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Cultivo da jatropha progride sem comprometer a segurança alimentar no país

O fomento da Jatropha, uma planta cuja semente é usada para a produção de biocombustível, está a ganhar espaço em várias regiões de Moçambique. Em algumas dessas regiões não há nenhum sinal, imediato, de promoção da insegurança alimentar no seio das populações onde esta oleaginosa é cultivada.

Exemplo disso vem dos distritos de Búzi e Chibabava, na província de Sofala, Centro do país, locais que albergam projectos de cultivo da Jatropha.

Nestes distritos é notória a satisfação das populações envolvidas no cultivo da Jatropha porquanto isso ocorre, por exemplo, em áreas outrora não cultivadas e sem aproveitamento económico.

As empresas que fomentam ou cultivam esta oleaginosa estão também a criar emprego, a assistir tecnicamente aos camponeses na produção de culturas alimentares, cobrindo os locais onde os extensionistas rurais públicos não chegam, para além de abrirem novas vias de acesso, entre outros benefícios.

Fernando Chadiwa, um camponês de 52 anos e residente na localidade de Bandua, distrito do Buzi, diz estar determinado a aumentar a área em que cultiva a Jatropha.

Actualmente, ele cultiva a Jatropha em 1,5 hectares contra os cerca de dez (10) da sua meta. Chadiwa faz parte de um grupo de cerca de 300 associados que cultivam a Jatropha que é, posteriormente, vendida a GalpBúzi.

“Vou aumentar a área pouco a pouco porque, para além da Jatropha, cultivo o milho, o tomate, o gergelim e o arroz. Também crio animais. A venda da Jatropha nos proporciona alguma renda que aplicamos em outras necessidades”, disse Chadiwa, frisando que “é bom que as empresas fomentadoras continuem a comprar a nossa Jatropha, e a nos assistirem no melhoramento das técnicas de produção desta cultura e das alimentares ”.

Ele acrescentou que a Jatropha não lhe rouba tempo, diferentemente de outras culturas, principalmente as alimentares, por requererem maior cuidado.

“Uma vez plantada, a Jatropha cresce e dá frutos por cerca de 20 anos, precisando apenas de uma simples sacha que pode ocorrer uma única vez durante um grande intervalo de tempo”, declarou a fonte, acrescentando que a sua família se dedica a Jatropha depois de trabalhar nas machambas de culturas alimentares.

Um grupo de Jornalistas de parte de órgãos de comunicação social que escalou, esta semana, alguns projectos de produção da Jatropha, desenvolvidos pela GalpBúzi, no distrito de Buzi, e pela empresa Niquel, em Chibabava, questionou aos respectivos técnicos sobre como é que conseguem garantir que as populações não descurem a produção alimentar, perante uma nova cultura que se destaca na produção de energias renováveis.

João Gomes, da GalpBuzi, que considera “não nociva” a produção da Jatropha, disse que os cerca de 90 trabalhadores (dos quais 60 sazonais) têm um determinado tempo que lhes é atribuído para se dedicarem as suas machambas.

Enquanto isso, a Niquel limita a um máximo de dois elementos da mesma família que têm o direito a emprego no projecto de produção da Jatropha para garantir que os outros membros se dediquem a culturas alimentares.

A Niquel, com 200 trabalhadores permanentes e setenta sazonais, já possui cerca de mil e quinhentos hectares plantados, contra 7.500 hectares previstos no respectivo DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento da Terra).

Quanto as alegações segundo as quais o cultivo da Jatropha proporciona a infertilidade dos solos, Gomes, tal como Heinrich Van Der Merwe, um engenheiro agrónomo da Niquel, afirmaram que qualquer cultura “produzida intensamente” pode empobrecer o espaço em que a mesma é cultivada.

De acordo com Merwe, o que é necessário é a observação de alguns princípios agropecuárias como é o caso da rotação de culturas. João Gomes disse ainda que é mais nocivo à segurança alimentar produzir um determinado biocombustível a partir de culturas alimentares, como o milho, do que com recurso a Jatropha.

Enquanto isso, segundo Merwe, não é política da Niquel apropriar-se das áreas ocupadas pelas populações para o cultivo da Jatropha. Pelo contrário, segundo Ele, o projecto da Niquel está a ajudar as populações onde a empresa está instalada.

“Quando o projecto começou (por volta dos anos 2008/09) não havia praticamente nenhuma via de acesso aqui (localidade de Gudja). Mas garças ao nosso projecto, a via que os jornalistas usaram para aqui chegarem foi aberta por nós. Hoje as mesmas vias são usadas por empresas de comercialização agrícola e mesmo por madeireiros”, disse Merwe.

Por outro lado, segundo a mesma fonte, graças aos salários pagos aos trabalhadores do projecto da Niquel foi possível se minimizar, esta época, o atraso das chuvas. “As chuvas chegaram tarde mas o seu impacto é reduzido porque as famílias têm outras formas de rendimento: O salário”, afirmou.

Os trabalhadores da Niquel auferem um salário liquido que parte de um mínimo de 1.950,00 meticais a aproximadamente 12 mil meticais. Armando Mulewa, um líder comunitário de Gudja, disse que muita coisa está a mudar com a entrada do projecto da Niquel naquele ponto do país.

“No fim do mês tenho um salário e ainda conto com a machamba e os animais. A pobreza não pode ser combatida de uma única maneira. Agora temos mais do que uma forma de acabar com este mal”, avançou.

Numa outra perspectiva, Heinrich Van Der Merwe garantiu que nunca houve nenhum conflito de terras na região onde a Niquel opera porque, para além do bom relacionamento com as populações, a própria politica do Governo moçambicano não prevê atribuir uma mesma área para a produção comercial e familiar.

Merwe disse ainda que não obstante a empresa não fomentar o cultivo da Jatropha pelos camponeses, a Niquel tem certeza de que, num futuro não muito distante, vai comprar a semente de Jatropha que está em poder de algumas populações locais.

Diferentemente da GalpBuzi, que para além de ter um número “reduzido” de hectares de Jatropha, já que apostou no fomento e compra nos camponeses, a Niquel está a avançar em grandes plantações que deverão justificar a implantação de uma unidade de processamento.

Mesmo assim, a Niquel garante que vai comprar a produção de todos os camponeses logo que a respectiva unidade de processamento entrar em acção.

O início da instalação desta unidade poderá arrancar ainda no presente ano. No que tange ao possível derrube de espécies nativas para dar lugar a plantação da Jatropha, Merwe reconheceu que este é um problema que pode ocorrer.

Porém, ele levou o grupo de jornalistas para um viveiro desenvolvido pela Níquel visando o repovoamento de espécies nativas como é o caso de Panga Panga, Chanfuta, Umbila, entre outras.

Os biocombustíveis são um contributo importante para a redução dos níveis das emissões do dióxido de carbono provocados pelos combustíveis de origem fóssil. Por outro lado, os biocombustíveis têm vindo a polarizar acessos debates, desde 2005/06, aquando da crise mundial que levou a uma subida vertiginosa dos preços dos combustíveis fosseis.

Contudo, até a estas alturas, prevalece um certo cepticismo quanto a contribuição do biocombustível no melhoramento das condições de vida das comunidades, preservação da diversidade biológica e promoção do desenvolvimento económico local.

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