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Demjanjuk pode ser o último réu de um crime de guerra dos nazis

Demjanjuk pode ser o último réu de um crime de guerra dos nazis

Deportado pelos EUA, o suspeito, nascido na Ucrânia, é acusado de cumplicidade na morte de 29 mil judeus no campo de morte de Sobibor.

Trinta e dois anos depois de ter sido descoberto por “caçadores de nazis”, John Demjanjuk, suspeito de ter trabalhado como guarda prisional ao serviço das SS, foi terça-feira deportado pelos Estados Unidos para a Alemanha, onde é acusado de cumplicidade no extermínio de 29 mil judeus no campo de Sobibor. Aos 89 anos, o seu estado de saúde é frágil, tornando incerta a realização do que poderá ser o último julgamento de envolvidos no Holocausto.
Terceiro na lista dos criminosos nazis mais procurados do Centro Simon Wiesenthal, Demjanjuk chegou a Munique ao início da manhã, num jacto privado, tendo sido transferido para Stadelheim, uma prisão onde esteve preso Hitler. A imprensa foi mantida à distância, mas o médico que o acompanhou contou que ele dormiu durante as oito horas que demorou o voo entre Cleveland, no estado do Ohio, e a capital da Baviera. Nas poucas imagens que os fotógrafos captaram vê-se o suspeito a ser retirado do avião numa cadeira de rodas e depois transportado para uma ambulância, sempre com auxílio respiratório.

Segundo processo

Esta foi a segunda vez que o reformado da indústria automóvel, nascido em 1920, na Ucrâni,a com o nome de Ivan Demjanjuk, foi deportado pelos Estados Unidos, onde vivia desde 1952. Em 1986, perdeu a nacionalidade americana e foi extraditado para Israel, onde dois anos mais tarde foi condenado à morte por enforcamento. Na altura, foi acusado por sobreviventes de ser “Ivan, o Terrível”, um dos mais temidos guardas de Treblinka, outro campo de extermínio criado pelos nazis na Polónia. Mas a sentença foi anulada em 1993, depois de provas fornecidas pela ex-URSS mostrarem que não era ele o visado.
Regressado aos EUA, perdeu novamente a nacionalidade em 2001. Uma investigação do Departamento de Justiça conclui que em 1942, após ter sido capturado pelo Exército alemão na Crimeia, integrou uma unidade de voluntários treinados pelas SS. Terá servido como guarda em três campos, incluindo Sobibor, e a sua função era encaminhar os deportados para as câmaras de gás, fuzilando os mais debilitados.
Demjanjuk nega as acusações, dizendo que foi recrutado pelo Exército Vermelho em 1941 e passou os anos seguintes como prisioneiro de guerra. Apesar de não existirem testemunhas que o liguem aos crimes, os procuradores americanos e alemães reuniram documentos que o identificam como o guarda prisional 1394.
Nos recursos que apresentou para travar a extradição, pedida em Março pela procuradoria de Munique, a família alegou que a viagem até à Alemanha equivaleria a tortura, tendo em conta o seu estado de saúde (sofre de uma forma de leucemia e problemas renais). Mas os serviços de imigração americanos acabaram por ganhar a batalha legal e segunda-feira, quatro dias depois de o Supremo ter recusado intervir no caso, Demjanjuk recebeu ordem de extradição.
Na terça-feira, já em Stadelheim, ouviu as 21 páginas da acusação reunida pelos procuradores alemães, que o acusam de ter participado no extermínio de 29 mil judeus, o número estimado de pessoas gaseadas em Sobibor entre Março e Setembro de 1943, o período em que ele ali terá estado. Gunter Maull, o seu advogado na Alemanha, disse que ele “pareceu compreender” o que lhe foi dito, mas explicou que caberá a um perito médico decidir se está em condições de ser julgado.

Corrida contra o tempo

“Esta é uma corrida contra o tempo”, admitiu Charlotte Knobloch, presidente do Conselho Central de Judeus na Alemanha. Também o rabi Marvin Hier, do Centro Simon Wiesenthal, entende que o suspeito “merece ser punido pelos crimes horrendos que cometeu”, apesar da idade avançada.
Para Thomas Blatt, um sobrevivente que perdeu toda a família em Sobibor, é importante ver Demjanjuk em tribunal e “ouvir o seu testemunho”. Mas para a opinião pública alemã, em especial os mais jovens, os processos contra os nazis, iniciados em 1945 em Nuremberga, pertencem ao passado. “Para ser uma catarse, este julgamento vem já tarde”, explicou à agência Reuters o professor de história Hans-Ulrich Wehler.

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