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“Desde que esta doença eclodiu venho fazendo viagens entre Moçambique e Malawi, em nenhum momento fui submetido a testes” de covid-19, camionista no Corredor de Nacala

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Mais de 1 ano após a eclosão da pandemia e mesmo depois do Governo de Filipe Nyusi haver embolsado milhões de dólares dos Parceiros de Cooperação nenhum dos milhares de recenseados no Município de Nacala-Porto beneficiou do fundo da Acção Social para as famílias mais pobres. “Apanhei covid, fui corrida do mercado” lamentou Muanacha Cândido, uma viúva que chefia um agregado de nove pessoas. Outro dos focos da pandemia na Província de Nampula é a cidade portuária onde os seus principais clamam pela vacina. “Desde que esta doença eclodiu venho fazendo viagens entre Moçambique e Malawi, em nenhum momento fui submetido a testes” de covid-19, confidenciou ao @Verdade Manuel Santos, um camionista de longo curso no Corredor de Nacala.

Havia apenas um caso positivo da covid-19 em Moçambique quando o Executivo de Nyusi pediu aos Parceiros de Cooperação 700 milhões de dólares norte-americanos para mitigar o impacto económico e social da pandemia, decorrido 1 ano entraram nos cofres do Estado 624 milhões de dólares dos quais 38,9 milhões de dólares foram destinados ao apoio social aos mais carenciados.

“Fui alistada no âmbito do fundo de coronavírus, mas as autoridades locais já não falam desse dinheiro” revelou ao @Verdade Pia Mariamo, residente no bairro de Muanona na autarquia de Nacala, e uma das 112.052 chefes de agregados familiares mais pobres recenseados pelo Instituto Nacional de Acção Social para receberem 9 mil meticais de apoio para não morrerem à fome por causa da pandemia.

A sexagenária é uma dos milhões de moçambicanas que sobreviviam através da venda em mercados, porém as medidas de prevenção da covid-19 impostas pelo Governo obrigaram-na a parar. “Vendia peixe frito que adquiria na praia local, preparava e tinha como clientes os vendedores do mercado central na zona alta da cidade e os lucros davam para alimentação da sua família e assegurar que as crianças frequentassem a escolas. O encerramento das praias e novo horário para o mercado baixou o negócio”.

Muanacha Cândido é viúva e chefe de agregado familiar constituído por nove pessoas, também foi recenseada pelo INAS para beneficiar-se do fundo social para os mais carenciados. Recorda que começou a sentir-se doente mas só após vários dias foi ao hospital onde testou positivo para o SARS-CoV2.

“Felizmente recuperei em casa mas após 14 dias de isolamento fui corrida do mercado onde obtinha o sustento da minha família. Tentei que os meus filhos continuassem o negócio mas também não foram permitidos e tivemos que trocar por outro mercado que fica mais distante”, lamenta a dona de casa que apesar das medidas de prevenção da pandemia proibirem tenta buscar o sustento num dos mercados informais da zona alta da cidade portuária.

Camionistas sugerem a realização obrigatória de testes da covid-19

Embora o comércio internacional tenha sido severamente afectado pela covid-19 na zona baixa do Município de Nacala-Porto o movimento de camiões continua a ser intenso, afinal ali funciona o 2º mais movimentado Porto de Moçambique que é a porta de entrada e saída de mercadorias de e para o Malawi e Zâmbia.

“Tenho família e residência no Zimbawe porém fico mais de 1 mês na estrada em serviço onde tenho contacto com pessoas de diversos países, as mascaras faciais e desinfecção das mãos com álcool em gel, nem sempre cumprimos com estes protocolos de saúde”, admitiu Saul Sande, camionista de longo curso que há vários anos trabalha no Corredor de Nacala.

O transportador de 52 anos de idade revelou que, por exemplo, para o acesso ao terminal de combustíveis líquidos da Petromoca, na Cidade de Nacala-Porto, “a única exigência que os homens de segurança impõem é a medição da temperatura, e mesmo acusando acima do recomendado apenas nos amostram e não há seguimento, e isto preocupa-nos”.

Manuel Santos, outro camionista de longo curso, de 52 anos de idade, reconhece o perigo que a doença representa, e é de opinião que nos acessos aos portos e nos postos fronteiriços, instalam alguns centros de testagem da covid-19, porquanto, o único instrumento disponível nas fronteiras entre estes países é os termómetros para medição da temperatura e exigência de uso de mascaras faciais, uso de álcool em gel, e em casos isolados, lavagem das mãos com água e sabão.

“Desde que esta doença eclodiu, venho fazendo viagens entre Moçambique e Malawi, e nenhum momento fui submetido a testes, e nunca me preocupei para tal, não sei se estou ou não contaminado pela covid-19, porque em algum momento tenho tido sintomas de dores de cabeça, tomo um calmante e vida contínua. A vida e profissão de motorista de longo curso, não é fácil cumprir com as recomendações, e só tememos quando chega a fase de ir a casa, porque não sabemos se não estaremos em fase de contaminar os nossos familiares”, revelou com algum desespero.

Santos confidenciou que numa das viagens por ele feita ao Malawi, na companhia do seu ajudante, chegado a empresa foi submetido a algumas análises, sem a previa informação do que se tratava, e de seguida colocado em quarentena obrigatória, “fiquei em pânico, pensei que tivesse apanhado o coronavírus, só relaxei quando me autorizaram a regressar ao trabalho”.

“Perdemos um colega devido a doença”

O nosso interlocutor recordou em meados de 2020, quando ainda não acreditava da existência desta pandemia, teve informação da morte de um colega seu de profissão, na vizinha África do sul por esta doença, noticia que deixou em pânico aos restantes colegas. “Tratando-se de motorista de longo curso, dificilmente cumprimos com as medidas, e muitos de nos exploramos diferentes rotas em diferentes fronteiras, e estamos expostos a doença, e colega morto, também esteve em algumas vezes em Nacala connosco”, por isso apelas a campanhas de testagem a todos os camionistas de longo curso.

Ademais, sem revelar a empresa, Manuel Santos, partilhou que um outro motorista de longo curso que se queixou de dores ligeiras de articulações e, enquanto aguardava por carregamento, dirigiu-se ao posto médico, onde fez o teste que veio positivo “o patrão despediu-lhe”.

“O nosso trabalho é duro, mesmo para adquirir mascaras, alguns tem saído através de dinheiro próprio, os nossos patrões não estão interessados com a saúde dos colaboradores, apenas querem resultados, mas para nós, o importante e assegurar o emprego e evitar a propagação e eventual contaminação às nossas famílias”, lamentou o experiente utente do Corredor de Nacala.

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