Um estudo de 2013 de grande repercussão que concluiu que diferentes formas de felicidade estão associadas a padrões dramaticamente diferentes de actividade genética está gravemente equivocado, de acordo com uma análise publicada, esta segunda-feira (25), que criticou o levantamento com uma linguagem raramente vista nos jornais científicos.
O novo estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, repudia a pesquisa por suas “análises dúbias” e “metodologia equivocada” e afirma que “conjurou efeitos inexistentes do nada”.
No levantamento de 2013, os pesquisadores pediram a adultos para responderem a um questionário de 14 artigos que os dividiu em dois grupos: interessados no bem-estar hedonista (divertimento e prazer egoísta) ou no bem-estar eudaimônico (que conduz a uma vida com propósito).
Os dois grupos, segundo os pesquisadores liderados pela psicóloga Barbara Frederickson, da Universidade da Carolina do Norte, exibiram padrões diferentes de actividade em 53 genes. Os hedonistas mostraram actividade de DNA semelhante à de pessoas que sofrem de estresse crónico induzido por doenças.
Os genes relacionados com o estresse, incluindo aqueles envolvidos em inflamações, ficaram hiperactivos; os genes relacionados à fabricação de anticorpos que combatem as inflamações, o oposto.
Aparentemente, os hedonistas tendem a uma existência repleta de doenças e a uma morte precoce, como a mídia alertou em reportagens com manchetes como “Propósito é mais saudável que felicidade”.
A afirmação chamou a atenção de Nick Brown, britânico que trabalha com tecnologia da informação e tornou-se um aplicado crítico amador do que vê como análises estatísticas sofríveis em pesquisas psicológicas.
Quando ele e colegas seus dissecaram o estudo de 2013, encontraram inúmeros problemas, afirmou. Um deles é que os autores não foram capazes de detectar que pessoas com padrões de actividade genética específicos no sistema imunológico podiam estar gripadas quando foram testadas.
Mais sério que isso, declarou Brown, é que o questionário estava equivocado. Pessoas que fizeram muitos pontos em três artigos que deveriam identificar hedonistas pontuaram igualmente bem em 11 questões do perfil eudaimónico.
Ainda mais devastador foi o que aconteceu quando Brown agrupou os artigos aleatoriamente, chamando aqueles que tiveram pontuação alta nas questões 1, 7 e 8 (ou qualquer das 8.191 outras combinações) de um tipo de pessoa e aqueles com pontuação alta noutras questões doutro tipo.
Mesmo com agrupamentos tão absurdos, havia padrões de actividade genética aparentemente característicos de cada grupo. Em resposta a Brown, Frederickson e o coautor Steven Cole, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, rejeitam a crítica e afirmam que os seus achados de 2013 repetiram-se numa nova amostra de 122 pessoas.