Esta quarta-feira, o governo representado pelo ministro dos Combatentes manteve um encontro com os desmobilizados, uma delegação de pouco menos de dez membros chefiada por Hermínio dos Santos, presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique que viu uma vez mais a insensibilidade dos governantes perante as suas preocupações.
A reunião mediada pela Comissão Técnica Interministerial (CTI), durou cerca de quatro horas de tempo, no entanto, Hermínio dos Santos e companhia, convencidos de que do encontro veriam o vislumbre de uma luz verde para a solução dos problemas que apoquentam os desmobilizados de guerra filiados à sua organização, disse que o governo ainda não está a levar a sério este caso.
“Na quarta passada 26, no encontro com o ministro dos Combatentes, dissemos que dentre vários assuntos a serem debatidos, a audiência com o chefe de Estado ou primeiro-ministro era o mais importante. Mas, hoje o governo voltou a fazer ouvidos de mercador, não validou a nossa pretensão”, conta para depois acrescentar que uma vez fracassado o encontro, os desmobilizados de guerra próxima terça-feira, vão amotinar-se nas barbas do Gabinete do Primeiro-Ministro, no centro de manutenção física António Repinga, lugar por eles tido como a sua base, aliás foi onde fizeram a primeira manifestacao pacífica, embora sob um forte cordão policial mobilizado pelo governo.
Dos Santos reiterou que enquanto não falarem com o presidente da República ou primeiro-ministro, as manifestações não vão parar, “já cansamos de ser enganados por este governo, não podemos tolerar mais isso, a tal comissão interministerial que esta á intermediar as negociações, não passa de um fiasco e manobras dilatórias do governo, comenta ajuntando que “o objectivo central destas manifestações, é exigir 12 mil meticais para cada desmobilizado de guerra, ex-miliciano, órfãos e viúvas dos desmobilizados e o enquadramento dos milicianos nas fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique ou na Polícia da República de Moçambique.
Os 12 mil meticais em reivindicação são uma espécie de semi-reforma, pois o ideal era que o governo pagasse uma pensão de 25 mil meticais por desmobilizado. Não aceitamos um valor abaixo deste”.
Terminado o encontro, o ministro dos Combatentes, Mateus Kida, não falou à imprensa, encarregando para o efeito, o inspector-geral do seu pelouro, Zacarias Cornélio Sumail, este que afirmou que o objectivo do encontro era que os desmobilizados se fizessem à mesma mesa com a Comissão Técnica Interministerial (CTI).
“No encontro do dia 26, concordámos que este grupo de desmobilizados arrolasse os seus problemas e preocupações para que o CTI juntamente com a direcção do Ministério dos Combatentes, para se poder um estudo minucioso dos mesmos problemas e, procurar possíveis soluções para os mesmos”, afirmou. Sumail acrescentou que ficou acordado no encontro desta quarta-feira, que doravante as partes vão manter negociações periódicas até que se encontre um consenso.
Entretanto, o inspector-geral do ministério dos Combatentes, não vai aproximar nem o chefe de Estado, nem o primeiro-ministro aos desmobilizados, “nós vamos apenas encaminhar as preocupações deles ao presidente da República, já caberá a ele, agendar um encontro com os desmobilizados”, acrescenta.
As manifestações voltam à carga
Os desmobilizados de guerra não arredam pé, custe o que custar, querem falar com o chefe de Estado ou pelo menos com o primeiro-ministro, algo que a não acontecer, as manifestações vão continuar. Mais uma vez, próxima terça-feira, o governo vai ter de “conviver com os combatentes descontentes”, a escassos metros do Gabinete do Primeiro-Ministro, numa manifestação que deve ser vista como pacífica.
Hermínio dos Santos disse que desde a semana passada tem estado juntamente com o porta-voz dos seu fórum, a receber ameaças de morte via telefone, por cidadãos que dizem ser membros de outras associações dos desmobilizados e outros fazem-no sob o anonimato.
“Na minha zona já começam a circular pessoas estranhas, o que não está longe da hipótese de que podem ser agentes da SISE e membros da PRM vestidos a paisana, tudo isto para acabarem com a minha vida. Quem não deve, não teme, eu vou continuar a defender e reivindicar abertamente os direitos, anseios e interesses dos desmobilizados de guerra, ora desprezado pelo governo e há 19 anos que não recebem as suas pensões”, assegura.