A presidente argentina, Cristina Kirchner, e o seu marido, o ex-chefe de Estado Nestor Kirchner, perderam cadeiras nas duas câmaras do Congresso nas eleições legislativas deste domingo, de acordo com pesquisas de boca-de-urna.
Segundo pelo menos cinco pesquisas, o partido no poder perdeu cadeiras nas duas câmaras, mas o movimento de Cristina Kirchner venceu por pouco na província de Buenos Aires (centro-leste). Assim, o “Casal K” pode perder o controle do Congresso pela primeira vez desde que assumiu ao poder. Nestor Kirchner foi presidente da Argentina de 2003 a 2007.
“O partido no poder pode perder sua maioria na Câmara dos Deputados, com seis cadeiras a menos para a província de Buenos Aires”, onde votam 40% dos eleitores, declarou na televisão o especialista em política Rosendo Fraga, citando pesquisas de boca-de-urna realizadas por seu instituto, o Nova Maioria. Muitos argentinos foram às urnas com máscaras de proteção contra a gripe suína, que já deixou 26 mortos em todo o país, para renovar metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço das cadeiras do Senado.
“Escolhemos entre dois modelos”, declarou Cristina Kirchner depois de votar em Rio Gallegos, 2.800 km ao sul de Buenos Aires. Dizendo-se “otimista”, o líder do partido peronista, Nestor Kirchner, candidato a deputado na província de Buenos Aires, considerou que “a Argentina vive um momento crucial”. A briga está acirrada entre Kirchner e seu principal adversário, Francisco De Narvaez, que simboliza a volta das ideias neoliberais do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) no partido peronista. Ganhar na periferia de Buenos Aires permitiria ao ex-presidente relativizar uma eventual derrota no Congresso.
Apesar de ter nascido na Patagônia (extremo sul), Kirchner conta com os subúrbios pobres da capital para fazer a diferença. Nestor Kirchner sabe que seu partido está em uma situação difícil nas principais cidades (Buenos Aires, sempre anti-peronista, Rosario e Cordoba, ligadas ao mundo rural) e nas áreas rurais. A oposição representa 70% do eleitorado, contra 30% para o partido no poder.
Contudo, ela é dividida entre peronistas de direita decepcionados com o “Casal K”, sociais-democratas, socialistas e movimentos minoritários de esquerda. Já os agricultores querem fazer pagar a Cristina Kirchner seu conflito com o mundo rural. A decisão do governo de aumentar de repente em 25% a taxa à exportação da soja, principal riqueza do país, paralisou a Argentina durante seis meses no ano passado.
O conflito abalou duramente o prestígio da presidente, cuja popularidade caiu de 55% para menos de 30%. Nestor Kirchner exagerou a importância desta eleição, advertindo para “um retorno ao caos de 2001”, a pior crise econômica da história da Argentina. “É uma escolha entre a volta ao passado e a consolidação de um projeto nacional”, proclamou o marido da presidente, que defende as nacionalizações.
Pela primeira vez, o “Casal K” chega às eleições em um contexto econômico desfavorável. Segundo os economistas, que contestam os números divulgados pelo governo, a Argentina entrou em recessão.