Ao contrário de idosos que optam pela mendicidade nos centros comerciais e nas ruas devido à falta de condições básicas de sobrevivência, há quem, de maneira incansável e digna, procura sustentar a sua família. Albisto Álvaro, de 56 anos de idade, é exemplo disso. Ele dedica-se ao transporte de pessoas numa canoa, de uma margem para outra do rio Cune, localizado no posto administrativo de Nante, distrito da Maganja da Costa, província da Zambézia. Por dia, em média, ele chega a ganhar mil meticais.
Albisto Álvaro dedica-se a esta actividade desde Outubro de 2013, período que desabou a ponte do rio Cune, que ligava a sede do posto administrativo do Nante à localidade de Moneia, que dista aproximadamente 30 quilómetros da vila-sede do distrito da Maganja da Costa. A ponte caiu quando um camião da empresa de telefonia móvel Movitel, transportando equipamento para a montagem de antenas, passava sobre ela.
O rio Cune é um afluente calmo (turbulento no período chuvoso) e, por vezes, tem provocado inundações na localidade de Moneia, bem como na vila-sede do Nante. Desde que desabou a ponte metálica que facilitava a circulação de pessoas e bens, Álvaro optou por colocar uma pequena embarcação que está a facilitar a passagem das pessoas de uma margem para outra e vice-versa. Antes de começar a actividade, o idoso conta que se dedicava à sua pequena machamba de arroz.
“Quando cheguei ao local, encontrei muitas pessoas aflitas nas duas margens do rio, pois não tinham meios de como atravessá-lo. Tive a ideia de trazer esta minha embarcação para este lugar”, conta. O nosso interlocutor disse que, no primeiro dia, o seu objectivo era apenas ajudar as pessoas, razão pela qual não cobrava nenhum valor pela travessia. Mais tarde, surgiu a ideia de ganhar dinheiro e, consequentemente, garantir o sustento da sua família composta por oito membros. Depois da decisão, no dia seguinte, ele retomou a actividade e estipulou o valor de cinco meticais por cada indivíduo.
Diariamente, Álvaro amealha entre 750 e mil meticais, valor que é usado na compra de produtos alimentares para o sustento do seu agregado familiar, além de investir na sua pequena horta. Os alunos e os professores que usam a embarcação para os seus postos de trabalho viajam de forma gratuita. Esta medida é levada a cabo a pedido do governo da localidade. O dia de Álvaro começa muito cedo. Às 4h00, ele já se encontra no seu “novo posto de trabalho”, e só abandona o local às 19h00. O idoso refere que abraçou aquela actividade por falta de ocupação.
“Com a machamba não conseguia sustentar a minha família, razão pela qual, às vezes, me dedicava à pesca”, diz acrescentando que com este novo ofício a produção da sua horta aumentou nos últimos tempos. Com o dinheiro que amealha diariamente ele conseguiu adquirir uma nova canoa, tendo-a colocado no mesmo local para facilitar a travessia das pessoas.
As embarcações estão, de certa forma, a ajudar os residentes daquela localidade que necessitam de alguns serviços básicos na vila-sede. Refira-se que o povoado não possui posto de saúde. Todas as manhãs nota-se um elevado número de indivíduos que saem do povoado de Moneia para a vila-sede do posto administrativo do Nante. Além da canoa de Álvaro, existem também outras pessoas que optaram por colocar as suas embarcações como forma de aliviar a pobreza. Os proprietários desses pequenos barcos fazem daquele local um ponto de sobrevivência. Com o desabamento da ponte, agravou- se o custo de vida da população de Moneia.
A título de exemplo, um saco de 25 quilogramas de farinha de milho que antes custava 520 meticais, presentemente é comercializado por 700 a 750 meticais. O @ Verdade conversou no local com alguns moradores da localidade e eles mostraram-se preocupados com a lentidão dos trabalhos de reposição da ponte naquele rio. Quando a pequena ponte tombou, a empresa Movitel recolheu os ferros e deixou-os nas margens. Desde 2013 até à data nada foi feito.
Grito de socorro
A população da localidade de Moneia, posto administrativo de Nante, pede socorro devido à situação por que está a passar. Os populares exigem a reposição da ponte que desabou há sensivelmente um ano. Antonieta Pedro, residente daquele povoado, disse que a situação se torna preocupante durante a noite, uma vez que não há travessia nesse período. Algumas mulheres grávidas acabam por dar à luz em casa. “Desde que a ponte caiu, estamos a passar mal, o custo de vida aumentou. Estamos a pedir para que vejam este problema o mais rápido possível”, apelou.