A seca devastadora nos Estados Unidos está a derrubar os padrões tradicionais de movimento dos cereais, com dezenas de comboios e balsas a embarcarem milho de Dakota do Norte ou de Mississippi rumo ao cinturão produtor de milho ao invés de irem para a costa do país.
Os produtores e processadores de etanol no segundo maior estado de milho dos EUA, Illinois, onde a produtividade média do cereal foi a menor em quase 25 anos, estão “a importar” milhões de toneladas de milho, um volume sem precedentes, de Dakota do Norte, que produziu uma safra recorde este ano, disseram as fontes do mercado.
O milho do norte do país está a atingir até mesmo Estados importantes de pecuária como Texas e Oklahoma.
Alguns Estados ao sul, que também foram poupados do pior da mais extensa seca em meio século este ano, estão a embarcar balsas de milho pelo rio Mississippi acima, em direcção ao interior, revertendo o fluxo normal, disseram os comerciantes.
Enquanto os embarques atípicos não são inéditos no mercado agrícola, os comerciantes dizem que a escala de mudanças deste ano é sem precedentes.
Ela está a ser estimulada tanto pela diferença dramática entre safras do Meio-Oeste afectadas pela seca e boas colheitas em Estados nas bordas do país, bem como a forte ocorrência (nos Estados do Meio-Oeste) de uma toxina natural, a aflatoxina, que pode prejudicar o gado e que não atacou tanto as lavouras do norte e do sul.
O fluxo pouco comum de cereais pode prenunciar uma corrida por ofertas de milho de qualidade nos próximos meses, com usuários finais a trabalharem com a menor colheita dos EUA em seis anos.
Próximo mês de Setembro, as quantidades de milho devem cair para apenas 5,5 por cento da demanda anual, mínimo dos requisitos operacionais.
Os deslocamentos de mercado podem beneficiar empresas de logística e grandes comerciantes, como a Cargill , que registou um aumento de quatro vezes na receita deste mês e disse que “os fluxos atípicos de comércio” devem estimular mais a demanda para a sua experiência de negociação.
As companhias ferroviárias, que já estão a colher lucros excepcionais de turbulência no mercado de petróleo, também estão a mover-se rapidamente para aproveitar a movimentação no comércio de cereais.
Mês passado, a BNSF Railway publicou taxas para serviços de transporte de Minnesota e Dakota para Illinois, rota que os comerciantes disseram estar em uso pela primeira vez. A BNSF disse que altera as taxas com base na demanda dos consumidores e condições do mercado, mas não quis fazer mais comentários.
A Canadian Pacific Railroad respondeu ao “aumento da demanda por milho das planícies do norte para ser movido a partes orientais do país”, disse um porta-voz, recusando mais comentários.
Qualidade nas margens do cinturão produtor
Sinais de aperto da oferta já estão evidentes em padrões globais de negociações, enquanto os pecuaristas norte-americanos estão a agendar compras de milho do Brasil na onda de uma alta dos custos de ração.
Estes sinais tornaram-se, porém, mais evidentes no mercado físico para cereais dos EUA desde que a colheita do Meio-Oeste começou em Setembro, escancarando um impacto desigual da seca. A produtividade média do milho em 2012 em Illinois está projectada em 98 toneladas por acre, mínima de 24 anos.
Em contraste, os produtores no cinturão de milho registaram safras recordes ou próximas do recorde, com qualidade excelente. A produção em Dakota do Norte aumentou 80 por cento, enquanto a produtividade de Mississippi saltou à máxima recorde.
“Os testes de peso são fantásticos. Nunca vimos o milho como agora nas nossas vidas”, disse David Fiebiger, gerente do Finley Farmers Elevator, em Dakota do Norte, uma unidade de transporte de carga que enviou um comboio de milho para a região Meio-Oeste.
Em Hillsboro, Dakota do Norte, Tryan Cory, gerente do Terminal de Grãos Alton, disse que apenas um dos 10 comboios carregados com milho a partir da sua instalação neste outono, com um total de 4 milhões de toneladas, ou 1 por cento da safra de milho do Estado, foi embarcado para o mercado de exportação do Pacífico Noroeste.
Normalmente, todo o seu milho é enviado para a Ásia. Tryan disse que os 9 comboios restantes estavam a ser direccionados para Decatur, Illinois e St. Louis, Missouri, entre outros destinos no Meio-Oeste.
“Tivemos a sorte de ter uma qualidade de milho e bons rendimentos que estão a ajudar a preencher o vazio do Sul”, disse Tryan.