Se as camponesas tivessem mais ferramentas e recursos, entre cem milhões e 150 milhões de pessoas poderiam deixar de passar fome no mundo. Esta mensagem foi difundida por Josette Sheeran, directora executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), num encontro dedicado ao poder das mulheres rurais em matéria de segurança alimentar e nutrição, realizado no contexto da sua Assembleia Geral.
Na reunião (realizada em finais de Setembro), que contou com o patrocínio da ONU Mulheres e do PMA, entre outros vários organismos, reuniram-se organizações comunitárias e representantes do sector privado e de governos com vista a uma “nova coligação que marque a diferença”, disse Sheeran.Em Outubro acontecerá a reunião do Comité de Segurança Alimentar Mundial na sede do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em Roma, à qual se seguirá a 56ª sessão da Comissão sobre o Status das Mulheres, no próximo ano. São duas oportunidades para fortalecer o papel das camponesas no alívio à pobreza e erradicação da fome.
O director executivo da companhia Unilever, Paul Polman, destacou a nova iniciativa Project Laser Beam, na qual o PMA e dos seus sócios corporativos, DSM, Aliança Global para a Nutrição Melhorada (Gain), Kraft Foods, se reuniram para combater a desnutrição infantil em Bangladesh e na Índia.
“O programa concentra-se em mulheres, agricultura, consolidação de produtores de pequena escala, saúde, higiene e escolaridade feminina. Não me surpreende porque descobrimos, como empresários, que seguramente obteremos mais benefícios com estes investimentos do que com outros que fazemos”, disse Polman.
A ONU Mulheres e a Coca-Cola também anunciaram um acordo para eliminar as barreiras que encontram as empresárias no terreno mediante programas de capacitação e serviços financeiros. O informe sobre o estado mundial da alimentação e da agricultura 2010-2011, realizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), concluiu que quando as mulheres têm rendimentos adicionais investem mais do que os homens na alimentação, assistência médica, vestimentas e ensino para os filhos. Isto tem consequências no crescimento económico ao melhorar a saúde, a nutrição e a educação do país.
Elas costumam ter menos recursos produtivos, como educação, terra, gado, tecnologia, trabalho, serviços financeiros, entre outros, do que os homens, segundo a FAO. “Se as mulheres contassem com os mesmos recursos produtivos que os homens, a produção agrícola nos países em desenvolvimento cresceria entre 2,5%% e 4% e iria reduzir a quantidade de pessoas com fome entre 12% e 17%”, diz o informe.
“Há pessoas que não têm alimento suficiente e precisam de ajuda imediata”, disse a agricultora Anne Itto, ex-ministra interina da Agricultura e Silvicultura do Sudão do Sul. A ajuda deve ser bem dirigida para que os “alimentos não acabem no mercado local”, o que reduz os preços, destacou.
“Para quem tem capacidade e quer trabalhar a longo prazo, a primeira coisa é capacitação, fornecer conhecimento necessário e habilidades às mulheres a fim de incentivar o acesso a insumos agrícolas como sementes optimizadas e melhores tecnologia e equipamento”, afirmou Itto.
“Mas, não podem obtê-lo a menos que tenham acesso a serviços financeiros”, acrescentou. É importante relacionar as mulheres com o mercado, pois a “maioria dos grãos não pode ser armazenada mais do que dois ou três meses”, insistiu a ex-ministra.
Permitir que as mulheres solicitem empréstimos terá um impacto positivo na segurança alimentar porque poderão pagar por melhores sementes e ferramentas e produzir mais, prosseguiu Itto.
“Creio que as mulheres fizeram o seu trabalho. Agora é a vez do governo, de actores humanitários e do sector privado se associarem com elas para que possam continuar a alimentar as suas famílias, contribuindo para a construção do país”, concluiu.