que pretendem formar um califado com base nos preceitos sunitas medievais, nos dois lados da fronteira Iraque-Síria, desencadearam o levante na semana passada e tomaram o controle da principal cidade do norte, Mosul, e várias áreas no vale do rio Tigre, ao norte de Bagdad. Eles vangloriaram-se de ter massacrado centenas de soldados capturados durante o seu avanço.
Os militantes islâmicos contam com o apoio de outras facções sunitas, incluindo ex-membros do Partido Baath, do ditador deposto Saddam Hussein, e líderes tribais, que compartilham da revolta generalizada entre a minoria sunita do Iraque contra a opressão atribuída ao governo xiita do primeiro-ministro Nuri al-Maliki.
Os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, pediram a Maliki que envolva os sunitas na reconstrução da unidade nacional como única maneira de impedir a desintegração do Iraque.
Mas o primeiro-ministro xiita, que está há longo tempo no poder e venceu umas eleições há dois meses, está aparentemente a ir na direcção oposta, confiando mais fortemente do que nunca na seita maioritária do país, a xiita, e prometendo combater políticos da oposição e oficiais militares que ele rotulou de “traidores”.
Hassan Suneid, um estreito aliado de Maliki, disse, esta terça-feira, que a governista Aliança Nacional, xiita, deveria boicotar todo o trabalho com o maior bloco político sunita, o Mutahidoon. “Não é possível para qualquer bloco dentro da Aliança Nacional trabalhar com o Mutahidoon devido à sua recente atitude sectária”, disse ele a um canal de TV do partido de Maliki.
O avanço repentino de insurgentes sunitas está a remodelar as alianças no Oriente Médio, e tanto os Estados Unidos como o Irão dizem que poderiam cooperar contra um inimigo comum, algo sem precedentes desde a revolução iraniana de 1979.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está a ser acusado no plano interno de ter feito pouco para ajudar o Iraque desde a retirada das tropas em 2011 e está a considerar opções para uma acção militar, como ataques aéreos. Ele enviou um pequeno número de soldados extras para proteger a embaixada dos Estados Unidos, mas descartou a possibilidade de mandar tropas para o Iraque.
Refinaria
Os funcionários confirmaram que a refinaria de Baiji, ao norte de Bagdad, foi fechada e os trabalhadores estrangeiros, retirados, embora eles tenham dito que as tropas do governo ainda controlam o vasto complexo.
Com a refinaria fechada, o Iraque terá mais dificuldade na geração de electricidade e bombeamento de água para sustentar as suas cidades no verão. A refinaria estava a ser protegida por tropas de elite, enquanto a cidade vizinha era em grande parte ocupada pelos combatentes do EIIL, na semana passada.
A refinaria de Baiji continuou em operação no meio de anos de guerra civil e enquanto as forças dos Estados Unidos estavam no país. A ameaça recente mostra como o Iraque está muito mais vulnerável agora aos insurgentes do que antes de os EUA retirarem as suas tropas em 2011.