A missão, de 13 dias, havia sido delineada com alguns pormenores. @ Verdade iria acompanhar, e integrar, uma equipa de pesquisa da Universidade de Oxford que em Moçambique mede o impacto e a importância dos media em processos eleitorais. O nosso Jornal, pela sua força e dimensão, foi o escolhido e duas equipas foram preparadas: Carlos Mavume, chefe operacional de distribuição, tomou a seu cargo a imensa Zambézia, enquanto que Sérgio Labistour, nosso director de distribuição, se responsabilizou pelo norte do país, varrendo, literalmente, Cabo Delgado. Para além de acompanhar os pesquisadores, estava também em causa promover a expansão d’@Verdade através da abertura de novas linhas de distribuição.
A caravana pernoita naquela terra que faz a ligação à histórica ilha do Ibo e, de novo, pela manhã seguinte, parte para Macomia onde teria lugar a segunda distribuição e onde a aguardavam difi culdades de alojamento e alimentação. Mocímboa da Praia é a etape seguinte e são muitos os quilómetros a vencer. A longa estrada vai recebendo os Toyotas que levam os pesquisadores e @ Verdade que as populações, mais do interior, vão conhecer e ter nas mãos.
É com essa ansiedade que chegam a Nova Zambézia e fazem paragem numa escola primária, ponto de ensino, ponto de cultura naquele Cabo Delgado imenso. O estabelecimento enfrenta a realidade atroz de ter um abandono escolar acentuado. No entanto, ainda regista uma frequência de 600/700 alunos. Professora e director recebem @ Verdade, olham o jornal, admiram as cores e percorrem as notícias.
Estamos em período de campanha eleitoral e os pesquisadores registam e questionam, pelo inquérito de que são portadores, e são eles próprios testemunhas do efeito provocado pelo nosso Jornal naquele local inóspito de Moçambique. A missão d’@ Verdade era real, estava a ter sentido e a provocar o resultado e o interesse procurado pelos pesquisadores.
No Moçambique profundo
Mocímboa da Praia, o ponto mais ao norte, era o destino programado e foi naquela cidade que dedicaram dois intensos dias de trabalho, de pesquisa e de divulgação. Mocímboa, pode dizer-se, tomou @Verdade como sua tal o interesse e admiração manifestado pela população ao receber um exemplar do nosso jornal. E porque se estava no Moçambique profundo, tudo era possível acontecer por muito irreal que fosse ou parecesse. Sérgio Labistour conta, ainda com alguma admiração, o acontecido naquela manhã em que gritos e dois tiros se fi zeram ouvir.
Seriam cerca das seis horas quando um leopardo desceu à cidade provocando o pânico nas ruas. Primeiro, o medo instalou-se e só depois os mais afoitos foram ver o que estava a acontecer. O felino, após atacar e ferir duas mulheres, em plena zona urbana, seria abatido com dois tiros certeiros da polícia. Porque era um facto quase surreal e porque @ Verdade estava lá e viveu o momento, fomos autorizados a fotografar para podermos dizer aos leitores que até em plena cidade de Mocímboa da Praia se matam leopardos.
O planalto dos Makondes era agora a próxima etapa dos pesquisadores e do nosso Jornal. Mueda iria ficarnos em caminho e ver-nos passar já que o destino era o distrito de Muidumbe. Mesmo fora dos 40 locais previamente programados de interese para os pesquisadores ( e havia 10 nos quais @ Verdade tinha atenção particular) a passagem da caravana despertava interesse em receber um só jornal que fosse. Em muitos locais, as populações estavam a ver, pela primeira vez, um orgão de informação escrita e, mais importante do que isso, um jornal gratuito que lhes proporcionava leitura.
Foram tantos os momentos vividos que se testemunharam as mais diferentes reacções. Visitada e trabalhada que estava Muidumbe, pela estrada estreita e por vezes irregular, de terra batida, desceram rumo, de novo, a Macomia para uma merecida pernoita e, no dia seguinte, o raiar do sol encontrou-os já por terras de Nacate e Nacaramo, a caminho de Montepuez. Naquela cidade, quando a população “descobriu” que @ Verdade estava a ser distribuída, de graça, a comunicação passou célere e todos os meios serviram para acorrer ao local para receberem um exemplar.
Sérgio Labistour, de missão cumprida, regressaria, no dia seguinte, a Pemba de onde as linhas aéreas de Moçambique o trouxeram de volta à Redacção. Para trás haviam fi cado treze dias de trabalho, de aventura e de emoção por ter vivido e participado numa experiência, quiçá, única na vida. Comungou com as populações do norte, concretamente com as que sabem que existe um mundo apenas pela mensagem radiofónica que lhes possa chegar ou quando alguém por ali passa numa qualquer campanha.
“Encontrámos um país necessitado de bens essenciais mas também ávido de cultura, com fome de leitura e com sede de conhecer o mundo que @ Verdade lhes foi levar. O interesse pelo jornal foi enorme”, garante. Representando @Verdade, Sérgio deixou abertas novas rotas de distribuição que vão já ser assumidas mas, fundamentalmente, trouxe com ele, gravadas de forma indelével, um sem fi m de histórias e de momentos sentidos, que atestam como o Jornal @ Verdade passou a ser muito mais esperado e desejado por todo aquele Moçambique profundo. Cumprir esse objectivo será agora, mais ainda, e sempre, a nossa missão.